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Mostrando postagens de setembro, 2010

Crise no Equador – III (golpe?)

A gravíssima crise equatoriana desencadeada pela reação da polícia de alguns militares a “Ley de Servicio Civil y Carrera Administrativa” continua a assolar a população desse país. Aumentam os relatos sobre a violência e a desordem por parte daqueles que deveriam ser os guardiões da sociedade. A situação é de fato grave, mas ainda não há indícios de que se trate de um golpe. De acordo com entrevista do presidente da Associação Equatoriana de Rádio não se trata de um golpe como ele explícita em entrevista ao portal UOL em que diz : “A declaração do presidente afirmando que a oposição quer dar um golpe de Estado não é correta. Na minha visão isso não é um golpe de Estado, pelo menos, não articulado pela oposição política. É uma reclamação da polícia, que pela importância de sua função, colocou todo o país em perigo”. O governo parece apostar que classificar o incidente como tentativa de golpe pode galvanizar apoios internos e externos que pressionem os grupos em greve para que recuem d

Crise no Equador – II (Estado de Emergência)

O governo do país andino decreta estado de emergência por conta da crise desencadeada pela “Ley de Servicio Civil y Carrera Administrativa” repercute no cenário internacional e nos meios de comunicação, como não poderia deixar de ser. Governos enviam suas manifestações de solidariedade e apoio ao governo Correa, que segundo seus ministros estaria sofrendo de uma campanha de “desestabilização”. O governo brasileiro se junta a OEA e UNASUL na condenação aos protestos. Devo admitir que eu estranhava a ausência de declarações conspiratórias amplas como as que começam a chegar de que tudo seria uma operação de setores da “direita”, esse tipo de frase se coaduna com a advertência que fiz no post anterior sobre esse assunto. E fica uma nova advertência de que se avalie com muito cuidado as comparações que surgirão com a situação de Honduras.   O que se pode dizer com segurança é que a crise tomou vulto tal que foi declarado “ Estado de Emergência ” o que implica na transferência de todo o a

Crise no Equador

Sob forte protesto das forças policiais e parte dos militares, que impedem o funcionamento do aeroporto internacional de Quito. Presidente Correa cogita usar dispositivo constitucional que prevê dissolução do Congresso e eleições gerais. Mais uma grave crise política na América do Sul. Numa dessas coincidências típicas de se analisar as coisas internacionais discutia semana passada numa excelente postagem de Luís Felipe Kitamura no laureado blog Página Internacional a situação equatoriana. A postagem tinha como título Equador: a instabilidade política e suas lições . Na qual o colega discorria sobre o péssimo histórico de conturbação política do país andino e sobre como o governo Correa parecia romper com isso usando a receita da esquerda latina de certo pragmatismo econômico e políticas distributivas. Mas, justamente a instabilidade política que parecia a caminho da extinção volta com toda força em um episódio potencialmente perigoso, que contundo ainda é cedo para tecer uma análise

Acordo de cooperação Brasil e Argentina setor lácteo

Brasil e Argentina preparam um arranjo de cooperação internacional para estimular as exportações do setor lácteo, que antes da crise entre o governo Kirchner e os produtores rurais era um dos mais proeminentes setores agro-exportadores da Argentina. Esse acordo se concluso será um passo interessante de aproximação Brasil e Argentina que sempre foram concorrentes nesse setor, os termos do acordo não são públicos ainda, mas segundo depoimentos midiáticos, seria um arranho voltado para exportações para fora do MERCOSUL e contará com as participações do Banco de La Nación e BNDES. Ainda há uma tensão no setor nacional em cooperar intimamente com um concorrente como fica claro na declaração do presidente da Câmara Setorial, Rodrigo Alvim. Declarou: “Só concordamos com a construção dessa cooperação se for para que os dois países se transformem numa plataforma de exportação de lácteos para terceiros mercados” Muitos analistas temem o aumento da participação dos setores agrícolas e de co

Bibliografia Básica de Relações Internacionais – Domingo de leitores

Essa semana recebi uma solicitação muito simpática, que já havia recebido antes, mas desta feita decidi dar uma reposta. Transcrevo o e-mail da forma que me chegou: Recentemente fui direcionado para o seu blog e gostei bastante dos posts que li. Não atuo na área de Relações Internacionais, no entanto, sou bastante interessado no assunto. Por isso, gostaria de sua ajuda para saber a biliografia "obrigatória" para quem pretende fazer uma graduação. Não tenho possibilidade de estudar R.I em uma faculdade, mas tenho interesse em estudar por minha conta. Se puderes me ajudar ficarei muito grato. Bom, como guia para responder isso de maneira mais neutra possível, isto é, não citando apenas livros que me influenciaram, busquei os velhos programas de aula dos tempos de universidade (fiz uma subseqüente pesquisa para ver se a lista estava deverás desatualizada, o que não estava). Muitos desses livros serão difíceis de encontrar fora das bibliotecas mais bem equipadas, (uma trágica

