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Mostrando postagens com o rótulo Argentina

A Guerra do Paraguai e a historiografia. Uma entrevista de Francisco Doratioto

Franscisco Doratioto é um dos mais renomados acadêmicos brasileiros, homem sério e afável, tive a sorte de conviver com ele nos tempos em que ele era professor na Universidade Católica de Brasília, mas tive o azar de não ter sido seu aluno (quando ele foi contratado já havia feito as disciplinas que ele lecionaria). A dedicação de Doratioto ao estudo da Guerra do Paraguai é sua preciosa colaboração ao pensamento brasileiro. A Guerra do Paraguai precisa ser mais conhecida e os enormes volumes de informação já coletados pela historiografia mais difundidos, ainda há muitos que por ideologia e desconhecimento atribuem a guerra ao imperialismo inglês. É um desses casos que contra opiniões não existem fatos. A história da Guerra do Paraguai é um desses momentos em que uma série de políticas e alianças colocam dois inimigos em conjunção contra um aliado natural, afinal é fácil perceber que tanto Brasil quanto a Argentina teriam muito a ganhar mantendo um Paraguai independente e servindo d

Guerra das Malvinas ou sobre uma tarde quente

Esse ano a Guerra das Malvinas completa 30 anos e o contexto interno da Argentina tem empurrado o governo platino a ser mais incisivo em sua busca por soberania no rochoso arquipélago. O envio do príncipe Willian para um treinamento militar nas ilhas serviu para motivar ainda mais os argentinos em sua reivindicação. Muito ainda se irá escrever sobre a guerra e suas conseqüências, – entre elas o desejo férreo da Marinha do Brasil de possuir submarinos nucleares – sobre a justeza ou não da causa argentina, sobre o direito de autodeterminação dos que há muitas gerações habitam as ilhas. Mas, hoje – por motivos pessoais – não quero escrever sobre essa espinhosa questão pela ótica da reflexão estratégica ou política, gostaria de partilhar uma pequena história com vocês. No início dos anos 2000, talvez em 2002, estive em Buenos Aires para participar de um breve curso, apesar de não ser a primeira vez que ia aquela cidade, decidi por fazer o velho circuito turístico que inclui a famosa

Brasil e Argentina: Uma entrevista minha sobre carne de porco e disputas comerciais

Retorno a atividade publicando uma entrevista concedida a repórter Sara Sacchi e Souza. (Perguntas em negrito e itálico.) Entrevista via e-mail para a RádioWeb UNESP O senhor acredita que essa nova discussão será mais um obstáculo à já complicada consolidação do Mercosul? Essa disputa é o mais novo capitulo numa difícil história de liberalização comercial do MERCOSUL. Dessa maneira é mais um sintoma do que uma doença, isto é, a medida demandada é um exemplo público das forças responsáveis pelas dificuldades de avanço do bloco e demonstram bem quão organizados são os grupos de pressão que demandam por medidas mais protecionistas e de reserva de mercado. Esses grupos têm sido muito eficientes no cumprimento dessa agenda. Em março desse ano a Argentina aumentou o número de produtos que exige licenciamento prévio e não-automático para importações o que encarece o processo e o torna pendente de aprovação discricionária de burocratas. Caso a cota realmente seja criada, como o senhor

Brasil e Argentina: alguns pensamentos

Essa semana concedi uma entrevista breve (que não sei se vai ao ar se for informo) sobre a mais nova celeuma comercial entre Brasil e Argentina. Além de ficar a imaginar que poderia ter dado respostas melhores fiquei também com o tema do relacionamento bilateral na cabeça. As disputas comerciais entre os dois países obviamente ganham enorme espaço tanto nos meios mais especializados em temas econômicos e diplomáticos quanto nos meios de caráter mais generalista. Também, têm destaque os desentendimentos mais políticos como a suposta reclamação (e um certo ciúme) do governo Kirschner por ter sido preterido em recente viagem do mandatário americano a América Latina. São muitos os desafios do relacionamento entre os dois países principalmente no que tange a consolidação do MERCOSUL, não só na correção dos desequilíbrios com os sócios menores, mas na própria essência de integração regional calcada na liberalização comercial. Pensando nesses temas lembrei-me de um artigo antigo do embaixa

