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Mostrando postagens de março, 2014

31 de março: Do nacional ao pessoal

A essa altura não há mais ninguém que não saiba o que essa data representa. Que foi naquele 31 de marca de 1964 que mais um período convulsionado da República brasileira culminou em quebra da ordem institucional e num governo de Generais-Presidentes que duraria vinte e um anos. A constante interferência militar na vida política nacional foi um fato duradouro em nossa vida republicana, desde a Proclamação da República, com um golpe de Militares e Cafeicultores poderosos contra o Imperador Pedro II até o final do chamado Regime Militar que começou no movimento de 64. Essa constante interferência pode ser observada numa lista concisa de eventos de revoltas militares, motins e golpes que foi elaborada pelo general da reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva: - Em 1922, ocorreram levantes em quartéis da Vila Militar, Escola Militar do Realengo e no Forte de Copacabana, este último passando à história como o episódio dos “18 do Forte”. - Entre 1924 e 1927, sucessivas revoltas, principa

Diários de Política: A Batalha de Boehener

Diários da Política é coluna* de Márcio Coimbra** John Boehner, republicano que dirige a Câmara, já sentiu que sua liderança é contestada dentro do partido. Nos corredores do Capitólio escuto os deputados falarem abertamente sobre sua substituição depois das eleições legislativas deste ano. O adversário até já se apresentou. Eric Cantor é considerada aposta certa para o lugar mais importante do Congresso. Os motivos para Boehner estar sendo rifado por seus pares é simples. Muitos não gostam de seu posicionamento mais pragmático e negociador. Apesar de muitas vezes ser inflexível, quando necessário ele sabe ceder pelo bem do país, afinal existe um limite razoável para tudo, entretanto, muitos dos seus colegas não concordam com isso, buscam um posicionamento mais assertivo e agressivo em relação aos democratas. A liderança na Câmara é o cargo mais importante do Congresso, uma vez que o Senado é presidido pelo Vice-Presidente dos Estados Unidos e por lá acaba mandando quem tem maio

Uma frase e um aviso aos coletivistas

Coletivista é aquele que crê que os interesses das abstrações sociais (classe, raça, gênero, etc.) são mais importantes que o individuo. Em geral, eles tratam o individuo como algo que deve ser enquadrado em padrões de desejos e comportamentos que seriam definidos pela estrutura coletivista que pertenceriam. O coletivista julga está fazendo o melhor para humanidade e geralmente tem um horizonte utópico arrebatador, basta ver as duas maiores expressões do coletivismo no século XX (Socialismo e Fascismo), para identificar as tendências que descrevo. Para os adeptos do coletivismo, que não duvidem é um conceito muito difundido e influente, o pior comportamento humano possível é o individualismo, pois para eles o individuo nada mais é que um ente a serviço da causa. E a causa é sempre nobre, os comunistas tomaram o poder para realizar a justiça social plena e com um horizonte utópico desses o que são alguns milhares de “alienados” mortos ou encarcerados? Quem ousa pensar diferente é u

IPEA, estupro: Uma pesquisa aterradora

UPDATE 4 DE ABRIL: O diretor da Área Social do IPEA pediu exoneração por que os dados da pesquisa estavam GROSSEIRAMENTE errados. Como pode ser visto nessa nota da Folha de São Paulo . A verdadeira falsificação dos dados, contudo, não diminui a importância do combate ao hediondo, vil e bárbaro crime do Estupro. ---------- Eu, tal qual uma boa parte da população brasileira, fiquei embasbacado, em choque mesmo, com os resultados encontrados pela pesquisa: “ Tolerância social à violência contra as mulheres ”, principalmente com o percentual amplamente divulgado de “concordância” que vestimenta e comportamento facilitam e justificam o estupro. A pesquisa é parte de um esforço continuo do IPEA para “ captar a percepção das famílias acerca das políticas públicas implementadas pelo Estado, independentemente destas serem usuárias ou não dos seus programas e ações ” e possui na formulação de seu texto de análise uma linguagem surpreendentemente, para mim, próxima a dos ativistas, mas a

