Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Brasil

Sobre a política e suas narrativas por Creomar de Souza

A gravidade do momento político e econômico que o Brasil atravessa exige do cidadão contemplar alternativas e avaliar os argumentos das diversas correntes de opinião, nesse afã publico aqui com autorização expressa do autor um excelente texto sobre as narrativas em disputa mais acirrada pela condução coercitiva do ex-presidente Lula. Creomar de Souza (professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília) é uma das mais sensatas vozes desse país e um analista de uma serenidade ímpar. Leiam e reflitam. Ainda há intelectuais em Brasília. Sobre a política e suas narrativas Por Creomar de Souza Escrevo este texto sob o impacto imagético da entrada da Polícia Federal do Brasil na casa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O desdobramento da Operação Lava Jato em mais uma fase – relembrando um antigo sucesso dos videogames – e em mais um batismo – de fazer inveja a qualquer marqueteiro bem sucedido da Avenida Paulista – trazem à bai

Brasil e Venezuela: E um conselho inesperado

Nas minhas leituras diárias me deparei com uma reportagem interessante da Revista Político , que fala sobre um conselho do bilionário Warren Buffett a Sen. Elizabeth Warren, democrata que é umas das principais vozes por uma taxação mais dura dos investidores e banqueiros de Wall Street, no tom moralista que vem tomando conta desse debate em todo canto do mundo. Buffett sugere a senadora Warren que seja “menos indignada” em sua retórica e até mesmo menos raivosa e se preocupe em alcançar algo que mesmo que não seja o ideal, seja superior ao estado atual das coisas. Buffett não está sendo inovador na sugestão que manter o tom mais ameno, oferece aos adversários políticos a chance de chegar aos mínimos demoninadores comuns (pra roubar uma expressão da matemática), essa fala é uma defesa do pragmatismo e não do cinismo como pode parecer. Não é abrir mão dos ideais, mas aceitar que nem sempre é possível se implementar reformas profundas unilateralmente, a menos é claro, que não se tenha a

Migração Cuba e EUA: Uma breve resposta.

Não gosto de escrever para rebater o que outros escrevem, não sou ombudsman de ninguém e nem gosto da polêmica como mecanismo de aumento de audiência, mas vez ou outra lemos algo que não conseguimos não escrever sobre. E o que me motivou foi um texto do blog Outrofobia . O texto curtinho afirma em tom sério que a culpa pelos cubanos se lançarem ao mar é da política americana de garantir a permanência de quem conseguir chegar a sua costa. O autor chama essa política de asilo automático de política imigratória de “canalha & assassina” por que estimularia populações pobres a buscarem a vida nos Estados Unidos. Claro, como a nota é curta o autor fez um link para um texto de uma revista cubana que alonga a lógica que motivou a nota, que é um desdobramento dos velhos argumentos sobre a pobreza cubana ser fruto do embargo dos EUA e o estimulo a emigração dado pela lei seria uma ferramenta na guerra propagandista. Ninguém fala na vontade dos indivíduos de progredirem materialmente em

Dilma no G-20

A recém re-eleita presidente Dilma Rousseff foi para a Austrália participar do G-20, claro que havia uma enorme sombra perseguindo a mandatária com a nova rodada de prisões da Operação Lava-Jato. A agenda da presidente em Brisbane teve encontros bi-laterais importantes com o Xi Jinping e Ângela Merkel. Na reunião com o presidente chinês foi assinado um acordo que retirou o embargo à carne brasileira, uma boa notícia para um país com crescentes déficits em Conta Corrente. O Communiqué do encontro em suas 4 páginas de diplomatiquês deixa claro que foi uma reunião sem grandes avanços na coordenação da condução dos assuntos econômicos mundiais. Era esperado que fosse assim, já que pressões geopolíticas se impuseram entre os membros tornando ainda mais difícil encontrar coesão. O texto (que pode ser lido aqui ) mostra que geração de emprego e controle da relação PIB – Dívida Nacional continuam como temas urgentes no combate aos efeitos da crise de 2008. A crescente disputa entre a R

Soft Power ou ingerência?

