Pular para o conteúdo principal

A punição a Raif Badawi

raif-badawi1_0Ontem escrevi en passant sobre os conflitos internos sobre os rumos das civilizações e sobre as forças de manutenção cultural tendem a se valer de leis draconianas para artificialmente coibir a força natural pela mudança que existe em qualquer agrupamento humano e como a comparação (facilitada pela migração e tecnologia) entre civilizações pode ser uma força importante.

Um exemplo, extremo desse fenômeno é a punição administrada ao blogueiro saudita Raif Badawi, 1.000 chibatadas. Acredito que nem a mais relativista das almas consegue não se escandalizar diante das 1.000 chibatadas.

O The Guardian fez uma boa seleção de citações do blog (hoje encerrado, obviamente) de Badawi destaco algumas, que são analises sobre a realidade de seu país e de sua ‘civilização’.

Sobre liberdade de expressão e inovação:

As soon as a thinker starts to reveal his ideas, you will find hundreds of fatwas that accused him of being an infidel just because he had the courage to discuss some sacred topics. I’m really worried that Arab thinkers will migrate in search of fresh air and to escape the sword of the religious authorities.

Secularismo:

Secularism respects everyone and does not offend anyone ... Secularism ... is the practical solution to lift countries (including ours) out of the third world and into the first world.

e;

I’m not in support of the Israeli occupation of any Arab country, but at the same time I do not want to replace Israel by a religious state ... whose main concern would be spreading the culture of death and ignorance among its people when we need modernisation and hope. States based on religious ideology ... have nothing except the fear of God and an inability to face up to life. Look at what had happened after the European peoples succeeded in removing the clergy from public life and restricting them to their churches. They built up human beings and (promoted) enlightenment, creativity and rebellion. States which are based on religion confine their people in the circle of faith and fear.

Sobre o terrorismo de inspiração islâmico:

What hurts me most as a citizen of the area which exported those terrorists ... is the audacity of Muslims in New York that reaches the limits of insolence, not taking any regard of the thousands of victims who perished on that fateful day or their families. What increases my pain is this [Islamist] chauvinist arrogance which claims that innocent blood, shed by barbarian, brutal minds under the slogan “Allahu Akbar”, means nothing compared to the act of building an Islamic mosque whose mission will be to ... spawn new terrorists ... Suppose we put ourselves in the place of American citizens. Would we accept that a Christian or Jew assaults us in our own house and then build a church or synagogue in the same area of the attack? I doubt it. We reject the building of churches in Saudi Arabia, not having been assaulted by anyone. Then what would you think if those who wanted to build a church are the same people who stormed the sanctity of our land? Finally, we should not hide that fact that Muslims in Saudi Arabia not only disrespect the beliefs of others, but also charge them with infidelity to the extent that they consider anyone who is not Muslim an infidel, and, within their own narrow definitions, they consider non-Hanbali [the Saudi school of Islam] Muslims as apostates. How can we be such people and build ... normal relations with six billion humans, four and a half billion of whom do not believe in Islam.

As mil chibatadas em Badawi são um drama humanitário e uma história tristemente exemplar sobre os conflitos internos nas civilizações e nos lembram uma vez mais como é incompleta a explicação do terrorismo e autoritarismo somente pela luta de civilizações, ou como culpa do imperialismo “ianque” (como gostam de dizer).

Não entendam esse texto como uma apologia de uma pretensa superioridade do ocidente que seria o exemplo máximo, por que no seio do ocidente os mesmos temas estão presente e causam acalorados debates, mas é aí que reside o ponto, não é mesmo? Afinal, é contra um debate amplo com alternativas múltiplas que se insurgem os radicais, claro que dão nomes como ocidentalização e infiéis, por que como sabemos palavras além de sua carga semântica, carregam uma forte carga emocional.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Colômbia – Venezuela: Uma crise previsível

A mais nova crise política da América do Sul está em curso Hugo Chávez o presidente da República Bolivariana da Venezuela determinou o rompimento das relações diplomáticas entre sua nação e a vizinha Colômbia. O fez em discurso transmitido ao vivo pela rede Tele Sur. Ao lado do treinador e ex-jogador argentino Diego Maradona, que ficou ali parado servindo de decoração enquanto Chávez dava a grave noticia uma cena com toques de realismo fantástico, sem dúvidas. Essa decisão estar a ser ensaiada há tempos, por sinal em maio de 2008 seguindo o ataque colombiano ao acampamento das FARC no Equador. Por sinal a atual crise está intimamente ligada aquela uma vez que é um desdobramento natural das acusações de ligação entre a Venezuela e os narco-gueriilheiros das FARC. Nessa quarta-feira o presidente da Colômbia (e de certa maneira o arquiinimigo do chavismo na América do Sul) Álvaro Uribe, por meio de seus representantes na reunião da OEA afirmou que as guerrilhas FARC e ELN estão ativas...

Fim da História ou vinte anos de crise? Angústias analíticas em um mundo pandêmico

O exercício da pesquisa acadêmica me ensinou que fazer ciência é conversar com a literatura, e que dessa conversa pode resultar tanto o avanço incremental no entendimento de um aspecto negligenciado pela teoria quanto o abandono de uma trilha teórica quando a realidade não dá suporte empírico as conjecturas, ainda que tenham lógica interna consistente. Sobretudo, a pesquisa é ler, não há alternativas, seja para entender o conceito histórico, ou para determinar as variáveis do seu experimento, pesquisar é ler, é interagir com o que foi lido, é como eu já disse: conversar com a literatura. Hoje, proponho um diálogo, ou pelo menos um início de conversa, que para muitos pode ser inusitado. Edward Carr foi pesquisador e acadêmico no começo do século XX, seu livro Vinte Anos de Crise nos mostra uma leitura muito refinada da realidade internacional que culminou na Segunda Guerra Mundial, editado pela primeira vez, em 1939. É uma mostra que é possível sim fazer boas leituras da história e da...

Sobre a política e suas narrativas por Creomar de Souza

A gravidade do momento político e econômico que o Brasil atravessa exige do cidadão contemplar alternativas e avaliar os argumentos das diversas correntes de opinião, nesse afã publico aqui com autorização expressa do autor um excelente texto sobre as narrativas em disputa mais acirrada pela condução coercitiva do ex-presidente Lula. Creomar de Souza (professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília) é uma das mais sensatas vozes desse país e um analista de uma serenidade ímpar. Leiam e reflitam. Ainda há intelectuais em Brasília. Sobre a política e suas narrativas Por Creomar de Souza Escrevo este texto sob o impacto imagético da entrada da Polícia Federal do Brasil na casa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O desdobramento da Operação Lava Jato em mais uma fase – relembrando um antigo sucesso dos videogames – e em mais um batismo – de fazer inveja a qualquer marqueteiro bem sucedido da Avenida Paulista – trazem à bai...