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Mostrando postagens com o rótulo Questões Básicas

A punição a Raif Badawi

Ontem escrevi en passant sobre os conflitos internos sobre os rumos das civilizações e sobre as forças de manutenção cultural tendem a se valer de leis draconianas para artificialmente coibir a força natural pela mudança que existe em qualquer agrupamento humano e como a comparação (facilitada pela migração e tecnologia) entre civilizações pode ser uma força importante. Um exemplo, extremo desse fenômeno é a punição administrada ao blogueiro saudita Raif Badawi, 1.000 chibatadas. Acredito que nem a mais relativista das almas consegue não se escandalizar diante das 1.000 chibatadas. O The Guardian fez uma boa seleção de citações do blog (hoje encerrado, obviamente) de Badawi destaco algumas, que são analises sobre a realidade de seu país e de sua ‘civilização’. Sobre liberdade de expressão e inovação: As soon as a thinker starts to reveal his ideas, you will find hundreds of fatwas that accused him of being an infidel just because he had the courage to discuss some sacred

A luta interna e os deixados pra trás

Uma das primeiras lições que eu tive sobre ciência falava da motivação pra pesquisar, que deveria advir de uma inquietação diante da lacuna da bibliografia sobre certo assunto, ou sobre a insuficiência das explicações encontradas afinal, ninguém faz ciência pra redescobrir a gravidade. Há muito que uma explicação comum para os conflitos atuais me gera um elevado desconforto, que é a idéia que os grandes problemas de segurança atuais (terrorismo e etc.) são originados pelo Choque de Civilizações. Não é que eu minimize os aspectos culturais e civilizacionais, mas é por que essa explicação não absorve tão bem as lutas intra-civilizacionais (com perdão do neologismo). Por um bom tempo fui adepto das análises em rede, por isso, por saber que idéias, causas e conceitos viajam entre civilizações e mais criam grupos de opinião transnacionais. Isso quer dizer que há mais no terrorismo que a dicotomia ocidente e oriente, entre cristandade e islã. Há forças internas nessas civilizações disputan

Os adesivos por Francisco Seixas da Costa

Já escrevi inumaras vezes aqui que trabalhar com Relações Internacionais é por vezes ter que conviver com gente “imprópria” para o consumo humano, ou seja, presidentes são fotografados dando as mãos a déspotas. No texto que reproduzo abaixo (original aqui ) o ex-embaixador de Portugal no Brasil, o grande diplomata Francisco Seixas da Costa nos conta de maneira leve um desses episódios e ainda nos dá uma boa receita para minimizar os incômodos que fotos podem nos trazer. Os adesivos Por Francisco Seixas da Costa Um dia, no Brasil, ao tempo em que eu era por lá embaixador, uma figura da Justiça aproximou-se de mim, depois de um jantar, e perguntou-me, discretamente, se eu conhecia uma determinada pessoa. O nome não me dizia nada, pelo que devo ter respondido negativamente. "É estranho, porque há uma fotografia dele consigo num processo que lhe foi movido por uma grave acusação e pelo qual ele está em prisão preventiva". Fiquei siderado! Tomei nota do nome do detido e,

Uma análise crítica sobre a prisão dos ativistas do Greenpeace e o Direito dos mares, por Guilherme Carvalho

Abrindo espaço novamente para Guilherme Carvalho, que aborda a questão das correntes de opinião transnacionais e seu natural confronto com as soberanias estabelecidas, que em conjunto criam os diplomas legais, além de deterem o monopólio do uso da força, embora o noticiário nos mostre que grupos transnacionais podem desafiar Estados mais débeis na questão militar. O artigo aborda a prisão de ativistas do Greenpeace, na Rússia, a luz da legislação internacional. Assunto de grande interesse econômico para o Brasil cada vez mais investindo em peso em prospecção de petróleo no mar territorial ou na Zona Econômica Exclusiva. Uma análise crítica so bre a prisão dos ativistas do Greenpeace e o Direito dos mares Por Guilherme Carvalho* Ao iniciar essa análise, é importante salientar que a questão da soberania é um senso comum dentro do estudo das Relações Internacionais, além, claro um outro pilar da mesma, é a razão de Estado que para alguns dos analistas mais realistas, são os grand