Brasil e Venezuela: Algumas observações

Diplomacia não é uma atividade simples e isso explica o rigor das avaliações para ascender ao serviço exterior brasileiro. Os estudantes que se preparam para o temido e sonhado CACD sabem do que falo. E o caso Venezuelano demonstra bem as dificuldades de uma política externa. A Venezuela é uma nação vizinha e uma parte do território brasileiro em sua região norte é bem ligada a esse país e como é o caso de quem divide fronteiras é preciso cooperação. Além disso, a Venezuela é um aliado formal e parceiro em vários arranjos regionais, notadamente Mercosul e Unasul. A proximidade ideológica entre os governos brasileiros e venezuelanos resultou numa parceria ainda mais profunda com investimentos mútuos e muitos atos de voluntarismo de parte a parte. Isso coloca a diplomacia brasileira numa “sinuca de bico” por que os diplomatas sabem, embora a maioria não vocalize isso, que a situação na Venezuela está bem deteriorada e que a saída menos custosa para a região e para os venezuelanos

A diplomacia do Brasil, por Francisco Seixas da Costa

Nas páginas desse Coisas Internacionais tento gerar meu próprio conteúdo em parte por que creio firmemente que é na autopublicação que reside a maior força da mídia blog, mas também por um toque de vaidade e claro com responsabilidade para não disseminar desinformação e nem “queimar meu filme” se me permitirem ser totalmente franco. Não raro acabo por transcrever textos aqui que complementam o esforço de reflexão e aprendizado público que é esse blog e são textos que considero importantes não só como subsídios para meu próprio pensamento, como fomentam a discussão informada acerca das coisas do mundo. E em alguns casos são textos que transcrevo com consternação por não ter sido capaz de formalizar essas análises com a fluência e capacidade dos autores. Às vezes isso é por falta de formação técnica para isso, como nos textos do Masueto, outras por faltarem as fontes de informação privilegiadas como nos textos do Stratfor, ou também por faltar em mim o rigor nos estudos e a produtivid

Rebaixamento da nota brasileira por Mansueto Almeida

Mansueto Almeida comenta, com propriedade, sobre o rebaixamento da nota brasileira pelas agências de rating. O Blog do Mansueto é de uma qualidade ímpar que deriva do forte lastro técnico dado a cada postagem que denota a formação do autor e o profundo conhecimento prático da máquina estatal. Mansueto não escreve pra hostilizar ou polemizar, Mansueto escreve pra informar e ensinar. E nesse sentido o trecho abaixo é exemplar ao desarmar os argumentos senso comum que são usados pra tentar desqualificar as preocupações com a política econômica. “Mas o desemprego está baixo, a nossa pobreza caiu, a queda da desigualdade no Brasil foi uma das maiores do mundo nos últimos doze anos e temos hoje mais da metade da população na classe média?” Sim, mas estamos falando de superávit primário, inflação, dívida, carga tributária e crescimento. Não se está discutindo queda da pobreza. Mas se continuarmos no mesmo curso, em algum momento do debate macro pode encontrar esse outro lado até p

Brasil e Venezuela: uma advertência de Pessoa

Fernando Pessoa escreveu que todas as cartas de amor são ridículas, por que não fossem ridículas não seriam cartas de amor e algo muito parecido pode ser dito sobre o autoritarismo, ele é ridículo. Mas, não é por ser ridículo que o autoritarismo não é perigoso. Seja o autoritarismo coletivista dos revolucionários comunistas ou obsessão com ordem e nacionalismo dos regimes militares, todo autoritário é violento por natureza. Maria Corina Machado – não tenho qualquer relação de parentesco, apesar do nome parecer – deputada mais votada da atual legislatura venezuelana, eleita pela Mesa de Unidad Democrática, MUD, partido de oposição ao regime chavista foi sumariamente cassada. Qual delito ou falta administrativa grave levou a perda do mandato da deputada venezuelana? Bom, ela foi até OEA denunciar a repressão violenta do regime que ela chama de “castro-chavista”. E aparentemente isso é dá causa para a curiosa interpretação legal abaixo, do presidente do Parlamento Diosdado Cabello:

Diplomatas e os desafios do presente, por Paulo Roberto de Almeida

Um texto “must-read” do autor e diplomata Paulo Roberto de Almeida em que aborda as características de um diplomata e suas consciências e preocupações é quase um desabafo intelectual cujas causas o leitor mais sensível logo perceberá. Alongar-me nessa introdução seria produzir “spoilers” sobre o texto que vai abaixo que creio ser importante para os que militam nas ‘cousas’ internacionais. Diplomatas e os desafios do presente: ações e omissões Por Paulo Roberto de Almeida Diplomatas, antes de serem servidores do Estado, ou funcionários de algum governo, são cidadãos de um país, membros de uma nação, indivíduos possuidores de consciência individual, de valores morais, seja adquiridos em família, ou no curso de sua formação e exercidos ao longo de toda uma vida e no âmbito de suas atividades profissionais. Falar dos diplomatas enquanto pessoas significa reconhecer-lhes o caráter de cidadãos que buscaram exercer sua vocação nos assuntos internacionais do seu país. O país, por def