A morte de Néstor Kirchner

Causou comoção na população argentina e manifestação de pesar dos líderes regionais a noticia do falecimento do ex-presidente da República Argentina Nestor Kirchner, que atualmente era Secretário-Geral da UNASUL, deputado federal e Primeiro-Cavalheiro (já que sua esposa o sucedeu a frente da Casa Rosada). Os analistas apontam que seu súbito falecimento além do drama humano para seus entes queridos e apoiadores deixou um considerável vácuo de poder dentro do sempre fragmentado peronismo. Surgem justificadas incertezas sobre a capacidade e disposição de sua esposa e atual presidente Cristina Fernandéz de Kirchner em lidar com a aguda luta de poder que se aproxima dentro do Partido Justicialista (peronista). Como bem apontou Dr. Mauricio Santoro em seu blog ‘ Todos os fogos do mundo’ : “A morte inesperada de Néstor Kirchner não é simplesmente o falecimento de um ex-presidente, mas também a  criação de um súbito vazio de poder na Argentina , com repercussões para as relações da presiden

Uma reflexão sobre MERCOSUL e Liderança do Brasil

Tenho um amigo que é mestre em relações internacionais, por uma universidade da Florida e atualmente serve no Exército dos EUA (com todos os riscos que isso acarreta e que recentemente se tornou pai, então deixo meus parabéns, por sinal outra colega e parceira em um projeto, também formada em relações internacionais que também é militar nessa nação) que sempre “perturba” muito em fóruns dizendo que os cursos de relações internacionais no Brasil, ou pelo menos, a produção acadêmica nessa área aqui se restringe ao estudo do MERCOSUL. Mas, toda essa digressão é um prólogo para tratar de um assunto que é sim de fato muito importante, não só por tudo o que sabemos da importância que foi a aproximação Brasil – Argentina, que passa até pela diplomacia do átomo (termo chique que chamam as questões nucleares), por questões energéticas envolvendo terceira-partes (Itaipu), pela democratização, alias contextualizar as negociações do MERCOSUL é importantíssimo para qualquer estudante de relações i

200 anos da revolução de mayo

Publicado com atraso devido a situação de plano B, que perdura nesse blog. Quem já teve o enorme prazer de visitar a bela capital da República Argentina, a famosa Buenos Aires, e mesmo quem não foi, sabe que a praça enfrente a famosa Casa Rosada, leva o nome de praça de maio, em alusão ao movimento de independência liderado pelo venerado San Martin (cujo corpo se encontra enterrado em área anexa a Catedral Metropolitana, um dos belos edifícios que cercam a praça). Há nessa praça um pequeno monumento em que se lê 25 de mayo de 1810. A dada que marca o inicio do processo que culminaria na independência dos “hermanos”. Já havia planejado escrever algumas linhas sobre isso, quando vi esse texto no blog – Os Hermanos – do jornalista argentino, correspondente em Buenos Aires para vários veículos da imprensa nacional que transcrevo agora. Hesitei quando vi que Paulo Roberto de Almeida o fez em seu – Diplomatizzando – ao invés de pensar nisso como uma espécie de cópia desse autor, prefir

Crise das “papeleras”

A Corte de Haia chegou a uma decisão sobre a crise que opunha Uruguai e Argentina por conta da instalação de fábricas de papel e celulose as margens do Rio Uruguai que atravessa o território dos dois Estados. O direito internacional dedica muitos tratados para regular o uso das águas de rios que atravessam mais de um país, com vistas a não só a disciplinar a navegação, mas o uso da água, nesse particular há um instrumento comum de consultas entre Argentina e Uruguai esse organismo se chama “Comisión Administradora del Río Uruguay (CARU)” . Por coincidência estava em Buenos Aires quando a crise começava a tomar vulto na opinião pública argentina, deixava de ser uma questão de ambientalistas e populações ribeirinhas da região de fronteira e se tornava uma causa política. Os ambientalistas argentinos a essa época montavam bloqueios nas estadas impedindo o comércio entre os dois países com conivência e estimulo do governo argentino, que tomou a causa como de “orgulho nacional” o que é s

MERCOSUL, Venezuela e o Senado Federal

O tema MERCOSUL bastante presente na agenda de debates e pesquisa de especialistas e estudantes em relações internacionais nem sempre tem a mesma atenção na imprensa brasileira ou por parte dos políticos. Claro essa condição se interrompe sempre que há alguma escaramuça comercial ou alguma polêmica. Por parte da impressa creio ser natural, já por parte dos políticos creio ser um sintoma de uma doença que a política brasileira sofre que a doença do esplendido isolamento, mas isso é tema para outra análise. Afastando-nos da digressão voltemos ao tema em análise. Muito se diz sobre o papel que o MERCOSUL desempenha na política externa brasileira, uma corrente defende que a integração aprofundada com os vizinhos cria estabilidade e reforça a liderança regional brasileira, além de criar cadeias produtivas integradas, diminuindo a dependência de mercados mais desenvolvidos. Outra linha defende que atrelar a PEB aos parceiros diminuiu nossa capacidade de acordos bi-laterais que poderiam ser