Ler, Refletir e Pensar

Como de hábito faço a transcrição literária de sábado. Hoje faço uma homenagem de aniversário a uma dileta amiga cuja comemoração não pude atender, mas que sei ser possuidora de uma sensibilidade apurada que perceberá o carinho com que transcrevo essas palavras de um poema que por ela fui apresentado. Poema de aniversário Vinicius de Moraes Porque fizeste anos, Bem-Amada, e a asa do tempo roçou teus cabelos negros, e teus grandes olhos calmos miraram por um momento o inescrutável Norte...   Eu quisera dar-te, ademais dos beijos e das rosas, tudo o que nunca foi dado por um homem à sua Amada, eu que tão pouco te posso ofertar. Quisera dar-te, por exemplo, o instante em que nasci, marcado pela fatalidade de tua vinda. Verias, então, em mim, na transparência do meu peito, a sombra de tua forma anterior a ti mesma. Quisera dar-te também o mar onde nadei menino, o tranqüilo mar de ilha em que perdia e em que mergulhava, e de onde trazia a forma elementar de tudo o que existe no espaço a

Mais um pouco sobre a euforia verde e amarela

Não tenho prazer outro que o do uso da racionalidade em não me alinhar na euforia que prevê o Brasil como superpotência benevolente em um prazo de 20 anos, primeiro por que não confio em exercícios de futurologia, que em geral são feitos numa base “ceteris paribus”, ou seja, dão como certo que as variáveis não analisadas permanecerão constantes. Preparo para a próxima semana uma série de artigos embasados em estatísticas confiáveis sobre as questões que afetam o poder do Brasil no cenário internacional, obviamente não poderá ser um texto exaustivo. Contudo, adianto algumas opiniões nessa postagem inspirada por um particularmente otimista artigo. (Que transcrevo abaixo) O próprio conceito de que o Brasil seria uma potência benévola, por conta da natureza do brasileiro. Isto me parece bastante ingênuo e construído sobre um estereótipo que os números da violência no Brasil não parecem autorizar que se faça. Aliás, essas análises até tocam nos temas que causam grande parte do atraso naci

Assembléia Geral da ONU, Colômbia e Manifesto em defesa da democracia. Ou algumas notas curtas

O dia está atribulado o que dificulta reservar espaço para escrever um texto verdadeiramente informativo. Mas, alguns pontos merecem um registro e comentário ainda que embrionário (na esperança que sejam mais elaborados em breve). AGNU : Hoje teve inicio a 65ª Sessão Ordinária da Assembléia Geral das Nações Unidas – AGNU, conforme a tradição iniciada, em 1946, o Brasil foi o primeiro a ter voz. Com discurso proferido pelo ministro das relações exteriores, Celso Amorim. (Para íntegra ver o vídeo abaixo). Chamou a atenção nesse primeiro dia de discursos vazios e políticos a ausência da delegação de Israel, que não esteve presente nem mesmo para ouvir o discurso do Presidente dos EUA Barack Obama que versou em sua maior parte dos assuntos do Oriente Médio e da Ásia Central. Chegou-se a pensar (eu inclusive) que a ausência de Israel era destinada a intervenção do representante brasileiro, causou surpresa a não estarem presentes para ouvir seu tradicional e mais poderoso aliado, contudo

MANIFESTO EM DEFESA DA DEMOCRACIA

Em uma democracia, nenhum dos Poderes é soberano. Soberana é a Constituição, pois é ela quem dá corpo e alma à soberania do povo. Acima dos políticos estão as instituições, pilares do regime democrático. Hoje, no Brasil, os inconformados com a democracia representativa se organizam no governo para solapar o regime democrático. É intolerável assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais. É inaceitável que a militância partidária tenha convertido os órgãos da administração direta, empresas estatais e fundos de pensão em centros de produção de dossiês contra adversários políticos. É lamentável que o Presidente esconda no governo que vemos o governo que não vemos, no qual as relações de compadrio e da fisiologia, quando não escandalosamente familiares, arbitram os altos interesses do país, negando-se a qualquer controle. É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja

Jogos redentores?

Essa enorme nação em desenvolvimento, parte do grupo denominado como BRIC, vive um momento econômico excelente e tem conseguido se manter incólume (ou quase) no cenário de crise global ainda que sofra com corrupção de agentes públicos e com as chuvas e as inundações em seus centros urbanos (mesmo e principalmente nos maiores, mais ricos e mais importantes). Esse governo decidiu demonstrar seu novo momento sediando um mega-evento esportivo, que supostamente marcaria seu lançamento a um novo patamar de reconhecimento e prestigio internacional. Para isso escolheu uma de suas mais conhecidas cidades. Parece familiar, não? Mas, estou a falar da Índia e os “Commomwealth Games”. Uma história que pode nos servir de aviso. Há algum tempo acompanho na imprensa internacional, notadamente a BBC, uma crescente preocupação com a estrutura dos jogos. O que no começo poderia parecer, para alguns, preconceito dos “loiros de olhos azuis” com nações pobres ou arrogância européia, ou uma batalha norte-su

