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Felipe Calderón e o giro mexicano pela América do Sul

O Presidente Mexicano está no Brasil em visita tanto protocolar, como de negócios, pleiteando parcerias na área de petróleo e claro tentando alternativas para diminuir a dependência da economia mexicana dos Estados Unidos (tentar ao menos). Em muito por causa do NAFTA, mas independente disso, como sabemos a geografia, também, tem sua influência, o que acaba por manter o México muito vinculado a maior economia do mundo.

Vocês leitores assíduos sabem que tenho muita prudência ao analisar os assuntos do dia a dia, pela falta de informações e dados concretos que possam corroborar as conclusões, o que acaba por nos colocar no pantanoso terreno de assertivas demasiadamente gerais e pobremente sustentadas, como já disse, com dados.

Podemos é claro explorar o tema com alguma profundidade, sem, contudo, se apregoar o entendimento completo do assunto que só é possível com profusão de dados. Essa visita do mandatário mexicano despertou o interesse em mim de tentar entender qual é agenda do México nas Américas, principalmente na sua zona próxima que a América Central e o Caribe, bem como com a América do Sul.

É fato patente, que pode ser verificado com auxilio das estatísticas do comércio que há uma distancia, que são poucos os negócios entre México e Brasil, se compararmos com Estados de peso econômicos semelhantes, não quero dizer que é inexpressivo, mas há espaço para crescer, e isso foi reiterado nos discursos dos mandatários, embora, é preciso sempre ter atenção e usar da hermenêutica para compreender as chamadas “entrelinhas”, por sinal, tenho escrito muito sobre isso, portanto retornemos as indagações que surgem por ocasião dessa visita.

É claro que a própria visita de Calderón é simbólica de uma aproximação pragmática, já que esse líder é uma exceção à onda vermelha, assim a aproximação dos dois líderes fura os confinamentos de uma política externa ideológica no discurso e longe da prática dos tempos do PRI, por exemplo, os dois países são as maiores potências regionais da América Latina, ambos inclusive são emergentes globais.

A relação entre Brasil e México apesar de ser vista como amigável, tem seus pontos de fricção, entre eles a exigência de vistos por parte do México para turistas brasileiros, também, há a disputa pelo México, por Brasil e Argentina, esse ultimo como uma alternativa a preponderância e dependência política do Brasil e crescente dependência econômica da Venezuela. E a desconfiança e não apoio as pretensões brasileiras de ocupar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, algo que tem sido um dos pontos de trabalho da agenda internacional brasileira.

Uma prova pragmatismo nas relações entre os dois países é a concentração de ambos numa agenda comum, como bio-combustíveis, agenda na qual ambos trabalham e promovem na América Central. Assim, evitando pontos de atrito entre os dois paises, que mesmo partindo do mesmo ponto retórico fortalecimento das relações interamericanas, e maior decisão e concertação em blocos multinacionais. Os dois referidos Estados identificam de maneira muito diferente como, quando agir. Além da extensão de seu projeto, que no caso brasileiro é manifestadamente ser um ator global (global player), buscando estender sua influencia além dos círculos imediatos, expandindo para todas as regiões, para esse fim o Brasil se vale da soma de uma política de potencia interna (tamanho do mercado, projeção militar e cultural) e de alianças multilaterais. Comportamento esperado das potencias médias.

A crise econômica precipitou e amplificou uma política que tem sido adotada pelo México desde que Calderón assumiu que é uma política na qual a atuação do México passa por uma interação mais harmoniosa com a América Latina, tentando superar os problemas que a ideologização provoca na política regional, para cumprir essa agenda o governo Calderón elegeu a clara estratégia de aprofundar as relações com parceiros estratégicos, a saber, (Brasil, Argentina e Chile) e evitar crises aprofundadas pelo governo Fox, principalmente com Cuba e Venezuela. A amplificação citada se deu pela necessidade de diversidade de parcerias econômicas, ainda mais com a China assumindo seu lugar de maior parceiro comercial dos EUA.

É preciso que tenhamos em mente que os principais problemas econômicos, políticos e de segurança do México ainda se dirigem ao norte do Rio Bravo e claro a complexa e desafiadora agenda interna o que explica a pouca energia aplicada a agenda internacional. Mas, claro que muito disso é relativamente válido para todos os países.

Pode-se depreender com um grau de certeza satisfatória que a visita de Estado ao Brasil, cumpre esse papel de maior diversificação da agenda mexicana, seguindo a estratégia de parcerias mais profundas com atores de maior peso, contudo, na literatura especializada em relações internacionais do México encontramos muito pouco consenso acerca do papel que esse país deve desempenhar, tendendo segundo nos diz o Peter Hakim, em seu artigo “Two ways to go global”, publicado na prestigiosa Foreign Affairs em 2002. Parece faltar ao México o anseio a liderança, que move o Brasil, causando até alguns atritos, segundo o referido autor, e na minha visão também.

Acabei não respondendo as minhas próprias questões a contento, isso por que preciso aprofundar minha pesquisa, mas até esse ponto podemos perceber que essa visita não é só protocolar, mas parte de um esforço de criar um maior grau de institucionalização das relações entre os dois países e de um envolvimento maior do México nos assuntos latinos, mas fica claro que mesmo a América Central seja o campo de atuação primordial, as boas e crescentes relações do México com o Chile e com a Argentina do casal Kirchner mostra que esse pretende ser um ator de mais presença na região.

Do ponto de vista brasileiro, também, faz sentido tático aumentar os laços com o México e com outros Estados, afinal, é ponto fundamental de se constituir em um global player.

Como as dúvidas mais profundas apresentadas no inicio desse escrito se mantêm, esse assunto será abordado novamente. Pontos que ficaram de fora são os dados econômicos, e uma análise mais profunda de política comparada. Mas, ficaram de fora, por necessitarem de mais pesquisa e com certeza irão resultar em uma série, já que textos longos ficam deveras enfadonhos em um blog.

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