Rio – 2016. Ou muita calma nessa hora

Sou aficionado em esportes, em geral, quando não vendo telejornais estou a assistir um dos muitos canais dedicados a isso disponíveis na TV paga. E quando mais jovem fui jogador de basquete federado indo até a categoria juvenil, pratiquei natação, judô e jiu-jitsu, sei bem como o esporte coletivo ajuda a desenvolver o trabalho em equipe e o espírito esportivo, e sei como os esportes individuais ajudam a construir características de caráter que se trabalhadas conjuntamente com valores familiares e o indispensável estudo ajudam a formar indivíduos bem ajustados, cientes do valor da preparação, confiantes e com habilidades para trabalhar em equipe. Portanto, apesar de a vida ter me levado pelo caminho dos livros não ignoro que a boa formação individual inclui educação e iniciação esportiva, assim nenhuma objeção que eu possa levantar aqui não é feita com base em preconceitos contra a prática esportiva. A imprensa está como era de se esperar ouriçada com a vitória brasileira o ufanismo

O tempo passa, mas indefinição continua

Desde fins de junho que um assunto tem permanecido relevante nas discussões sobre relações internacionais, em especial, no âmbito das Américas, a deposição de Manuel Zelaya da presidência hondurenha, já gastei aqui centenas de bytes, sobre esse assunto, mas a história parece não se esgotar. É notório que considero a maneira como foi deposto o presidente Zelaya, desastrosa e incompatível com o devido processo legal, o império da lei, que é ponto basilar de qualquer regime que se julgue democrático. Embora, também seja basilar de uma democracia, dispor de meios institucionais para sua própria defesa, ou seja, uma democracia, por meio de sua carta magna, contém meios para que ela seja preservada, já que ninguém, nem com ou sem apoio popular tem o direito de solapar a constituição e desobedecer a uma decisão judicial, sendo esse alguém uma autoridade eleita, maior e mais nociva é essa desobediência. Posso dizer que sou contra a maneira como Zelaya foi retirado do poder, mas não os motivo

Felipe Calderón e o giro mexicano pela América do Sul

O Presidente Mexicano está no Brasil em visita tanto protocolar, como de negócios, pleiteando parcerias na área de petróleo e claro tentando alternativas para diminuir a dependência da economia mexicana dos Estados Unidos (tentar ao menos). Em muito por causa do NAFTA , mas independente disso, como sabemos a geografia, também, tem sua influência, o que acaba por manter o México muito vinculado a maior economia do mundo. Vocês leitores assíduos sabem que tenho muita prudência ao analisar os assuntos do dia a dia, pela falta de informações e dados concretos que possam corroborar as conclusões, o que acaba por nos colocar no pantanoso terreno de assertivas demasiadamente gerais e pobremente sustentadas, como já disse, com dados. Podemos é claro explorar o tema com alguma profundidade, sem, contudo, se apregoar o entendimento completo do assunto que só é possível com profusão de dados. Essa visita do mandatário mexicano despertou o interesse em mim de tentar entender qual é agenda do M

No llores por mi, peronismo

Relegada ao segundo plano por conta da situação em Honduras as eleições legislativas da Argentina são um assunto interessantíssimo. Primeiro pela apatia do eleitorado que somada ao medo da gripa A (H1N1) teve um índice de comparecimento muito baixo e o voto na Argentina tal qual no Brasil é obrigatório. (Falando em gripe A (H1N1), a província de Buenos Aires decretou estado de emergência sanitária) As eleições foram antecipadas por medo do oficialismo que as dificuldades advindas da crise financeira mundial afetariam o resultado, o que acabou por não dar certo ou no mínimo evitou uma derrota mais contundente. O ex-presidente da Argentina e agora, também, ex-presidente do Partido Justicialista (continua primeiro cavalheiro) Nestor Kirchner, foi o cabeça da lista que teve uma surpreendente derrota em seu reduto a província de Buenos Aires e em Santa Cruz terra natal de Cristina. Confesso que sou muito intrigado e apaixonado pela Argentina, é um país que sempre que posso vou, e particular