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Migração Cuba e EUA: Uma breve resposta.

obama-castroNão gosto de escrever para rebater o que outros escrevem, não sou ombudsman de ninguém e nem gosto da polêmica como mecanismo de aumento de audiência, mas vez ou outra lemos algo que não conseguimos não escrever sobre. E o que me motivou foi um texto do blog Outrofobia. O texto curtinho afirma em tom sério que a culpa pelos cubanos se lançarem ao mar é da política americana de garantir a permanência de quem conseguir chegar a sua costa. O autor chama essa política de asilo automático de política imigratória de “canalha & assassina” por que estimularia populações pobres a buscarem a vida nos Estados Unidos.

Claro, como a nota é curta o autor fez um link para um texto de uma revista cubana que alonga a lógica que motivou a nota, que é um desdobramento dos velhos argumentos sobre a pobreza cubana ser fruto do embargo dos EUA e o estimulo a emigração dado pela lei seria uma ferramenta na guerra propagandista.

Ninguém fala na vontade dos indivíduos de progredirem materialmente em outro país ou de poder viver num lugar que sua vida não seja regida por um regime totalitário. É claro que os balseiros se arriscam muito e isso nos mostra que os motivos de sua saída são fortes e não seria uma lei mais draconiana por parte dos EUA que os dissuadiria de emigrar, basta ver os riscos que emigrantes latinos, sobretudo mexicanos correm para atravessar a desértica fronteira entre EUA e México, tudo isso pela chance de construir uma vida melhor.

A receita é simples (e mesmo assim não podia ser mais complexa) você quer evitar que seus cidadãos emigrem em números relevantes, promova o crescimento econômico e a oferta de empregos, facilidades pra empreender, ou seja, melhore o que se chama de ambiente de negócios.

Mas, é tão mais fácil colocar a culpa no outro, na política migratória, do que explorar a miríade de motivações individuais que criam um fluxo migratório. O discurso de demonizar essa espécie de fronteiras abertas é ignorar a luta de diversas organizações humanitárias que defendem fronteiras mais abertas e mais dignidade para os migrantes.

Ao ler esse texto e sua romântica e ineficaz defesa do mito cubano diante da realidade da fuga de milhares de cidadãos foi inevitável lembrar de um trecho de uma velha canção de música sertaneja/romântica: “Vou negando as aparências, disfarçando as evidências”.

Comentários

Anônimo disse…
Oi Mário Machado, espero não incomoda-lo com minha pergunta nos comentários, mas estou com uma grande dúvida. Quero fazer Relações Internacionais e posteriormente seguir a carreira diplomática, mas não consigo me decidir em qual faculdade cursar, estou entre a UFF e a PUC-RJ! Poderia me dar uma recomendação?
Att.
Mário Machado disse…
Duas grandes escolas com abordagens diferentes. A UFF tem a vantagem de ser federal, mas também pode sofrer com greves. A PUC tem o problema do custo, se vc e sua família podem arcar ainda assim seria um dinheiro bem empregado em cursos extras (até no exterior).
Alex Castro disse…
oi mário. só agora vi esse comentário.

a grande questão é: se essa política é tão boa, por que os eua não tem uma política igual para todos os países pobres a sua volta? por que só os cubanos têm o privilégio de cidadania automática ao pisar nos eua?

eu tenho certeza que os hondurenhos, haitianos e jamaicanos adorariam. e correriam todos aos botes.

a resposta, claro, é que essa política norte-americana não tem nada a ver com o bem-estar do povo cubano, mas sim com desestabilizar e derrubar o governo.

e repara que essa análise não depende de você apoiar ou não o regime ditatorial cubano.

ninguém precisa apoiar a ditadura dos castro para perceber que essa lei, ao só "favorecer" as pessoas cubanas, têm como único objetivo enfraquecer o regime.

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