Diários de Política: Diplomacia Errática

Diários da Política é coluna* de Márcio Coimbra** A nova estratégia de Obama na guerra de nervos contra a Putin foi no sentido de atingir financeiramente Moscou com congelamento de ativos financeiros e estabelecimento de sanções. O Presidente americano acredita que, em sua concepção, como funcionou com os iranianos e isto os trouxe de volta para negociação, o mesmo pode acontecer com os russos. Tudo isso chega a soar ingênuo, primeiro porque há sérias dúvidas se a estratégia realmente funcionou com o Irã. Diversos especialistas em política externa divergem de Obama e dizem que na verdade seu governo deu mais fôlego ao regime dos aiatolás. Mas ele acredita piamente que entrou pelo caminho certo e abriu canais de negociações importantes que podem evitar que os iranianos cheguem ao enriquecimento de material nuclear para a construção de uma bomba. Além disso, é bom lembrar que a Rússia não é o Irã e mesmo que o Presidente estivesse tomando o caminho correto com os aiatolás, nada

Petrobras: Só mais um escândalo?

Em 2008, durante o processo eleitoral o debate caminhou para o terreno natural com os militantes do PT dando vazão as teses do partido, como é natural, sobre como seria nocivo e gravoso ao interesse nacional se o candidato oposicionista vencesse a eleição e um dos argumentos mais apaixonadamente defendidos era o de que a Petrobras, patrimônio do povo brasileiro, estaria sob ameaça. O povo brasileiro tende em sua maioria a ser bem sensível a qualquer coisa que ele identifique como espoliação da riqueza natural nacional por forças estrangeiras que podem ser reais ou imaginárias. Talvez, essa tendência que foi alimentada por anos de propagandas nacionalistas da ditadura militar seja tão enraizada como uma espécie de memória coletiva da biopirataria que pôs fim ao ciclo da borracha. Duas palavras exarcebam esse sentimento ‘Petrobras’ e ‘Amazônia’, não é por acaso que a Marinha do Brasil sempre se refere ao Mar Territorial Brasileiro e a Zona Econômica Exclusiva como “Amazônia Azul”.

Venezuela: Aplacando um incêndio com gasolina

“Feel my blood enraged It's just the fear of losing you Don't you know my name Well, you been so long And I've been putting out fire With gasoline” David Bowie O governo venezuelano conseguiu algo bem difícil que é isolar internacionalmente sua oposição, o que é demonstrável pelas notas oficiais da UNASUR e do MERCOSUR que já comentamos aqui nesse blog .  Essa manobra de isolamento dos manifestantes e para angariar apoio internacional, contudo, tem feito pouco para acalmar a situação no solo, claro que dão para o governo Venezuelano maior liberdade na repressão, mas nem os 31 mortos arrefecem os ânimos dos opositores, talvez até sirva de combustível. Os atos de força do regime e as prisões – inclusive de prefeitos da oposição – até agora não esvaziaram as ruas, por que há muita insatisfação provocada pela administração errática da economia e níveis de violência e criminalidade absurdamente altos que encontram combustível para a revolta na profund

O problema de Cuba são os EUA? Não, são os ditadores de Cuba, por Mansueto Almeida

Mansueto é voz influente em temas econômicos, principalmente os ligados as contas nacionais e gastos do governo, aliás, não só voz influente no debate como grande professor em seu blog e textos na imprensa sempre corrigindo erros factuais e apontando caminhos certos seja pra quem quer defender o governo ou fazer oposição. Nesse texto que agora transcrevo o autor faz uma leitura muito consciente da situação cubana e desarma com veemência e elegância os lugares-comuns dos apologistas da ditadura dos irmãos Castro. Postagem original, aqui . O problema de Cuba são os EUA? Não, são os ditadores de Cuba por Mansueto Almeida O artigo do eminente físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite na Folha de São Paulo desta terça feira de carnaval ( clique aqui ) é para mim um tanto quanto esquisito. Em sua defesa do programa Mais Médicos e da questão dos médicos de Cuba, o professor da Unicamp faz, na minha opinião pessoal, três grandes erros. Primeiro , tentar culpar os EUA e as sanções econôm