O terceiro reich: uma construção linguística, por Guilherme Carvalho

Conheci Guilherme Carvalho quando fui à Goiânia para palestrar no II EACRI e chamou a minha atenção a paixão que ele falava sobre um artigo seu aprovado para apresentação, naturalmente pedi um resumo para compartilhar com vocês. Não é a linha de pensamento que eu sigo, mas esse é o “barato” da pluralidade de ideias. Leiam o excelente texto do Guilherme. O terceiro reich: uma construção linguística Por Guilherme Carvalho* O terceiro reich, como uma das maiores catástrofes nos mais diversos âmbitos da sociedade contemporânea, surgiu através de uma série de fatores sociais, econômicos e filosóficos. Mas a adesão ao ideal do nacional socialismo, como ideologia, movimento social e estilo de vida, só conseguiu a adesão das massas, através de uma série de fatores exógenos expostos para a sociedade (bandeiras, uniformização e padronização de comportamento). Esses fatores exógenos por sua vez, são a materialização dos fatores endógenos (crenças, credos e ideologia). A transmissão das i

Evento: I Fórum Universitário de Paradiplomacia, SP 22/23 de maio

Aos que não puderem comparecer ao II EACRI e assistir ao debate que participarei dia 21 (para saber clique no cartaz ao lado). A Assessoria Especial para Assuntos Internacionais do governo do Estado de São Paulo realiza o I Fórum Universitário de Paradiplomacia, nos dias 22 e 23 no Palácio dos Bandeirantes. Com direito a simulação de negociação paradiplomática que é sempre uma atração. Abaixo segue o release do evento. I Fórum Universitário de Paradiplomacia A emergência da paradiplomacia – as relações internacionais exercidas por governos subnacionais – é um fenômeno que deve ser amplamente discutido por profissionais da área, bem como estudado e compreendido por futuros bacharéis em Relações Internacionais. A possibilidade de atividades internacionais serem promovidas por entes subnacionais confere mais oportunidades aos estados, regiões e cidades para responderem às suas demandas locais. Tendo isso em vista, a Assessoria Especial para Assuntos Internacionais idealizo

Profissão internacionalista: Um relato da vida real

Uma pergunta está presente sempre que recebo um e-mail perguntando sobre o curso e a carreira em Relações Internacionais ou quando falo a secundaristas sobre o assunto é a famosa “Quem faz RI viaja muito, né?”. A minha resposta é sempre um enigmático – e por vezes, decepcionante – depende. Isso porque há vários tipos de inserção profissional possível e alguns de nós temos uma maior necessidade de rotina e dificuldades de sair da base. Bom, está claro que estou nesse grupo, talvez seja meus 1,91m que tornem toda a experiência de voar constantemente um tanto desconfortável, até mesmo dolorida e a insônia torna dormir em diversos fusos e camas de hotel um desafio hercúleo, não me levem a mal, adoro fazer turismo, mas viajar a trabalho é pegado. Mas, como reconheço que minha habitual verve ranzinza pode atrapalhar a análise da questão trago o depoimento da minha querida amiga, colega de universidade e linda chefe, Carolina Valente* que além de empreendedora dedicada na sua empresa a

Uma dica para os jovens selecionados para Relações Internacionais, no Sisu 2014

Antes de qualquer coisa deixo aqui meus parabéns aos jovens que acabam de ingressar no ensino superior seja pelo SISU, seja pelos arranjos tradicionais como vestibulares e vestibulares seriados. Vocês acabam de chegar ao mundo das Relações Internacionais, no qual a leitura solitária e por conta própria (isto é, além da recomendada pelos professores) é fundamental para uma boa formação, mas como no Brasil o acesso aos livros ainda é complicado (leia-se caro) e as bibliotecas nem sempre estão atualizadas deixo aqui duas alternativas para ajudá-los na busca por uma melhor formação. A primeira dica é a página da loja virtual da FUNAG . A FUNAG é uma fundação pública, pertencente ao Ministério das Relações Exteriores que objetiva a promoção cultural e educacional, mas o mais importante é que muitos livros da FUNAG possuem a opção de download gratuito. Claro, que como uma fundação estatal é preciso levar em conta que alguns de seus livros veiculam a verdade oficial, ou o ponto de vist

