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Mostrando postagens com o rótulo Teoria das Relações Internacionais

A luta interna e os deixados pra trás

Uma das primeiras lições que eu tive sobre ciência falava da motivação pra pesquisar, que deveria advir de uma inquietação diante da lacuna da bibliografia sobre certo assunto, ou sobre a insuficiência das explicações encontradas afinal, ninguém faz ciência pra redescobrir a gravidade. Há muito que uma explicação comum para os conflitos atuais me gera um elevado desconforto, que é a idéia que os grandes problemas de segurança atuais (terrorismo e etc.) são originados pelo Choque de Civilizações. Não é que eu minimize os aspectos culturais e civilizacionais, mas é por que essa explicação não absorve tão bem as lutas intra-civilizacionais (com perdão do neologismo). Por um bom tempo fui adepto das análises em rede, por isso, por saber que idéias, causas e conceitos viajam entre civilizações e mais criam grupos de opinião transnacionais. Isso quer dizer que há mais no terrorismo que a dicotomia ocidente e oriente, entre cristandade e islã. Há forças internas nessas civilizações disputan

Uma análise crítica sobre a prisão dos ativistas do Greenpeace e o Direito dos mares, por Guilherme Carvalho

Abrindo espaço novamente para Guilherme Carvalho, que aborda a questão das correntes de opinião transnacionais e seu natural confronto com as soberanias estabelecidas, que em conjunto criam os diplomas legais, além de deterem o monopólio do uso da força, embora o noticiário nos mostre que grupos transnacionais podem desafiar Estados mais débeis na questão militar. O artigo aborda a prisão de ativistas do Greenpeace, na Rússia, a luz da legislação internacional. Assunto de grande interesse econômico para o Brasil cada vez mais investindo em peso em prospecção de petróleo no mar territorial ou na Zona Econômica Exclusiva. Uma análise crítica so bre a prisão dos ativistas do Greenpeace e o Direito dos mares Por Guilherme Carvalho* Ao iniciar essa análise, é importante salientar que a questão da soberania é um senso comum dentro do estudo das Relações Internacionais, além, claro um outro pilar da mesma, é a razão de Estado que para alguns dos analistas mais realistas, são os grand

Rússia, Ucrânia, UE e EUA: Uma questão de profundidade, near abroad e algumas lições históricas

Putin não é um homem simpático aos olhos do ocidente, suas manobras para se manter no poder indeterminadamente frustraram a esperança global de ver o ‘fim da história’, ou posto de outra maneira frustraram as esperanças de um aprofundamento da Terceira Onda de Democratização propagada pela ruína do império soviético. A Rússia não é exatamente uma ditadura escancarada como a China, nem é uma democracia em pleno funcionamento, como o poder da presidência de nomear governadores nos mostra. Mas, simpático ou não Putin é um político habilidoso e um líder capaz de galvanizar apoio em seu país. Como político habilidoso que é o ex-oficial da KGB e FSB sempre soube cuidar da sua imagem e seu branding é o do homem forte, sério e capaz de manter a ordem, a lei e de restaurar a dignidade e grandeza russa. Em 1999, quando substitui um enfraquecido Boris Ieltsin sua relativa juventude (possuía apenas 47 anos) e seu vigor físico chamavam a atenção do povo russo habituado com líderes soviéticos ido

Stratfor: The Asian Status Quo por Kaplan e Gertken

Nesse excelente artigo de Robert D. Kaplan e Matt Gertken é feita uma análise da situação da distribuição do poder na Ásia e para isso a dupla se vale dos conceitos realistas de Morgenthau para iniciar essa viagem teórica e analítica e para os jovens estudantes de RI é uma boa oportunidade de ver na prática o diálogo entre a Teoria das Relações Internacionais e a análise da realidade contemporânea, ou seja, aplicada a um caso concreto. Espero que seja útil nessa véspera de saída pro carnaval. " The Asian Status Quo is republished with permission of Stratfor." por Robert D. Kaplan e Matt Gertken Arguably the greatest book on political realism in the 20th century was University of Chicago Professor Hans J. Morgenthau's Politics Among Nations: The Struggle for Power and Peace, published in 1948. In that seminal work, Morgenthau defines the status quo as "the maintenance of the distribution of power that exists at a particular moment in history." In other w

Uma questão de liderança ou uma provocação solitária aos acadêmicos

Há uma tendência geral em quase todas as correntes de teóricas das Relações Internacionais de focarem suas análises no âmbito sistêmico, tentando encontrar o que os historiadores das relações internacionais chamam de “Forças Profundas” que delimitam os acontecimentos e formam as condicionantes que constroem a realidade internacional. Ainda que a questão do nível de análise seja muito bem tratada na literatura contribuindo para isso o trabalho seminal de Kenneth Waltz que demonstra quão importante são as idiossincrasias dos líderes e tomadores de decisão e como em confluência com outros fatores determinam os resultados das políticas. A meu ver, faltam estudos sobre o líder e a capacidade de liderança na seara internacional. O líder e as qualidades da liderança parecem, é claro, nos trabalhos de alguns pesquisadores de relevância no campo das relações internacionais impossível não citar o clássico (e insuportável) Diplomacy de Henry Kissinger que aborda o tema, mas obviamente não é