Rússia, Ucrânia, UE e EUA: Uma questão de profundidade, near abroad e algumas lições históricas

Putin não é um homem simpático aos olhos do ocidente, suas manobras para se manter no poder indeterminadamente frustraram a esperança global de ver o ‘fim da história’, ou posto de outra maneira frustraram as esperanças de um aprofundamento da Terceira Onda de Democratização propagada pela ruína do império soviético. A Rússia não é exatamente uma ditadura escancarada como a China, nem é uma democracia em pleno funcionamento, como o poder da presidência de nomear governadores nos mostra. Mas, simpático ou não Putin é um político habilidoso e um líder capaz de galvanizar apoio em seu país. Como político habilidoso que é o ex-oficial da KGB e FSB sempre soube cuidar da sua imagem e seu branding é o do homem forte, sério e capaz de manter a ordem, a lei e de restaurar a dignidade e grandeza russa. Em 1999, quando substitui um enfraquecido Boris Ieltsin sua relativa juventude (possuía apenas 47 anos) e seu vigor físico chamavam a atenção do povo russo habituado com líderes soviéticos ido

Crimeia: alguns pensamentos

We get so close, near enough to fight When a Russian gets me in his sights He pulls the trigger, and I feel the blow A burst of rounds take my horse below And as I lay there gazing at the sky My body's numb and my throat is dry And as I lay forgotten and alone Without a tear I draw my parting groan The trooper, Iron Maiden* A Guerra da Crimeia, entre 1853 e 1856, sepultou o sistema do Concerto Europeu de governança que consistia num sistema projetado para manter uma hegemonia coletiva no continente europeu e que se estendia as suas colônias. A confrontação na Crimeia trouxe conseqüências dramáticas em todos os participantes e serviu para exarcerbar os nacionalismos que provocaram uma corrida armamentista e culminaram na Primeira Grande Guerra. Entre outras conseqüências da Guerra da Crimeia está o fim da servidão na Rússia e a percepção de que o exército russo estava desatualizado em táticas e equipamentos, uma constatação aterradora. A Guer

Cuidado com os idos de março

Como hoje é dia 15 de março, os famosos idos de março. E com tantos candidatos a tirano pelo mundo (e alguns bem madurinhos perto de nós) a infâmia da data de hoje, que deriva do assassinato de Julio César, em 44 a.C, serve como lembrete de que a violência que eles instrumentalizam para calar opositores e maximizar poder acaba – na maioria das vezes – sendo a forma como chegam ao fim. Fica o aviso saído da pena do Bardo imortal. Caesar: Who is it in the press that calls on me? I hear a tongue shriller than all the music Cry "Caesar!" Speak, Caesar is turn'd to hear. Soothsayer: Beware the ides of March. Caesar: What man is that? Brutus: A soothsayer bids you beware the ides of March. Julius Caesar Act 1, scene 2, 15–19 _________________ Votem COISAS INTERNACIONAIS na segunda fase do TOPBLOGS 2013/2014

Duas notas sobre Crimeia, dois embaixadores separados pelo Atlântico

Tenho conduzido uma reflexão pública nas páginas desse blog acerca da crise ucraniana e a provável incorporação da Crimeia a Mãe Rússia, ainda estou elucubrando minha visão sobre o tema e como a boa metodologia sugere tenho buscado saber o que pensam outros colegas de profissão sobre o assunto, não para aderir a alguma visão, mas na busca de elementos para a construção da minha visão sobre o tema. Nutro a esperança que você distinto leitor venha até esse Coisas Internacionais no mesmo intuito. Nesse sentido transcrevo dois textos de dois embaixadores, o primeiro é uma curta nota de Renato Marques, ex-embaixador brasileiro na Ucrânia, o segundo texto é de Francisco Seixas da Costa, ex-embaixador de Portugal no Brasil, França e alhures que ao longo de sua carreira trabalhou na construção da Europa unificada que vemos hoje. A primeira nota não se pretende analítica, mas projeta cenários, o que é um passatempo muito apreciado por esses seres de diversões excêntricas que somos nós intern