Crise no Curso de RI da UTP. Uma história que importa a todos nós

Tenho um enorme carinho pelo curso de Relações Internacionais da Universidade Tuiuti do Paraná – UTP. Alguns grandes amigos que fiz graças aos congressos e eventos de RI pelo mundo são graduados por essa instituição que mantinha um curso sério e estruturado. Contudo, tomei conhecimento pelas redes sociais da situação precária que se encontra o curso, que parece inclusive estar em processo de fechamento o que é traumático para os que ainda estão nessa graduação e muito ruim para quem cursou com afinco e dedicação e depositou confiança numa instituição. Não estou a par dos motivos do fechamento, mas não é difícil pensar que passam necessariamente por má-gestão e dá mostras de problemas maiores na instituição como o todo. Ao que tudo indica para amenizar a transição a universidade ofertou a possibilidade de bi-titulação Relações Internacionais e Economia, formula adotada com sucesso em outras instituições, notadamente a FACAMP. A crise da UTP pode ser um “cautionary tale” nesse rescald

99%?

Nesse sábado passado, dia 15 de outubro, o movimento Occupy Wall Street recebeu solidariedade global de vários grupos que embora não filiados formalmente comungam do mesmo ideário anticapitalista dos ocupantes nova-iorquinos. Do ponto de vista da teoria das relações internacionais o evento foi mais um exemplo de como grupos de opinião pública se organizam de maneira trasnfronteiriça para influenciar temas da agenda internacional. E, mais uma vez corroboram a importância crescente dos atores não-estatais na formulação da agenda internacional e dos regimes internacionais. É claro que esses grupos não desenvolvem uma política externa própria, não possuem o aparato formal e nem as bases de poder para isso, mas se concentram em influenciar os tomadores de decisão, tanto pela via tradicional nas democracias que é o voto, como pela pressão da opinião pública, de certo modo parece ser uma evolução da tática normal desses grupos de concentrarem suas ações quando ocorre algum tipo de reunião

A vida é Newtoniana, o mundo é Newtoniano. Ou um texto doloroso

Esse não é um texto sobre RI. É um desabafo que preciso fazer. Vez ou outra algo mais filosófico atravessa nossa vida cotidiana atribulada e um tanto fechada no imediatismo dos resultados e metas e somos forçados a confrontar a realidade que é sabida, mas passa a ser sentida. Explico com um exemplo, todos sabemos que a pobreza extrema é algo terrível, não precisa ser um bleding heart para sentir empatia com alguém que sobrevive com menos que o mínimo. Mas, é outra coisa ser confrontado com um individuo nessa situação é outra coisa conhecer seu nome, sua história e perceber a total falta de opções reais. É claro que o primeiro impulso é ajudar e ser solidário. Mas, o problema não se resolve só com caridade pura e simples. Fui confrontado esses dias com uma história assim que reforçou em mim a convicção de como o vicio em álcool e drogas conjugado ao rompimento da rede de amparo familiar acaba por gerar uma situação de dependência da assistência oficial, que é vergonhosamente ineficie

Empregos em RI: Esperança renovada

“A esperança não é nem realidade nem quimera. É como os caminhos da terra: na terra não havia caminhos; foram feitos pelo grande número de passantes.” Lu Hsun. In “O país natal”. O tema empregabilidade domina os e-mails que recebo de leitores e os fóruns dedicados a relações internacionais. Não por acaso deve haver pelo menos 30 textos dedicados ao tema nesse site. E sempre tento passar minha experiência e as dos meus amigos que acompanho de perto. O tema sempre volta, por que sejamos francos nos sustentar é algo importante e vital se me permitirem essa tautologia. Pois bem, no próximo dia 19 de novembro ocorrerá uma grande festa que encerrará os festejos de 15 anos de existência do Curso de graduação em Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília. E como parte dos preparativos para essa data temos empreendido um esforço para “rastrear” todos os egressos de nosso curso. Nesse esforço temos criado uma rede de contatos e o que os dados empíricos me mostram é um tes