O governo da Venezuela assinou um acordo de cooperação com o Movimento dos Sem Terra, como os dois atores são polêmicos (e polarizadores) é provável que muito se vá escrever e falar sobre essa parceria. É lugar comum dizer que Nye mudou a maneira como analistas de Relações Internacionais olham para a questão do poder e sua fungibilidade no Sistema Internacional (lócus onde interagem os Atores Internacionais como Estados, Organizações Internacionais e grupos de opinião e interesse específico como ambientalistas, por exemplo). Nye mostrou que há maneiras brandas, sedutoras de exercer poder, isto é, de influenciar atores para que tenham o comportamento desejado sem usar fatores coercitivos. Grosso modo, Soft Power tem maiores chances de funcionar quando o proponente da ação possui atratividade cultural, valores políticos claramente discerníveis na sua realidade interna e política externa vista como legitima e moralmente correta. Afinal, isso seria atrativo para outros atores. O ac

O valor do voto

Sabe quando você abre o editor de textos pra escrever sobre a eleição de amanhã e aí você desenha o esqueleto do texto e procura elementos pra adensar a reflexão que se propõe, então nessa caminhada você acaba se deparando com um escrito que toca com elegância e concisão no ponto que você queria fazer. Eu chamo esse processo de doce-desilusão. Doce por que ler coisas boas nutre o intelecto, desilusão por que o texto que se pretendia, já não é necessário. Queria escrever sobre o valor do voto na democracia, Paulo Roberto de Almeida chegou lá, antes de mim. Os radicais de vários matizes, orgulhosos de seu extremismo, desprezam a democracia, o sistema como gostam de chamar, colocam epítetos na democracia para na defesa do totalitarismo ou do autoritarismo possam dizer que defendem a democracia que seria verdadeira. Truque barato, que funciona. Quantos por dia não defendem uma intervenção militar ou a ruptura do sistema pela via esquerdista? Um problema que identifico em toda América

Eleição brasileira vista de Portugal, por Francisco Seixas da Costa

O ex-embaixador português no Brasil (leitor ocasional dessa página, para nosso orgulho) Francisco Seixas da Costa faz uma breve e elegante análise da visão portuguesa acerca do pleito brasileiro. O texto vai tal qual o original que pode ser lido aqui . Brasil Por Francisco Seixas da Costa Qual dos candidatos às eleições presidenciais brasileiras poderá, à partida, ser mais favorável aos interesses que a Portugal compete defender nas suas relações com aquele país? A recondução de Dilma Roussef será preferível à hipótese de eleição de Marina Silva ou à escolha, agora cada vez mais improvável, de Aécio Neves? Este exercício é apenas teórico, porquanto o bom senso recomenda que não nos imiscuamos numa compita que, sendo profundamente democrática, terá como resultante final a vontade  de um país que, em qualquer circunstância, permanecerá no quadro da nossa atenção próxima. Mas nem sempre foi assim. Durante muitos anos, a vida política interna brasileira, podendo ocupar o interesse

Dilma na ONU 2014

O discurso de abertura da Assembléia Geral das Nações Unidas é um privilégio brasileiro desde a fundação da ONU (o porquê disso é uma excelente história, se você não sabe, pesquise) e mais uma vez a presidente Dilma foi a ONU aproveitar o maior palco político planetário. Ano passado havia uma expectativa sobre o discurso da mandatária brasileira que se dava em meio ao escândalo da revelação da massiva – e abusiva – máquina de espionagem global da NSA. Esse ano a atenção, contudo, não foi a mesma. Comparada a estréia Dilma já se mostra mais a vontade nesse tipo de discurso, o conteúdo do discurso deixou claro o desprezo da presidente quanto aos assuntos externos e o papel secundário dado ao Itamaraty. Nenhum diplomata profissional permitiria que se trate crises diferentes como Rússia e Ucrânia e combate ao ISIS num só ‘balaio’. Dilma insistiu no velho discurso da reforma do Conselho de Segurança e da governança global, sem demonstrar liderança efetiva nesse sentido. Não concordo co