China e EUA: Soft Power do Basquetebol

De modo geral o Soft Power pode ser compreendido como o conjunto das capacidades de influenciar o comportamento dos atores do sistema internacional sem o uso direto de medidas de força (sanções, pressões militares). O Soft Power é assim “um doce jogo de persuasão” nas palavras de Paulo Roberto de Almeida. Nesse tipo d e ação internacional o que os atores buscam é a influencia e os bens culturais e as idéias são grande meios de exercer essa influência. Nesse sentido é comum que se veja os países se valendo de coisas que comprem boa vontade, por exemplo, o Brasil sempre que pode se vale de suas estrelas do futebol, seja num jogo amistoso no Haiti, seja presenteando líderes estrangeiros com camisas autografadas da seleção. Não é novidade que o esporte seja usado ou cooptado para disputas políticas os dois vergonhosos boicotes aos jogos olímpicos de 1980 e 1984, em Moscou e Los Angeles, respectivamente, nos ensinaram isso de modo claro. Aqui farei um breve parêntese, como os meus leitor

C 40 e a Paradiplomacia

Ocorre em São Paulo a reunião do grupo C 40 que reúne os prefeitos (ou equivalente) das 40 maiores cidades (ou regiões metropolitanas) do mundo. Esse grupo que é heterogêneo em termos culturais e políticas enfrenta desafios comuns como administrar cidades enormes e enfrentar problemas de trânsito, mobilidade urbana, segurança e mudanças climáticas. Sendo esse ultimo item o que sucitou a criação do grupo e o que lhe dá maior notoriedade. Nesse sentido os prefeitos trocam experiências no cumprimento de metas acordadas. É bastante interessante para o observador de política internacional acompanhar esse experimento que chamamos de paradiplomacia (na lateral há links para textos meus que versam mais profundamente sobre o tema), que em termos amplos é toda ação externas de entes estatais subnacionais. Em outras palavras são ações internacionais de Estados e Municípios (ou equivalentes práticos). É interessante perceber como o interesse local mais restrito que é a vida na sua cidade pode

Relações Internacionais no Brasil. Uma sugestão de leitura

O leitor assíduo dessa página sabe que de tempos em tempos eu toco em assuntos teóricos e meta-teóricos. E dessa feita os convido novamente a refletir sobre nossa profissão, melhor sobre a nossa ciência. Nesse sentido vi uma excelente reflexão no número de janeiro-fevereiro do Boletim Meridiano 47. Que toca numa questão que sempre trago aqui que é a tendência de fiar-se demais na versão oficial do Itamaraty. É claro que parte disso decorre da excelente qualidade acadêmica de vários diplomatas e do fato do Ministério possuir na Funag um excelente órgão de propagação da suas teses com publicações de qualidade e de baixo ou nenhum custo. Não canso de recomendar que vocês sejam críticos da versão oficial, pois bem reitero a recomendação e agrego alguns trechos nesse sentido do artigo de Rogério de Souza Farias. Recomendo, também, que leiam a íntegra e o resto da revista. O que pode ser problemático, nesses termos, é a forma pela qual o Itamaraty consegue não só determinada autonom

Vídeo: Debate sobre “The Future of Power” novo livro de Joseph Nye

Por conta da boa repercussão e certa comoção dos vídeos de ontem repito hoje, uma vez que continuo sem a disponibilidade para escrever os textos que vocês estão acostumados. Apresento hoje um excelente debate promovido pelo “ Center for Strategic and International Studies ” um think tank de excelente reputação. O debate analisa as teses apresentadas pelo conhecido autor Joseph Nye em seu livro “ The Future of Power ”, que aborda questões de poder estatal, tecnologias de comunicação e novos atores no sistema internacional e os efeitos da era da informação na fungibilidade do poder e principalmente o declinio do poder estatal relativo a novos atores. Ou seja, conceitos como softpower, hard power, smartpower e as combinações entre eles. Como o próprio moderador coloca é um debate muito interessante que ganha contornos de urgência por conta das notícias que chegam do Egito, por sinal agora enquanto escrevo é aguardado o discurso de Hosni Mubarak que muitos especulam será sobre sua renúnci

Vídeo: Conversations with History: Noam Chomsky

Mais uma vez seleciono uma entrevista do excelente (ainda que o cenário e alguns aspectos sejam fracos) programa ‘Conversations with History’ produzido pela University of California, em Berkley. O entrevistado desse programa é o teórico, estudioso e polemista Noam Chomsky. Eu sei, eu sei, eu também estou surpreso por ver uma entrevista co Chomsky nesse blog. Admito não tenho nenhuma simpatia pelas idéias e pela pessoa desse verdadeiro ícone da esquerda mundial. Acho apropriado que se conheça mesmo aquilo com que se tem discordâncias profundas.