A candidatura Dilma e a política externa: Uma contundente análise de Celso Lafer

O texto a seguir é uma peça opinativa/analítica do ex-ministro de Relações Exteriores e autor consagrado por seu notório saber Celso Lafer. Que foi retirado do jornal “O Estado de São Paulo”. Não gosto de violar direitos autorais da grande imprensa. Contudo, faço desta vez com base nos princípios do fair use (que não acho que sejam reconhecidos na legislação nacional) por que o texto referido além de seu valor opinativo tem valor educativo e contribui para o debate que é levado a cabo nessa página. Muitos dos argumentos são os mesmos que sustento principalmente no tratamento da política externa como política pública, assim sendo seu debate uma necessidade institucional e democrática. E mais ele com a elegância de sua escrita nos lembra que os princípios da administração pública (economicidade, impessoalidade e publicidade) são também obrigatórios no campo das ações exteriores. Contudo, não transcrevo apenas por que é uma opinião que concorda com as minhas e sim por que o professor agr

Ler, Refletir e Pensar

Aos sábados tenho por hábito transcrever textos que creio servem para induzir a reflexão. Essa semana o texto selecionado para essa seção é um episódio da vida diplomática narrado em um ritmo agradável que denota um apurado senso literário de seu autor, o embaixador português em França (como dizem daquele lado do Atlântico) Francisco Seixas da Costa que tive a honra de ser apresentado ( de certo não serei lembrado por ele que deve ser apresentado a centenas de pessoas em cada função social oficial  vide o primeiro comentário a esse texto) numa recepção da Embaixada de Portugal, em Brasília, quando eu ainda residia nessa capital e ele chefiava aquela missão (2005 – 2008). O texto foi retirado do famoso blog do embaixador – duas ou três coisas – e narra como em um cenário político cada vez menos cioso de suas obrigações o decoro pode escandalizar. (transcrevo tal qual o original). Silêncio Tinham sido longas horas, primeiro de avião, depois em viaturas militares, neste caso rodeados d

Realism, Liberalism and Constructivism

Como fica patente ao se navegar pelos arquivos desse blog gosto de me ater às questões teóricas que são importantes para a construção de modelos analíticos, contudo tenho plena ciência que muitos estudantes de relações internacionais não têm o mesmo gosto pelas teorias. Talvez por que se vejam atolados em leituras forçadas de temas complexos em períodos curtos aliada a forte cobrança por desempenho. Mas, pior é a situação dos que se interessam pelo tema, mas ainda não possuem uma boa carga de leitura e/ou nunca estudaram Teorias das Relações Internacionais – TRI. Foi com a mente nas necessidades de entendimento desse grupo que alguns alunos da (presumo) da prestigiosa Academia Militar de West Point nos EUA criaram o vídeo que agora aproveito que apresenta telegraficamente com exemplo bem sacados os principais pontos dessas teorias que dão título a essa postagem. O vídeo visivelmente amador em sua execução é divertido e informativo. E francamente se fossem meus alunos teriam conseguido

Quinta Coluna? Mais uma vez sobre o nacionalismo

Navegava hoje pelo site Política Externa do colega internacionalista brasiliense Daniel Cardoso e me deparei com uma matéria do Jornal Valor Econômico lá reproduzida num texto intitulado: “ Amazônia Verde e Azul – Forças Armadas e Civilização Brasileira, por Carlos Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa ”. O autor do texto é ex-presidente do BNDES (2003-2004) e já foi nos anos de 1960 professor no Instituto Rio Branco – IRBr. Não sou homem de concordar com alguém ou discordar por conta de seu currículo. E nesse caso são os argumentos usados por Carlos Lessa para defender um suposto patriotismo (embora o termo não surja no texto) é que me chamam a atenção. A começar pelo primeiro argumento típico desses tempos eleitorais que tenta traçar um estado de o país foi inventado em 2003. Lógico faz isso com a “elegância” do uso de palavras códigos ao associar a pressão internacional sobre a Amazônia, com a ideologia neoliberal. Caberia aqui entender como os ecologistas se coadunam com o q

Notas Curtas

Universidade : Mudança na coordenação do curso de relações internacionais do UDF , que agora passa a ser comandado pelo meu dileto amigo, o mestre em cooperação internacional, Rafael Pinto Duarte (diria ele com seu peculiar humor: “O Pinto é da minha mãe”). Um profissional competente e empreendedor e um educador dedicado e atencioso que em muito agregará a essa IES e ao campo como todo. Quebrarei aqui o decoro desde blog para declarar que esse meus amigos me matam de orgulho. Por sinal outra querida amiga Lesley Ishii também coordena um curso nessa IES.  Parabéns Rafael muito sucesso nessa nova empreitada .  BlogBooks : Meus caros é com tristeza que informo que o nosso blog não foi classificado para a fase de júri técnico desse concurso que transforma os blogueiros em autores on e off line. Não tivemos votos suficientes para estar entre os 10 mais votados. É claro que o objetivo era o primeiro lugar, mas não vejo o episódio como uma derrota, afinal muitos leitores tomaram conhecimento