Eleições no Brasil: Visões contrarianistas

Dois textos fundamentais de Paulo Roberto de Almeida sobre as eleições, marcados pela iconoclastia – ácida por definição – que é núcleo duro do contrarianismo que por sua vez é um modo de ver o mundo com ceticismo e rigor intelectual, não é um ismo por se, mas uma atitude pragmática de ver as coisas. O que está em jogo nestas eleições: Reflexões de circunstância e de alguma constância Paulo Roberto de Almeida Eleições, todas elas, são, majoritariamente, um retrato instantâneo da realidade em que se vive, e, num segundo plano, mas de forma inconsciente ou minimizada, uma projeção utópica do futuro que se deseja. Ou seja, se espera que políticos – mandatários ou representantes do povo – possam fazer pelos seus eleitores aquilo que gostaríamos que eles fizessem por nós, todos nós. Trata-se, portanto, de um reflexo da conjuntura em que se vive e de uma esperança depositada num cenário prospectivo, que se imagina ser melhor do que o atual. Os militantes da causa, e os true believer

Manifesto sobre o caso envolvendo o Banco Central e o Economista Alexandre Schwartsman

Manifesto sobre o caso envolvendo o Banco Central e o Economista Alexandre Schwartsman* A recente notícia de uma ação judicial contra o economista Alexandre Schwartsman deixou-nos perplexos. Todos nos acostumamos, durante anos, a ouvir críticas muito piores e inverídicas – como a de que o BACEN seria manipulado pelos bancos – sem qualquer retaliação. O respeito à crítica e ao debate transparente sobre a condução da política monetária, inclusive, tem sido um aspecto fundamental da atuação do BACEN, progressivamente construído desde a estabilização, há mais de duas décadas. A judicialização como instrumento de repressão à divergência representa um retrocesso inaceitável. Felizmente, a denúncia não foi aceita pela justiça. A intolerância com a divergência e com a crítica ácida e o recurso da máquina pública para suprimir o contraditório, por meio da utilização de uma instituição pública para constranger alguém judicialmente, configuram uma prática incompatível com os valores que uma

A obsessão anti-americana de um ideólogo diplomático dos companheiros: algumas ideias fixas de Samuel Pinheiro Guimarães, por Paulo Roberto de Almeida

A vida é cheia de convergências (um jeito bonito de escrever e escapar de admitir que há algumas coincidências nesse mundo) ainda essa semana eu escrevia a um grande colega e amigo próximo sobre a proximidade intelectual que ele manteve com o Samuel Pinheiro Guimarães e que agora faz questão de “não lembrar” é claro que era uma saudável brincadeira entre amigos. Mas, não é que hoje o professor e diplomata Paulo Roberto de Almeida publicou um excelente texto respondendo ao Samuel e tocando de leve nas consquências que o livre pensamento pode trazer a quem segue uma carreira pública. Samuel Pinheiro é celebrado e de certo modo idolatrado e críticas a ele são raras e podem gerar estranheza em alguns. Leiam e reflitam sobre o que vai abaixo, não tenham medo da leitura longa com uma forte e lógica conclusão. A obsessão anti-americana de um ideólogo diplomático dos companheiros: algumas ideias fixas de Samuel Pinheiro Guimarães Paulo Roberto de Almeida Antigamente, muito antigamente

A Guerra do Paraguai e a historiografia. Uma entrevista de Francisco Doratioto

Franscisco Doratioto é um dos mais renomados acadêmicos brasileiros, homem sério e afável, tive a sorte de conviver com ele nos tempos em que ele era professor na Universidade Católica de Brasília, mas tive o azar de não ter sido seu aluno (quando ele foi contratado já havia feito as disciplinas que ele lecionaria). A dedicação de Doratioto ao estudo da Guerra do Paraguai é sua preciosa colaboração ao pensamento brasileiro. A Guerra do Paraguai precisa ser mais conhecida e os enormes volumes de informação já coletados pela historiografia mais difundidos, ainda há muitos que por ideologia e desconhecimento atribuem a guerra ao imperialismo inglês. É um desses casos que contra opiniões não existem fatos. A história da Guerra do Paraguai é um desses momentos em que uma série de políticas e alianças colocam dois inimigos em conjunção contra um aliado natural, afinal é fácil perceber que tanto Brasil quanto a Argentina teriam muito a ganhar mantendo um Paraguai independente e servindo d