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Mostrando postagens de abril, 2010

Os caminhos externos do Brasil, questões nucleares

Continuando uma série de reflexões sobre a política externa brasileira em termos mais filosóficos e genéricos a luz das declarações e acontecimentos dos últimos dias, são idéias ainda em formação, por mais que eu seja um analista já com alguma rodagem, julgo e não é falsa modéstia, que ainda me faltam décadas de leitura e reflexão para que possa ter opiniões mais permanentes. Como cientista e analista aceito como natural e benéfico que posições sejam revistas a luz de novas evidencias empíricas e argumentos convincentes, afinal muito do que escrevemos e analisamos do que dia-a-dia é limitado pelas informações disponíveis. Nossa jovem república está em um desses momentos que definem como serão os próximos anos, que valores adotaremos. Não é uma encruzilhada institucional em que a própria democracia está em jogo, como foi durante o final (melancólico) do governo Collor de Melo. Dessa vez nosso estado vem de um período de quase 16 anos de estabilidade política, isto é, apesar de problema

Segurança Nacional

Nos últimos dias especialistas e estudiosos em defesa têm se manifestado acerca das questões nucleares, inclusive, com declarações de oficiais de alta patente, advogando em torno de o Brasil ter acesso a tecnologia necessária para a produção de Armas Nucleares, que seriam fator de dissuasão de ataques de potências estrangeiras (leia-se EUA) ao Brasil motivadas pela cobiça por nossos recursos naturais. Contudo, os recentes eventos no Paraguai mostram que a maior e mais palpável ameaça a segurança nacional brasileira são ameaça de “quarta-geração”, são as ameaças difusas de entes não-estatais, principalmente as redes criminosas transnacionais, que traficam armas, drogas e seres humanos, lavam dinheiro, corrompem autoridades, desestabilizam regiões. As cidades brasileiras enfrentam um ataque continuo de forças criminosas, que espalham medo e sangue, oprimem regiões e limitam as liberdades individuais, criando embaraços para os governos locais e para a União, como esquecer o episódio de s

Sobre a liberdade

Vocês já se imaginaram a viver em um mundo onde você é privado de expor suas opiniões, um mundo Orwelliano, em que seus vizinhos podem te delatar as autoridades pelo grave crime de pensar diferente do que o sistema prega. Esse sistema utópico se propõe a construir um novo homem, um experimento de engenharia social, que por definição é soturno e nefasto, por que pretende a bem de provar uma teoria que não encontra amparo na vida real, transformar a vida das pessoas para que caibam na teoria. Há um atrativo nessas utopias que atiçam o desejo de igualdade entre os homens, se alimentam na alma de justiça social, mas que justiça é essa onde a mais básica das liberdades que é pensar é algo perigoso, que pode lhe custar a vida. Uma distopia que precisa de extrema vigilância para se sustentar, que precisa de aparatos de vigilância e de um inimigo para culpar por tudo de errado. Um sistema onde a distensão é logo satanizada, tratada como vendida, como inimiga do povo, as vezes por cobrar algo

Brasil e Caribe

Abri essa semana escrevendo criticas contundentes a gestão da política externa brasileira, como fica claro no post anterior e muitos dos erros e vícios que venho tratando aqui se repetiram nessa ocasião, contudo, nem só de erros táticos e estratégicos se faz a PEB. A aproximação em curso com o Caribe que já se vem desenhando há algum tempo, com o Brasil, participando do CARICOM e lentamente se envolvendo em assuntos da região que tradicionalmente não era foco da atenção da chancelaria. Nesse contexto, temos a MINUSTAH, que serve não só como mecanismo de demonstração da capacidade de operação militar em um local afastado, superando os desafios logísticos embutidos nesse tipo de ação, além de reforçar a imagem brasileira de ser pró-multilateralismo, e ser uma demonstração de algum comprometimento brasileiro em arranjos de segurança coletiva, serve também para gerar boa vontade quanto ao Brasil nessa região. O Caribe, todos nós sabemos, é zona de influência e interferência dos EUA, desd

Mais política externa ou sobre palavras vazias

Como expliquei em post anterior estou enfrentando problemas técnicos com minha conexão e não tive como ver a reação da blogsfera a entrevista concedida nesse domingo ao O Estado de São Paulo, pelo Ministro Amorim. Esses últimos dias têm sido profícuos em movimentos de alguma significação por parte da diplomacia brasileira para citar alguns tivemos a formatura da turma de 2010 do Instituto Rio Branco, a resolução da crise das papeleras sem participação brasileira, uma aproximação com a Índia para pressionar a China, no que tange a polêmica taxa de câmbio da nação comunista (?), e a folclórica e escandalosa outorga da Grão-Cruz da Ordem do Rio Branco às esposas do chanceler, vice-presidente e presidente . E para coroar essa seqüência temos uma entrevista do próprio Amorim. Em linhas gerais, como a essa altura vocês já devem saber, o Ministro defendeu sua gestão a frente do ministério, sustentou que foi acertada a posição brasileira em Honduras e afirmou que o Brasil não é pró-Irã. E a

Uma nota preventiva

Estou com problemas técnicos em minha conexão com a internet que só tem funcionado no período da madrugada, admito que tenho hábitos notívagos, contudo essa situação tem debilitado minha capacidade de atualizar o blog e de buscar informações para construir minha análises. Por enquanto, mesmo com esses defeitos de conexão (que a assistência do meu prestador de serviços de internet não consegue solucionar a quase uma semana) estou a conseguir atualizar o blog diariamente, mas caso seja interrompido a constância dessa atualização, peço desculpas preventivamente e explico os problemas técnicos que me afligem e irritam. Por sinal é difícil controlar o desejo de escrever palavrões por conta disso. 

