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Mostrando postagens com o rótulo Política Externa

Brasil da ditadura e Iraque: Uma entrevista que precisa ser lida

Normalmente não copio textos da imprensa, mas acredito que essa entrevista tem valor didático por abrir uma porta para os bastidores da Política Externa Brasileira, no período dos choques do petróleo. É interessante notar que durante aquele tempo de forte discurso sul-sul, dizia-se “não-alinhado” de denúncia das potências estabelecidas, o comportamento brasileiro era muito parecido com o que buscava condenar, ainda que timidamente, dado as restrições objetivas daquela época. Exemplar é o caso da condenação do sionismo como racismo que foi feito para garantir o fluxo de petróleo iraquiano preço político alto pago pela ditadura em troca. O embaixador Sérgio Tutikian relata os desafios pessoais da vida dedicada às coisas internacionais e como desafios e simpatias pessoais influem na construção da política externa. Relações essas que por vezes são negligenciadas pelos analistas acadêmicos. Abaixo segue a entrevista. Muito bem conduzida pelo repórter da Zero Hora Cláudio Goldberg Rab

A diplomacia do Brasil, por Francisco Seixas da Costa

Nas páginas desse Coisas Internacionais tento gerar meu próprio conteúdo em parte por que creio firmemente que é na autopublicação que reside a maior força da mídia blog, mas também por um toque de vaidade e claro com responsabilidade para não disseminar desinformação e nem “queimar meu filme” se me permitirem ser totalmente franco. Não raro acabo por transcrever textos aqui que complementam o esforço de reflexão e aprendizado público que é esse blog e são textos que considero importantes não só como subsídios para meu próprio pensamento, como fomentam a discussão informada acerca das coisas do mundo. E em alguns casos são textos que transcrevo com consternação por não ter sido capaz de formalizar essas análises com a fluência e capacidade dos autores. Às vezes isso é por falta de formação técnica para isso, como nos textos do Masueto, outras por faltarem as fontes de informação privilegiadas como nos textos do Stratfor, ou também por faltar em mim o rigor nos estudos e a produtivid

As novas fronteiras da Rússia, por Francisco Seixas da Costa

O grande tema do momento é a crise ucraniana e o novo fôlego que o velho urso russo parece demonstrar, é claro, que esse renascer russo já vinha sendo ensaiado há um bom tempo, mas agora é uma realidade que precisa ser compreendida e levada em conta por qualquer analista de Relações Internacionais. Hoje, trago mais um elemento de reflexão acerca da ação russa é um texto que tem uma década de idade , mas que é não só atual, como traça cenários de maneira serena, o que é muito bem vindo nesse momento em que verdadeiros delírios conspiratórios são aceitos como análises sérias. O autor é o diplomata português e habitué desse blog, Francisco Seixas da Costa, transcrevo no português lusitano tal qual o original que se pode ler aqui . As novas fronteiras da Rússia por Francisco Seixas da Costa As mudanças políticas que ocorreram na Geórgia no final de 2003 vieram chamar, uma vez mais, a atenção para um mundo muito vasto, constituído pelos Estados que resultaram do desmantelamento da

As vítimas de Ialta por Francisco Seixas da Costa

Normalmente, aos sábados separo um texto mais leve e divertido para publicar, mas o clima está pesado na Ucrânia e a coisa parece estar degringolando para uma guerra civil com o crescimento de separatistas e com políticos negando a legitimidade do Parlamento e com grupos anti-governo se recusando a aceitar a trégua negociada entre o governo e a oposição. Será preciso observar de perto para tentar captar alguma tendência e tentar entender o que se passa em meio ao fog of war . Assim, trago uma nota curta escrita por Francisco Seixas da Costa e ressalta a trágica ironia da história. O original pode ser lido aqui . As vítimas de Ialta Por Francisco Seixas da Costa Ialta é uma cidade ucraniana. Em 1945, no belo palácio Livadia, os destinos do mundo que iria resultar do segundo grande conflito mundial ficaram traçados. É uma triste ironia pensar hoje, olhando para os acontecimentos de Kiev, que a Ucrânia emprestou um dia o seu território para um "arranjo" geopolítico

