Pular para o conteúdo principal

Uma questão de liderança ou uma provocação solitária aos acadêmicos

lider

Há uma tendência geral em quase todas as correntes de teóricas das Relações Internacionais de focarem suas análises no âmbito sistêmico, tentando encontrar o que os historiadores das relações internacionais chamam de “Forças Profundas” que delimitam os acontecimentos e formam as condicionantes que constroem a realidade internacional. Ainda que a questão do nível de análise seja muito bem tratada na literatura contribuindo para isso o trabalho seminal de Kenneth Waltz que demonstra quão importante são as idiossincrasias dos líderes e tomadores de decisão e como em confluência com outros fatores determinam os resultados das políticas. A meu ver, faltam estudos sobre o líder e a capacidade de liderança na seara internacional.

O líder e as qualidades da liderança parecem, é claro, nos trabalhos de alguns pesquisadores de relevância no campo das relações internacionais impossível não citar o clássico (e insuportável) Diplomacy de Henry Kissinger que aborda o tema, mas obviamente não é um tratado sobre liderança.

Costumo dizer que não sou acadêmico, mas sou usuário da academia, o que quer dizer que me valho da pesquisa de outros e de seus modelos para basear algumas hipóteses e premissas que uso pra construir meu trabalho, tanto na análise nesse espaço, como em consultorias. Além do mais, sou como todos os meus leitores um entusiasta do estudo e compreensão das relações internacionais.

A questão da liderança e sua tipologia é temática muito explorada pelos autores e pesquisadores do campo da administração (incluso, é claro, o marketing), há bons livros e pesquisadores nesse campo e insights preciosos sobre como liderar e motivar, mas há, claro, muita baboseira insuportável com cara de autoajuda no mercado, inclusive amealhando fortunas em palestras motivacionais concorridas e vazias de qualquer sentindo mais profundo. Mas, isso é uma digressão.

Meu ponto é que a liderança é pouco explorada em pesquisas sérias em nosso campo como exemplifica a magra bibliografia sobre o tema disponibilizada pela Oxford Bibliographies, excelente ferramenta de levantamento bibliográfico da OxfordPress. E se pensarmos bem há um potencial enorme para interdisciplinaridade nesse tema pesquisa e num mundo que sofre uma chamada crise de liderança, talvez esteja ai uma boa idéia para linha de pesquisa para as universidades brasileiras.

E já que ando atrevido ao ponto de sugerir linhas de pesquisa para academia deixo abaixo um provocativo vídeo que mostra como a liderança se manifesta e afeta a vida das pessoas e quem sabe eu não acabo por ser o ‘dançarino sem camisa das relações internacionais’ (agora terão que ver o vídeo pra entender), ou seja, posso ser um líder ou um lunático, depende de vocês.

PS: Agradecimentos ao empreendedor, publicitário, cineasta e campeão sul-americano de Kickboxing, Bruno Pinaud, por ter compartilhado o vídeo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Fim da História ou vinte anos de crise? Angústias analíticas em um mundo pandêmico

O exercício da pesquisa acadêmica me ensinou que fazer ciência é conversar com a literatura, e que dessa conversa pode resultar tanto o avanço incremental no entendimento de um aspecto negligenciado pela teoria quanto o abandono de uma trilha teórica quando a realidade não dá suporte empírico as conjecturas, ainda que tenham lógica interna consistente. Sobretudo, a pesquisa é ler, não há alternativas, seja para entender o conceito histórico, ou para determinar as variáveis do seu experimento, pesquisar é ler, é interagir com o que foi lido, é como eu já disse: conversar com a literatura. Hoje, proponho um diálogo, ou pelo menos um início de conversa, que para muitos pode ser inusitado. Edward Carr foi pesquisador e acadêmico no começo do século XX, seu livro Vinte Anos de Crise nos mostra uma leitura muito refinada da realidade internacional que culminou na Segunda Guerra Mundial, editado pela primeira vez, em 1939. É uma mostra que é possível sim fazer boas leituras da história e da...

Ler, Refletir e Pensar: The Arab Risings, Israel and Hamas

Tenho nas últimas semanas reproduzido aqui artigos do STRATFOR (sempre com autorização), em sua versão original em inglês, ainda que isso possa excluir alguns leitores, infelizmente, também é fato mais que esperado que qualquer um que se dedique com mais afinco aos temas internacionais, ou coisas internacionais, seja capaz de mínimo ler em Inglês. Mais uma vez o texto é uma análise estratégica e mais uma vez o foco são as questões do Oriente Médio. Muito interessante a observação das atuações da Turquia, Arábia Saudita, Europa e EUA. Mas, mostra bem também o tanto que o interesse de quem está com as botas no chão é o que verdadeiramente motiva as ações seja de Israel, seja do Hamas. The Arab Risings, Israel and Hamas By George Friedman There was one striking thing missing from the events in the Middle East in past months : Israel. While certainly mentioned and condemned, none of the demonstrations centered on the issue of Israel. Israel was a side issue for the demonstrators, with ...

Teoria geral do comércio de Krugman e Obstfeld

Modelo elaborado por KRUGMAN e OBSTFELD (2001, p 65) propõe um formato de comércio internacional baseado em quatro relações: a relação entre a fronteira de possibilidades de produção e a oferta relativa; a relação entre preços relativos e demanda; a determinação do equilíbrio mundial por meio da oferta relativa mundial e demanda relativa mundial; e o efeito dos termos de troca [1] sobre o bem estar de uma nação. Quanto ao primeiro item a inferência desse modelo é suportada pelo conceito microeconômico que uma economia, sem deformidades, produz em seu ponto máximo da fronteira da possibilidade de produção, como esse modelo assume mais de um fator e mais de um bem, a forma como a distribuição se dará será determinada pela oferta relativa de determinado bem alterando as possibilidades de produção de toda a economia por alocar mais recursos na produção desse bem. No que se refere à relação entre preços relativos e demanda pressupõe que a demanda por determinado bem deriva da relação entre...