III – FoCO – RI – Mídia e Política Internacional. 2 de setembro, Brasília

Estive na manhã da sexta-feira passada, dia 2 de setembro, no Auditório do UniCEUB, em Brasília para participar do workshop “Mídia e Política Internacional” no III Fórum Centro-Oeste de Relações Internacionais. Estiveram comigo na mesa os jornalistas Ivan Lopes de Godoy, da Rádio Senado, Manuel Martinez, do Correio Brasiliense e Marcelo Rech editor do portal InfoRel . E no comando dos trabalhos a sempre elegante, assertiva e querida professora Dra. Tânia Manzur , que anos antes foi minha professora de HRIB, na boa e velha UCB. Que conduziu os trabalhos de maneira magistral. Ivan Godoy compartilhou conosco sua experiência como correspondente e de como estar em loco, respirar o ar é importante para tecer analises profundas. Infelizmente por um atraso meu não pude assistir toda sua explanação que pela conversa agradável que tivemos no almoço do evento foi profunda e precisa. Manuel Martinez trouxe com seu bom humor e ironia uma visão prática e sem romantismos da profissão de jornalis

Outra face, o mesmo extremismo

O artista gráfico Shepard Fairey, autor do icônico cartaz de campanha de Barack Obama foi agredido na Dinamarca por extremistas ligados a movimentos anarquistas, que segundo as reportagens, não gostaram de um mural do artista. Mais uma vez vem dos ricos e desenvolvidos países nórdicos uma lembrança de como o extremismo é perigoso e como sempre digo não importa a suposta causa do extremista nem sua filiação ideológica, no fundo são todos ‘farinha do mesmo saco’. Há algumas semanas os analistas políticos dos meios de comunicação e da academia nos alertavam dos perigos do crescimento da extrema direita, que segundo alguns seria mais grave, urgente e real que o extremismo religioso, principalmente mulçumano. Um professor de História Contemporânea da UFRJ chegou até a dizer na Globo News que o ato em Oslo foi mais político que o 11 de setembro. Não vejo motivos racionais e objetivos para essa escala feita pelo ilustre professor, quero crer que a declaração foi motivada pelo choque das

Anarchy in the UK

“I'm antichrist, I'm anarchist, don't know what I want But I know how to get it I wanna destroy the passerby” Sex Pistols. Nesse aniversário de 6 meses da chamada “Primavera Árabe” outro grupo de jovens enfrenta a polícia nas ruas de uma cidade densamente povoada, mas dessa vez não foi numa milenar capital do Oriente Médio e sim na igualmente milenar cidade de Londres, que uma vez não há muito tempo foi a capital de um Império sobre o qual o sol nunca se punha. Essa revolta não possui o caráter libertário e esperançoso das revoltas árabes em que homens e mulheres, jovens e velhos se juntam para tomar em suas mãos a rédeas de sua sociedade e nesse contexto é natural que todo tipo de opinião lute pela supremacia até mesmo as estapafúrdias posições extremistas. Em Londres a revolta juvenil se alastra não pela luta pela liberdade, mas como a expressão de uma raiva, de um ressentimento. Não vou fazer sociologia barata e dizer que é a expressão do rancor dos que sofrem com ra

Ler, Refletir e Pensar: Geopolitical Journey: Indonesia's Global Significance

Nesse domingo seleciono mais uma vez um texto do sempre excelente STRATFOR, escrito por George Friedman que desta feita parte de um curioso relato pessoal para construir a jornada da Indonésia, que com algumas adaptações bem poderia ser a história do Brasil (ou mesmo da minha própria família no que diz respeito a rápida transição de uma situação de trabalhos de quase subsistência para educação de nível superior num espaço de três – quatro gerações). Indonésia é um país cuja observação é obrigatória para qualquer um que se julgue analista de relações internacionais por seu potencial para ser uma prospera economia e democracia muçulmana e asiática, que pode servir como exemplo para movimentos democráticos nas sociedades muçulmanas e mais também é preciso observar como esse país lida com as pressões de extremistas que já realizaram ataques terroristas, como os de Bali, 2002 . Além disso, há o doloroso processo de reconstrução diante do terrível Tsunami, em 2004. O leitor assíduo (existi