Venezuela e a questão da liderança brasileira

Não é a primeira vez que reflito nesse blog sobre o conceito e a abrangência da suposta liderança brasileira na região da América do Sul. E reiteradamente constato que essa liderança propalada em discursos raramente se converte em política, em ações estratégicas, em momentos de crise como o que vive agora a Venezuela. O Brasil se eximiu de ter um papel ativo e público na solução da crise das papeleras , amarga disputa entre Argentina e Uruguai que ameaçou seriamente a unidade do MERCOSUL. Quando a Colômbia atacou acampamento das FARC em território equatoriano e matou um membro do secretariado da narco-guerrilha Raúl Reys, novamente, nossa diplomacia ficou a reboque da dupla Kirchner- Chávez. Foram duas oportunidade de liderar, de oferecer bons-ofícios e tentar impelir estratégias nacionais para a região, sem imposição imperial, mas construindo com habilidade o consenso ao se mostrar verdadeiramente engajado. É sempre difícil pros decisores políticos separar seus interesses de

Livro Branco da Política Externa, uma esperança (?)

  A expressão Livro Branco nasceu no contexto do Mandato Britânico da Palestina outorgado pela Liga das Nações, em 1923. E corresponde ao documento, editado em 1939, que delineava a política britânica para esse território. A expressão virou sinônimo para documentos oficiais que tornam público as premissas e estratégias que orientarão a formulação de política para o setor específico. No Brasil o exemplo mais conhecido desse tipo de documento é o Livro Branco da Defesa Nacional , publicado em 2012. Sem dúvida esse tipo de documento é um marco na transparência governamental e se bem conduzido, é também, um grande instrumento para o engajamento da sociedade civil no processo decisório, permitindo que as várias correntes de opinião possam se manifestar, debater e a depender da eficiência e da força dos argumentos de cada grupo influenciar o processo de tomada de decisão e as considerações estratégicas. Mas, para que isso seja possível, é preciso que ocorram consultas públicas na fase

Cuba, liberdade, política externa: Algumas idéias

A famosa blogueira e dissidente cubana Yoani Sanchez escreveu hoje (20 de julho de 2011) uma série de textos em sua conta no Twiiter em que descrevia o impacto da paranóia provocada pela atuação das forças de segurança do regime cubano. Abaixo agrupo esses textos curtos. “La vieja discusion de la alineacion politica, yo que no me considero ni de derechas ni de izquierda sino transversal y postmoderna. Desconfiar del otro, adjudicarle aviesas intenciones o la pertenencia al G2 ha sido uno de los metodos efectivos para la desunion. Si un extremo te acusa que eres de la CIA y el otro extremo asegura que eres del G2, eso significa que vas bien... El G2 es para muchos sombra sin rostro, para mi es el acoso diario, la persecucion constante, la intimidacion perenne a mis amigos. No narrare lo que me hace cada dia, porque seria darle demasiada importancia al G2 que es solo 1 cuerpo represivo heredero de KGB. Me quedo mejor con la parte hermosa de la historia. Con fragmentico de mi vida

Amorim e as críticas a Política Externa de Dilma: Uma hipótese

Desde a escolha de Antonio Patriota para ser o novo ministro das Relações Exteriores e da entrevista da então presidente-eleita Dilma Rousseff ao jornal Washington Post, que se especula sobre a mudança de rumos na política externa brasileira. O que se acentuou com a mudança com relação a política de Direitos Humanos, inclusive o chanceler Patriota chegou a convocar os embaixadores e funcionários graduados do MRE a apresentarem suas observações a cerca dessa política uma medida que é rara e foi interpretada como um gesto do Patriota de deferência a seus colegas mais antigos um recado da mudança no espírito da governança do ministério que seria mais aberto e participativo (em termos já que é uma carreira bem hierarquizada). É seguro dizer que houve uma mudança no tom geral da diplomacia brasileira e muito disso é o fato de uma até aqui diminuição da diplomacia presidencial. E é claro que isso se deve ao fato de Dilma não ser Lula. Não sou louco (ou estúpido) a ponto de dizer que a fort

Obama no Brasil

Agora que o Air Force One já decolou e o frisson provocado por Michele Obama na imprensa começa a arrefecer é hora de analisar a visita do mandatário americano ao Brasil. Muitas expectativas pairavam sobre a viagem. E a meu ver a mais significativa era ver como a recém empossada presidente brasileira iria lidar com os ritos cerimoniais e qual seria sua linha retórica. Como escrevi em minhas primeiras impressões creio que a presidente se portou bem. Ainda que tenha havido partes em sua declaração a imprensa que foram um tanto fora do lugar. Mas, nada que seja deletério de sua participação. Recuso-me a dizer a atuação dela foi discreta. Considero que a suas intervenções pouco espalhafatosas são sóbrias e se coadunam com um país que pretende ser visto como um global player. E não é difícil perceber que essa atuação mais centrada facilita o trabalho da chancelaria que não se vê obrigada a defender e justificar arroubos e nem presos a declarações grandiloqüentes. Muito ruído é ouvido

