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Dilma no G-20

dilmag20 A recém re-eleita presidente Dilma Rousseff foi para a Austrália participar do G-20, claro que havia uma enorme sombra perseguindo a mandatária com a nova rodada de prisões da Operação Lava-Jato.

A agenda da presidente em Brisbane teve encontros bi-laterais importantes com o Xi Jinping e Ângela Merkel. Na reunião com o presidente chinês foi assinado um acordo que retirou o embargo à carne brasileira, uma boa notícia para um país com crescentes déficits em Conta Corrente.

O Communiqué do encontro em suas 4 páginas de diplomatiquês deixa claro que foi uma reunião sem grandes avanços na coordenação da condução dos assuntos econômicos mundiais. Era esperado que fosse assim, já que pressões geopolíticas se impuseram entre os membros tornando ainda mais difícil encontrar coesão. O texto (que pode ser lido aqui) mostra que geração de emprego e controle da relação PIB – Dívida Nacional continuam como temas urgentes no combate aos efeitos da crise de 2008.

A crescente disputa entre a Rússia e o Ocidente deu tom geral da reunião. Qualquer acordo seria dificultado, uma oportunidade excelente para que os emergentes, oportunidade é claro que exigiria muito compromisso e habilidade política de quem se predispusesse a serenar os ânimos. O Brasil não demonstrou nenhum movimento nesse sentido, o que se coaduna com o baixo perfil da diplomacia da administração Rousseff.

Aliás, a presidente, em coletiva disse sobre a Ucrânia:

“O Brasil, no caso da Ucrânia, nunca definiu uma posição. Nós nunca nos manifestamos e evitamos sistematicamente nos envolver em assuntos internos. Não é do interesse do governo brasileiro se manifestar a respeito de qualquer problema dentro da Ucrânia, nem de um lado nem de outro”.

Essa fala da presidente reforça o que eu já havia escrito aqui, em 3 de setembro:

“O problema é quando parceiros estratégicos de alto relevo agem de maneira controversa e essa aliança acaba impondo um silêncio conivente do Brasil, para um país que tem buscado com muito afinco o status de Ator Global, ou seja, por definição uma voz relevante nos assuntos planetários. E esse projeto tem se calcado na aliança com os outros gigantes emergentes.

[...]A Rússia tem se envolvido em violações da soberania Ucraniana. E a tradição diplomática brasileira sempre foi visceralmente avessa a esse tipo de violação, mas nesse caso tem mantido um silêncio loquaz. E nem vou levar em consideração os que por ideologia ou apreço a conspiração que tacham os ucranianos de nazistas.”

Dilma conseguiu um acordo com a China muito aguardado pelo agronegócio brasileiro, e talvez pela demonização desse setor pelos grupos mais vocais da base da presidente, esse acordo não foi muito celebrado com o triunfalismo governamental típico desses momentos. Claro, que as prisões de diretores da Petrobras e de grandes executivos das principais empreiteiras do país empurraram o governo pra defensiva. Não é surpresa que esse escândalo ofusque as ações presidenciais, afinal a Petrobras é a menina dos olhos da visão de estatismo indutor da economia tão defendido (e popular) no Brasil. Além disso, a Política Externa sob a gestão Dilma foi enfraquecida em prestígio e orçamento e a participação de Dilma no G-20, mostra que nem a pressão por um menor déficit externo parece ter mudado o lócus dos assuntos externos na agenda da mandatária.

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