IV Encontro Nacional da ABED (ENABED IV)

A Associação Brasileira de Estudos da Defesa, ABED, realizará seu IV Encontro Nacional (ENABED IV) na Universidade de Brasília, no período de 19 a 21 de julho de 2010. Tema geral do evento: "A Defesa e a Segurança na América do Sul" . ( site do Encontro ) Os Encontros anteriores, de 2007 a 2009, poderão ser visitados no  site da ABED . Sessões Temáticas – Temas e Coordenadores ( ver Ementas ) 1. Migrações, fronteiras e meio ambiente: novas questões de Segurança? Coordenador: Alcides Costa Vaz (UNB) 2. A Defesa Nacional e a Academia. Coordenador: Delano Menezes (ESG) 3. História militar. Coordenadores: Eduardo Svartman (UPF) e José Miguel A. Neto (UEL). 4. Gênero, Paz e Forças Armadas. Coordenador: Érica Simone Almeida Resende (UERJ) 5. A Comunidade Sul-Americana na Área dos Estudos Estratégicos. Coordenador: Eurico de Lima Figueiredo (UFF) 6. Guerras de Quarta Geração. Coordenadores: Francisco Carlos Teixeira (UFRJ) e Sabrina Medeiros (EGN). 7. Forças Armadas e

Domingo vocês já sabem é dia de responder aos leitores

Chegaram-me nessa semana duas solicitações de esclarecimento, novamente, as perguntas se focam no curso, com uma pequena variação das perguntas de sempre já que uma das perguntas se foca em alternativas de pós-graduação. O primeiro correspondente me pergunta sobre qual curso é melhor PUC-SP ou Faculdades Integradas Rio Branco (não confundir jamais com o Instituto Rio Branco – IRBr , mas creio que ninguém faz essa confusão), o autor da pergunta, que também, a fez em um fórum da comunidade relações internacionais no Orkut e pediu uma opinião sincera. Pois bem, sinceramente, eu não tenho elementos objetivos, mensuráveis, com rigor analítico para responder qual das duas IES (Instituições de Ensino Superior) possui o melhor curso de graduação. Em geral, tem-se o curso da PUC como superior aos demais por ser um curso de universidade católica, que tem tradição e solidez cientifica, mas essa hipótese não é, ou pelo menos, não me apresentaram elementos que suportem isso. Como estou impossi

Ler, Refletir e Pensar

Darkness Por Lord Byron I had a dream, which was not all a dream. The bright sun was extinguish'd, and the stars  Did wander darkling in the eternal space,  Rayless, and pathless, and the icy earth  Swung blind and blackening in the moonless air; Morn came, and went and came, and brought no day, And men forgot their passions in the dread  Of this desolation; and all hearts  Were chill'd into a selfish prayer for light: And they did live by watchfires - and the thrones, The palaces of crowned kings, the huts,  The habitations of all things which dwell,  Were burnt for beacons; cities were consumed,  And men were gathered round their blazing homes  To look once more into each other's face;  Happy were those who dwelt within the eye  Of the volcanos, and their mountain-torch:  A fearful hope was all the world contain'd;  Forest were set on fire but hour by hour  They fell and faded and the crackling trunks  Extinguish'd with a crash and all was black.  The brows of m

Sobre a formatura do Instituto Rio Branco

Faço questão de postar aqui textos de minha própria lavra o que indubitavelmente é trabalhoso, mas esse desafio motiva, contudo, hoje pretendo apresentar um texto que foi escrito e publicado pelo diplomata, pesquisador e autor contumaz Paulo Roberto de Almeida, é inegável que a figura de Paulo Roberto, causa alguma comoção no mundo das relações internacionais, não me considero um seguidor de seus ensinamentos, na medida em que nunca fui seu aluno, ou orientado, e que não li completamente sua obra. Mas, sigo um conselho por ele dado a minha turma em nossa solenidade de colação de grau, o conselho era buscar sempre pelo autodidatismo, lembrar que carreira não é carreirismo, lembrar que desfrutar das relações familiares, de hobbies, não se dobrar ao peso da autoridade, e, sobretudo não temer navegar contra a maré se é essa a direção que as conclusões de seus estudos apontam. Essa lição oferecida por esse “velho contrarianista” em suas próprias palavras, nunca deixou minha cabeça. O texto

