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A vida é Newtoniana, o mundo é Newtoniano. Ou um texto doloroso

Esse não é um texto sobre RI. É um desabafo que preciso fazer.

Vez ou outra algo mais filosófico atravessa nossa vida cotidiana atribulada e um tanto fechada no imediatismo dos resultados e metas e somos forçados a confrontar a realidade que é sabida, mas passa a ser sentida.

Explico com um exemplo, todos sabemos que a pobreza extrema é algo terrível, não precisa ser um bleding heart para sentir empatia com alguém que sobrevive com menos que o mínimo. Mas, é outra coisa ser confrontado com um individuo nessa situação é outra coisa conhecer seu nome, sua história e perceber a total falta de opções reais. É claro que o primeiro impulso é ajudar e ser solidário. Mas, o problema não se resolve só com caridade pura e simples.

Fui confrontado esses dias com uma história assim que reforçou em mim a convicção de como o vicio em álcool e drogas conjugado ao rompimento da rede de amparo familiar acaba por gerar uma situação de dependência da assistência oficial, que é vergonhosamente ineficiente.

A realidade da vida é muito dura e implacável cada má escolha é punida invariavelmente é punida. Nesse caso que chamou minha atenção é possível ver como fatores gerais como baixa escolaridade aliadas a escolhas pessoais temerárias têm conseqüências graves.

Já disse várias vezes isso e há diversas correntes religiosas que pensam assim também o mundo parece regido pelas leis de Newton não só na matéria, mas nas relações sociais e naquilo que por falta de termo melhor chamo de destino.

Newton estipulou: “Lex III: Actioni contrariam semper et aequalem esse reactionem: sine corporum duorum actiones in se mutuo semper esse aequales et in partes contrarias dirigi.” Em termos mais diretos toda ação provoca uma reação.

É claro que isso é óbvio, mas ainda assim por vezes os seres humanos parecem incapazes de lembrarem-se disso. Sem entrar em detalhes que firam a privacidade dos envolvidos a história que me motivou envolve uma senhora que agora em idade avançada e doente se vê sem casa própria, vivendo num quarto de aluguel num terreno que só posso descrever como sendo uma “cabeça de porco” ou mesmo uma boca de fumo.

Essa senhora já teve casa própria, pobre, mas com tudo que faz uma construção ser um lar, inclusive memórias. Mas, vou voltar um pouco no tempo. Essa senhora já foi casada algumas vezes, teve o azar de enterrar alguns maridos e deixou filhos pra trás na guarda de outros familiares.

Alguns anos atrás ela perdeu seu marido, companheiro de algumas décadas, um senhor simples que lembro tinha um aguçado senso para analisar políticos e uma habilidade de prognóstico que me fazia pensar que com alguns anos de estudo formal ele poderia facilmente ser um desses professores que tanto admiramos. Com a morte desse homem gentil, trabalhado e que passava em sua pose um senso de orgulho e dignidade impecáveis a senhora ficou com a filha dela mais nova.

Essa moça que também não tem escolaridade formal mergulhou no escapismo possível das bebidas alcoólicas e mais recentemente do crack, suspeito eu. E acabou engravidando algumas vezes o primeiro menino de pai desconhecido, acabou sendo adotado por uma família caridosa e se desenvolve bem e o segundo filho vive com o pai biológico e sua esposa. Os outros nem tiveram a chance de nascer, alguns consideram essa alternativa a melhor eu não.

A senhora e sua filha se envolveram numa espécie de triângulo amoroso que é insondável para mim. Prefiro realmente ignorar os detalhes. Que teve como conseqüência agressões físicas por parte do sujeito que se diz homem e as duas deixaram a cidade por um tempo tendo que vender a casinha pelo valor de BRL 5.000,00. Sim, módicos cinco mil reais. E tentaram se estabelecer numa capital vivendo com uma das filhas que a senhora deixou pra trás.

A filha que ficou para trás acabou perpetuando o ciclo de abandono e não quis cuidar da mãe e da problemática meia-irmã, o mesmo se passou com o filho, devo notar que me dói pensar em alguém que faça isso, ainda mais com o carinho que senhora falava desse rapaz que possui nobre formação superior e bom emprego.

Hoje essa senhora vive na casa que falei doente e com depressão, gasta o salário mínimo que recebe como pensão no aluguel do quarto e no fornecimento de alimentos, que não preciso dizer não são os apropriados para sua idade e seu quadro clínico. Que é piorado pelo uso regular de álcool feito por ela e por ver sua filha com apenas 32 anos não trabalhar e definhar entregue ao vício e aos prazeres imediatistas.

O natural seria acolher essa senhora aqui em casa, mas quem já lidou com pessoas viciadas – como a filha dela – sabe o quanto isso exige de compromisso emocional e o risco real que essa medida incorre, não só de danos ao patrimônio, mas físico mesmo.

Diante dessa história, que admito me rouba o sono, não pude deixar de lembrar as palavras da III Lei de Newton: “A toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade: ou as ações mútuas de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e dirigidas em direções opostas”.

A história está longe do fim, mas fica o dramático exemplo que me levam a ter ainda mais certeza que é preciso viver a vida de maneira responsável e ponderar bastante cada decisão que tomamos. E mais é preciso sempre estar disposto a ajudar ao próximo – afinal é para isso que vivemos em sociedades e famílias – mas é preciso que o próximo se ajude também.

Multipliquem por milhares ou milhões esse drama e vocês verão por que as drogas e o vício são as grandes ameaças a estabilidade e segurança da região, a meu ver, pelo menos.

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