Estado das Forças Armadas do Brasil, Política Externa. Limites da capacidade brasileira de exercer poder

A inegável sensação de bem estar econômico que temos vivido nos últimos anos, o fascínio da grandiloqüência do ex-presidente Lula e a retórica de poder usada pelo ex-chanceler Amorim criou a noção de que o lugar do Brasil na “mesa dos grandes” está assegurado e mais deve ser exigido por meio de uma política externa ativista. Claro que construir uma análise abrangente sobre a política externa do governo Lula é tarefa extensa e talvez mais apropriada em um artigo acadêmico ou em livros e de fato são muitos que se dedicam a essa análise. Recentemente até a prestigiada Revista Brasileira de Política Internacional dedicou um número especial (em inglês) a esse fim. É fato que o Brasil conseguiu um espaço de destaque em vários dos organismos que originam importantes regimes internacionais. Com destaque nesse sentido as questões comerciais e financeiras (e os G-20 respectivos) e isso nos coloca em posição interessante no cenário internacional. Ou seja, o Estado brasileiro é capaz de influenc

Uma nota do Irã ou a briga de torcidas no Irã versão 2011

Não gosto de transcrever material da internet, não é a direção que tracei para esse espaço é fato que se eu fizesse isso eu teria mais 600-700 visitantes diários. Desta vez decidi reproduzir uma interessante nota emitida pela Islamic Republic News Agency – IRNA , que é a Agência de notícias oficial do regime de Teerã. Muitas vezes os defensores – sempre por motivos ideológicos e/ou “antiimperialistas” – alegam que as criticas ao regime são feitas pela imprensa internacional (e por aqueles manipulados por ela), que eles enchem a boca para chamar de conservadora ou epíteto vazio equivalente, por isso trago a nota da agência do governo, mais oficial que isso não há. A nota mostra bem como o regime teocrático do Irã reage a qualquer tipo de dissenso interno e fique escancarada a repressão, autoritarismo e intolerância que caracterizam esses regimes opressores e mostra bem por que Teerã e outros regimes iguais têm que manipular causas justas para arregimentar apoio. Esses governantes não s

Revelações do WikiLeaks e Brasil – I

O vazamento de documentos da diplomacia americana continua a dominar as atenções da imprensa em muito por conta do método de liberação paulatina dos documentos. Os primeiros documentos produzidos pela embaixada dos EUA, em Brasília, vazados provocaram um mal-estar na esplanada dos ministérios. Os comentários (devidamente negados) do ministro Jobim expuseram a velada disputa por influência entre ministros e pastas na busca pela primazia da formulação da política externa brasileira. É fato notório que ninguém gosta de perder poder e prestigio e isso é particularmente verdadeiro em burocracias estatais onde a perda de poder e prestigio é acompanhada pelo inevitável corte orçamentário (ou manutenção do nível de dotação enquanto há expansão em outras partes da máquina). Muito mais que expor o extremamente transparente (e até certo ponto celebrado por muitos) viés anti-norte, antiamericano do comando do MRE. E aqui é preciso clarificar para quem não acompanha de perto as relações internac

Uma brevíssima nota sobre os vazamentos do Wikileaks

A essa altura todos já estão sabendo que a Organização Wikileaks está a dar publicidade a documentos reservados da diplomacia dos EUA. Até o momento que escrevo nada de devastador foi revelado, embora ter suas comunicações privadas desnudadas possa ser bastante vexatório. Os telegramas trocados entre as embaixadas americanas e sua sede são documentos que servem de embasamento para os que tomam decisões e dão mostras do que os analistas (nesse caso diplomatas) a serviço desse governo percebem e investigam sobre os diversos países e líderes mundiais. Eles dão conta dos bastidores do processo de condução da política externa de diversos países. Essas comunicações que por se destinarem a olhos seletos (pelo visto não tão bem selecionados) não são feitas com os pudores e meias-palavras que comumente são usadas na diplomacia, na imprensa e mesmo na academia. E reforçam a advertência que eu e tantos outros fazemos sempre: Cuidado com notas oficiais! Raramente uma nota oficial ou nota a impr