Sou aficionado em esportes, em geral, quando não vendo telejornais estou a assistir um dos muitos canais dedicados a isso disponíveis na TV paga. E quando mais jovem fui jogador de basquete federado indo até a categoria juvenil, pratiquei natação, judô e jiu-jitsu, sei bem como o esporte coletivo ajuda a desenvolver o trabalho em equipe e o espírito esportivo, e sei como os esportes individuais ajudam a construir características de caráter que se trabalhadas conjuntamente com valores familiares e o indispensável estudo ajudam a formar indivíduos bem ajustados, cientes do valor da preparação, confiantes e com habilidades para trabalhar em equipe.
Portanto, apesar de a vida ter me levado pelo caminho dos livros não ignoro que a boa formação individual inclui educação e iniciação esportiva, assim nenhuma objeção que eu possa levantar aqui não é feita com base em preconceitos contra a prática esportiva.
A imprensa está como era de se esperar ouriçada com a vitória brasileira o ufanismo está em alta, a nação parece estar com um súbito “aumento de estima por si mesmo” como diria Eça de Queiroz, e nesses momentos muitas são as análises que tentam explicar a vitória brasileira, que sem duvida é atribuída no momento ao Presidente da República.
E não se limita apenas aos sites, jornais e rádios brasileiros, de modo geral outros meios também repercutiram essa escolha, muito pelo ineditismo, uma jornalista da CNN, que não recordo o nome agora (mil perdões) chegou a fazer a ilação que todos estão fazendo de como o momento demonstra uma consolidação dos emergentes, ela chegou a dizer “semana passada vimos o G-8, virar G-20”. Claro, no calor dos acontecimentos declarações assim são normais, se esquece que a mais recente olimpíada foi sediada por um emergente.
Os meios argentinos, em especial o Clarín e o La Nacíon trataram a vitória da candidatura do Rio como uma vitória geopolítica do Brasil, na consecução de seu plano manifesto de ser uma potência regional. Que na visão desses jornais consolida a imagem do Brasil e principalmente a liderança e carisma pessoal do Presidente Lula.
Como era de esperar, também, os jornais americanos trazem críticas algumas duras outras não quanto a ida de Obama, o The New York Times em uma das suas reportagens diz que a ida de Obama, demonstrou um juízo precário sobre o carisma do mesmo, de seu impacto junto ao colégio eleitoral do COI e sobretudo uma avaliação precária das chances reais de Chicago por parte do Comitê Olímpico dos EUA, que teve uma batalha muito animosa que os membros europeus (maioria) sobre direitos de televisão e isso segundo eles poderia ter condenado Chicago. Assim Obama teria se exposto politicamente em um momento delicado. Em minha visão a ida de Obama foi uma tentativa dos organizadores da campanha de Chicago de criar o que os americanos chamam de “momentum” para sua campanha.
Do ponto de vista das relações internacionais e mais precisamente da política internacional a vitória do Rio de Janeiro foi uma conquista política internacional de prestigio? Ou o resultado de uma campanha eleitoral bem conduzida, já que o atingiu o público alvo, os membros votantes do COI?
Por isso há o muita calma nessa hora no título desse post por que o resultado foi obviamente um sucesso eleitoral em um tipo de política que é uma arena política internacional (portanto parte das relações internacionais), mas não uma arena diplomática.
Nesse sentido as políticas públicas são ferramentas acessórias que permitem a captação do evento, mas o evento em si foi uma conquista política do COB, que aprendeu com derrotas passadas a construir projetos melhores, há fazer campanha de um jeito melhor, de usa a imprensa de maneira positiva e assim conquistar o compromisso do Estado. Fosse para colocar em termos de quem obteve a vitória diria que foi uma vitória das relações internacionais do Brasil e não da diplomacia. O mesmo vale para a Copa do Mundo FIFA 2014.
Alguns hão de pensar que minimizo a ação ou o impacto da presença do presidente Lula como incentivador desse processo por questões partidárias ou ideológicas. Posso dizer que isso não é o que motiva essas linhas, por que é claro que sem a manutenção da estabilidade econômica, da continua redução da pobreza extrema, da segurança jurídica, da atração de investimentos externos, da expansão do mercado interno, além dos compromissos que as esferas de governos assumiram essas vitórias seriam impossíveis, mas nisso o governo participou como governo e os agentes envolvidos foram os agentes políticos, COB e CBF.
O discurso emotivo de vencimento de preconceitos cai por terra se lembrarmos que o México já realizou os dois eventos citados, claro que pesou o fato de a América do Sul não ter sediado nunca os jogos antes, mas pesou muito mais o fato de o Brasil está em um estágio de capacidade econômica e de atração de investimentos que dá segurança quanto a capacidade de honrar os compromissos assumidos. É natural que os políticos envolvidos queiram os louros da vitória (se me permitem o trocadilho olímpico), em minha opinião faz parte de ser político.
Essa escolha mostra como até mesmo a política internacional pode ser conduzida fora dos limites do Estado e mesmo no Estado fora dos limites da diplomacia é um exemplo vivo da existência e atuação de atores não estatais, quando vemos o poder que organizações não-governamentais como o COI e os comitês nacionais têm. E de como o Estado ainda é relevante quando vemos que esse é o ente garantidor desse compromisso. Um bom estudo de caso para professores e pesquisadores da Teoria das Relações Internacionais.
Quanto aos jogos não há dúvidas que temos capacidade humana e material de realizá-los, por sinal, um de seus efeitos marginais pode ser justamente uma sensível melhoria da capacidade e do nível de conhecimento dos empresários e empregados de setores como turismo, comunicações (T.I. Principalmente), transportes para citar alguns. Para não falar em ganhos esportivos, por que esse é um terreno pantanoso e não tenho conhecimentos técnicos para saber se em sete anos podemos catapultar o nível dos atletas brasileiros.
Hoje é sem dúvida um dia para celebrar a oportunidade que ter o “dead line” da Copa e das Olimpíadas podem trazer para superação de problemas e gargalos logísticos que compõem parte do chamado “Custo Brasil”, fica a esperança que de costas para a parede os governos rompam a inércia para criar soluções permanentes, mas em se tratando de Brasil, nunca sabemos, e é culpa nossa como sociedade.
Mas, esses eventos e seus desafios são uma oportunidade perfeita para mostrar que evoluímos como sociedade ao exigir transparência na alocação e uso de recursos públicos, que temos visão para perceber oportunidades de negócio e gerar renda e emprego. De todo jeito a bola e os aros estão na nossa quadra, agora é conosco com a sociedade brasileira, com nossos representantes eleitos e instituições.
Posso dizer que é uma chance de ouro para reforçar os valores democráticos e de bom uso do erário. Posso não estar particularmente otimista quanto a isso, mas não posso negar que existe essa possibilidade. Mesmo por que há muitos gestores públicos sérios e trabalhadores dispostos a fazer o estado mais eficiente e nossa vida mais simples. Contudo, como cidadão brasileiro tenho uma inevitável propensão ao pessimismo quanto ao uso do dinheiro público é como diz o velho adágio popular: “ Cão mordido de cobra, tem medo de lingüiça”.
No momento, apesar de tudo acima, não há fecho melhor que: “Parabéns Rio de Janeiro, primeira cidade sul-americana a sediar os jogos olímpicos”. E maneirem na marra!
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