Não posso deixar de fazer essa homenagem

Não gosto, como já disse várias vezes, de falar da minha vida pessoal, mas hoje dia 22 de abril é um dia muito importante para mim. Não, não é por que é aniversário do descobrimento (ou achamento, como diria Pero Vaz de Caminha) do Brasil. Hoje é aniversário da minha querida mãe. Não há palavras que possam expressar o amor e o agradecimento que tenho por minha mãe, seu esforço e sacrifício pessoal (junto com meu saudoso pai) permitiu que eu estudasse em boas escolas, praticasse esportes, tivesse toda sorte de oportunidades. Sem esse abnegado esforço eu não seria quem eu sou, mas não foi só o apoio financeiro (com muito sacrifício pessoal devo acrescentar), mas seu encorajamento, severidade, orientação e amor. Minhas virtudes, devo a você minha mãe e meu defeitos existem apesar de seus esforços e conselhos. Obrigado por tudo e parabéns . Com o risco de parecer um mama’s boy te amo!  

Crise das “papeleras”

A Corte de Haia chegou a uma decisão sobre a crise que opunha Uruguai e Argentina por conta da instalação de fábricas de papel e celulose as margens do Rio Uruguai que atravessa o território dos dois Estados. O direito internacional dedica muitos tratados para regular o uso das águas de rios que atravessam mais de um país, com vistas a não só a disciplinar a navegação, mas o uso da água, nesse particular há um instrumento comum de consultas entre Argentina e Uruguai esse organismo se chama “Comisión Administradora del Río Uruguay (CARU)” . Por coincidência estava em Buenos Aires quando a crise começava a tomar vulto na opinião pública argentina, deixava de ser uma questão de ambientalistas e populações ribeirinhas da região de fronteira e se tornava uma causa política. Os ambientalistas argentinos a essa época montavam bloqueios nas estadas impedindo o comércio entre os dois países com conivência e estimulo do governo argentino, que tomou a causa como de “orgulho nacional” o que é s

O céu, as pessoas, o lago, as quadras e ficar “de baixo do bloco”

Quem for de Brasília ao ler isso se identificou com esse título que é uma ode a Brasília cidade, a Brasília humana, daqueles que trabalham nos monumentos, daqueles que dão vida a cidade, dos meus amigos, dos meus conterrâneos, é também a síntese de quase tudo que tenho saudade em minha terra. Ser brasiliense é ser brasileiro por excelência (como acontece em São Paulo ), afinal é uma cidade que por vocação atraiu e continua a atrair gente de todos os estados é uma cidade que integra bem esses grupos distintos. No limite do humano por que seres humanos carregam sentimentos negativos. É da vida! Sabe a infância que eu tive em Brasília, conjugou viver numa capital, isto é, ter acesso a bens culturais e as lições da vida numa cidade grande com a liberdade de viver no interior, de poder correr livre debaixo do bloco (no espaço livre dos pilotis tão típicos de Brasília), do sentimento de identificação que o bloco nos dava. Eu sempre serei o Mário do bloco A da quadra 911 do Cruzeiro Novo,

Mea culpa, mea máxima culpa

Estou a ter dias complicados, carregados de trabalho, o que é sempre bom, contudo, isso tem uma repercussão que muito me desagrada que é a redução do tempo que tenho disponível para pesquisar temas para os textos desse blog. E a própria qualidade dos textos que noto, com pesar, que têm saído com frases sem a devida revisão e por vezes confusas. Peço desculpa por isso, mas como minha conexão em casa está instável nos últimos dias e o serviço de manutenção do meu provedor de acesso não é dos mais céleres a correção fica dificultada, mas, por favor, não hesitem em apontar esses erros que os retificarei prontamente.   By the way, vocês leram a reportagem do Financial Times do dia 20/04, de John Paul Rathbone intitulada “ Brazil 's cuddly ways are barrier to seat at the top table ”? Pois bem essa reportagem aborda temas que temos tratado aqui e coincidentemente chegam a conclusões similares. Não que eu faça questão de ter minhas posições corroboradas. 

IBAS e BRIC - Uma reflexão (mais da mesma nota)

Há muito entusiasmo entre analistas sobre esses esforços chamados de sul-sul, ainda que considerar a China, membro do Conselho de Segurança da ONU, como sul (tanto geograficamente, como no sentido “terceiro-mundista” da expressão) é uma estrapolação metodológica. As duas siglas que dão título a esse texto dizem respeito a Índia, Brasil, África do Sul, Rússia e China (não é difícil quem está em que grupo). Ambos os grupos se reuniram em Brasília na semana passada imagino o transtorno no transito da área central da capital, que em ocasiões como essa, costuma ser fechado, com reforço de segurança, que por vezes incluí tanques e veículos militares blindados, helicópteros de combate e um exército de voluntários, em sua maioria estudantes de relações internacionais reforçando o quadro do Itamaraty e sendo tratados “bem que só”, e claro que esses valorosos universitários em busca do dinheiro que sempre se esconde dos estudantes, também trabalham como motoristas e guias bilíngües (testemunhan