Conversas com a História: Robert S. McNamara

Mais uma vez posto aqui um vídeo desse excelente programa que é o ‘Conversations with history’ produzido pela ‘University of California at Berkley’. Nesse episódio a conversa é o ex-secretário de defesa e autor do conhecido ‘fog of the war’.

Vídeo: Entrevista com Joseph S. Nye

Entrevista concedida pelo teórico Joseph S. Nye ao programa “ Conversations with History ” produzido pela University of Califórnia em Berkley. Nye é conhecido por ter cunhado o termo Soft Power. Foi reitor da prestigiosa Kennedy School da Universidade de Havard e ocupou também cargos no Departamento de Estado dos EUA. E ao lado do Keohane fundou a corrente do neoliberalismo nas relações internacionais. (Não confundam com os que ativistas políticos chamam de neoliberalismo).

Vídeo: Entrevista com Robert O. Keohane

Entrevista concedida pelo teórico Robert O. Keohane ao programa “ Conversations with History ” produzido pela University of Califórnia  em Berkley. Keohane é professor da Woodrow Wilson School of public and international affairs da Universidade de Princeton. Seus livros mais conhecidos são After Hegemony: Cooperation and Discord in the World Political Economy. Princeton University Press, 1984. e International Institutions and State Power: Essays in International Relations Theory. Westview, 1989. Além dos que escreveu em parceria com Joseph Nye.

Video: Entrevista com Kenneth Waltz

Essa entrevista com o conhecido autor expoente do neo-realismo Kenneth Waltz que é autor de obras conhecidas como “Theory of international politics”, “Man, the state, and war; a theoretical analysis” entre muitos outros. A entrevista aqui é sua famosa entrevista ao programa “ Conversations with History ” produzido pela University of Califórnia em Berkley. Para os que entram aqui em busca de profissões e meio desesperados com isso é interessante ver que esse grande nome abandonou o curso de economia depois que entrou e, aliás, circulou muito antes de encontrar seu caminho.

Diplomacia e WikiLeaks alguns pontos “não-convencionais”

Os vazamentos de telegramas diplomáticos por parte do site WikiLeaks evidenciou o grande fluxo de negociações informais que se desenrolam em torno dos verdadeiros hot topics da seara internacional. Antes de tudo é preciso ter em mente que certos conceitos que são amplamente aplicados na imprensa e nas conversas sobre o tema podem ser inadequados, isto é, costumeiramente se atribuem características humanas a entes não humanos, nesse caso os estados. E nesse processo se tenta escandalizar o natural, ou seja, os estados agem de acordo com seus interesses. Sim é incongruente, mas há quem grite em tom de denuncia que os Estados Unidos agem no mundo em nome de seus interesses. Mais interessante que revelações quase anedóticas e pontuais foi a comprovação prática do que já se sabe há tempos em nível teórico. A comprovação de que os estados não são entes monolíticos e com uma única diretriz, além do reforço da velha noção dos neo-realistas de que não há separação de fato entre política inter

Estudo comparado habitual e perigoso

Um dos métodos mais utilizados nas ciências sociais é o método do estudo comparado em que se estudam construções sociais distintas em busca de similaridades e diferenças que permitam uma análise coesa e lógica. É um importante instrumento no Direito, na Ciência Política, História e nas Relações Internacionais. Claro que todo método cientifico tem requisitos de rigor na análise, principalmente quando se quer extrapolar dados empíricos, afinal é um método para analisar e não discriminar. Deve-se, portanto ter cuidado no uso desse método para fazer juízo de valor, isto é, apontar que linha de política é mais apropriada. Por princípio eu sou um cientista da linha de Karl Popper o que significa que em termos de construção teórica eu vejo que a teoria não só tem que ter o respaldo na lógica e nos dados como deve sobreviver ao falseamento, ou seja, ao teste de suas hipóteses não pode sofrer nenhum falseamento, pois se assim for deve se corrigir adequar à teoria e se for o caso descartá-la. P

Bibliografia Básica de Relações Internacionais – Domingo de leitores

Essa semana recebi uma solicitação muito simpática, que já havia recebido antes, mas desta feita decidi dar uma reposta. Transcrevo o e-mail da forma que me chegou: Recentemente fui direcionado para o seu blog e gostei bastante dos posts que li. Não atuo na área de Relações Internacionais, no entanto, sou bastante interessado no assunto. Por isso, gostaria de sua ajuda para saber a biliografia "obrigatória" para quem pretende fazer uma graduação. Não tenho possibilidade de estudar R.I em uma faculdade, mas tenho interesse em estudar por minha conta. Se puderes me ajudar ficarei muito grato. Bom, como guia para responder isso de maneira mais neutra possível, isto é, não citando apenas livros que me influenciaram, busquei os velhos programas de aula dos tempos de universidade (fiz uma subseqüente pesquisa para ver se a lista estava deverás desatualizada, o que não estava). Muitos desses livros serão difíceis de encontrar fora das bibliotecas mais bem equipadas, (uma trágica