Pular para o conteúdo principal

Mais um pouco sobre a euforia verde e amarela

Não tenho prazer outro que o do uso da racionalidade em não me alinhar na euforia que prevê o Brasil como superpotência benevolente em um prazo de 20 anos, primeiro por que não confio em exercícios de futurologia, que em geral são feitos numa base “ceteris paribus”, ou seja, dão como certo que as variáveis não analisadas permanecerão constantes.

Preparo para a próxima semana uma série de artigos embasados em estatísticas confiáveis sobre as questões que afetam o poder do Brasil no cenário internacional, obviamente não poderá ser um texto exaustivo. Contudo, adianto algumas opiniões nessa postagem inspirada por um particularmente otimista artigo. (Que transcrevo abaixo)

O próprio conceito de que o Brasil seria uma potência benévola, por conta da natureza do brasileiro. Isto me parece bastante ingênuo e construído sobre um estereótipo que os números da violência no Brasil não parecem autorizar que se faça. Aliás, essas análises até tocam nos temas que causam grande parte do atraso nacional e não dão conta de políticas públicas eficazes no combate dessas políticas, citam-se políticas existentes como sendo eficazes o que obviamente não é o caso.

É o mesmo problema que sinto nas análises de política externa são poucos os especialistas e profissionais de relações internacionais, que se aventuram na avaliação de sucesso dessas políticas, talvez por que ainda estejamos no calor dos eventos, ou seja, falta distanciamento histórico. Pois se dá como sucesso absoluto as iniciativas sul-sul, com base no fato que essas iniciativas construíram acordo e arranjos institucionais e algum aumento de comércio (que muitas vezes mais tem a ver com o próprio crescimento dos emergentes do que com o resultado de uma vontade política pró-sul). Isso me parece etéreo já que em grandes questões ainda não temos percepção de um sucesso efetivo brasileiro, por exemplo, encampando algum secretário-geral de OI – Organização Internacional.

Abaixo faço seleção de trechos de um artigo publicado na revista “The Word Today” editada pelo Chatham House: The Royal Institute of International Affairs, um proeminente think tank britânico, e assinada pela jornalista brasileira Jan Rocha. Que tomei conhecimento via Jornal Correio Braziliense.

Seria interessante a leitura do artigo da íntegra, assim dissipa-se qualquer efeito que minha edição possa ter na compreensão da idéia defendida pela autora. Ainda por que transcrevo o início e a última parte apenas. O artigo pode ser visto aqui, ou baixado em versão PDF aqui. Não sei até que ponto este artigo assinado representa a opinião dos pesquisadores do Chatham House.

Brazil: After the Age of Lula

The Age of Lula - eight years of government by former metalworker President Luiz Inacio Lula da Silva - has transformed Brazil and put it on track to become a superpower in the next twenty years. What sort of country will the new president inherit after this month's election?

[..] Today the scenario has changed dramatically, beginning with Brazilians' own perception of themselves. After a decade of economic and political stability and social progress, the feel good factor is high. Seventy-eight per cent now say they are proud to be Brazilian and optimistic about the future of their country. Even the infamous Brazilian 'jeitinho', the synonym for fixing things with a nod and a wink, has been redefined as a positive national characteristic, signifying creativity and a flexible approach to problem solving.

Pacific Power

Brazil's rise to major power status involves a change of focus. Its long Atlantic seaboard, the site of all the ports and most major cities, has always shaped and directed trade, culture and foreign relations, first with the colonial powers in Europe and more recently with the United States.

Now China has supplanted the US as Brazil's biggest trading partner. Other Asian markets like India, Vietnam and South Korea grow in importance. Brazil needs ports on the Pacific. Joint projects are underway with Andean neighbours Peru and Bolivia to build connecting roads and bridges through the Amazon region. In a few years, instead of using the Panama Canal, many Brazilian exports will reach Asia via the Pacific.

The Lula government's foreign policy made Latin American integration and South-South relations its priorities. There is less emphasis on aspiring to join the rich club and more on alternative power groups like the G20 advanced and emerging economies, the four BRIC countries - Brazil, Russia, India and China - and the BASIC group active on climate change: Brazil, China, India and South Africa. The newfound economic and political stability has given Brazil, once a timid player on the international stage, the confidence for an active role, not only in Latin America but also in unexpected places like Iran and the Middle East.

Brazil likes to see itself as a peace maker, offering its natural traits of conciliation and consensus, maybe even injecting a bit of 'jeitinho' into international affairs. Around the world not everyone looks forward to this, but as Foreign minister Celso Amorim said 'the world cannot continue with the same countries deciding things as in 1945. In 10 years' time no one will doubt Brazil's important and central role in international relations, including peace and security … it already has an important role in financial questions, trade relations and climate'.

In Latin America itself, nobody questions the county's dominance in size, wealth and trade, but relations have often been prickly and ideologically-driven. Lula introduced a new pragmatic way of doing business with governments of both left and right.

Brazil's most important contribution as a super power could be its example of tolerance, as a country without border conflicts, without religious, ethnic or racial violence, without the aim of becoming a military or nuclear power. A serious challenge lies ahead for Lula's successor.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Crise no Equador

Sob forte protesto das forças policiais e parte dos militares, que impedem o funcionamento do aeroporto internacional de Quito. Presidente Correa cogita usar dispositivo constitucional que prevê dissolução do Congresso e eleições gerais. Mais uma grave crise política na América do Sul. Numa dessas coincidências típicas de se analisar as coisas internacionais discutia semana passada numa excelente postagem de Luís Felipe Kitamura no laureado blog Página Internacional a situação equatoriana. A postagem tinha como título Equador: a instabilidade política e suas lições . Na qual o colega discorria sobre o péssimo histórico de conturbação política do país andino e sobre como o governo Correa parecia romper com isso usando a receita da esquerda latina de certo pragmatismo econômico e políticas distributivas. Mas, justamente a instabilidade política que parecia a caminho da extinção volta com toda força em um episódio potencialmente perigoso, que contundo ainda é cedo para tecer uma análise

Meus leitores fiéis, pacientes e por vezes benevolentes e caridosos

Detesto falar da minha vida pessoal, ainda mais na exposição quase obscena que é a internet, mas creio que vocês merecem uma explicação sobre a falta de manutenção e atualização desse site, morar no interior tem vantagens e desvantagens, e nesse período as desvantagens têm prevalecido, seja na dificuldade na prestação de serviços básicos para esse mundo atual que é uma boa infra-estrutura de internet (que por sinal é frágil em todo o país) e serviço de suporte ao cliente (que também é estupidamente oferecido pelas empresas brasileiras), dificuldades do sub-desenvolvimento diria o menos politicamente correto entre nós. São nessas horas que vemos, sentimos e vivenciamos toda a fragilidade de uma sociedade na qual a inovação e a educação não são valores difundidos. Já não bastasse dificuldades crônicas de acesso à internet, ainda fritei um ‘pen drive’ antes de poder fazer o back up e perdi muitos textos, que já havia preparado para esse blog, incluso os textos que enviaria para o portal M

Extremismo ou ainda sobre a Noruega. Uma reflexão exploratória

O lugar comum seria começar esse texto conceituando extremismo como doutrina política que preconiza ações radicais e revolucionárias como meio de mudança política, em especial com o uso da violência. Mas, a essa altura até o mais alheio leitor sabe bem o que é o extremismo em todas as suas encarnações seja na direita tresloucada e racista como os neonazistas, seja na esquerda radical dos guerrilheiros da FARC e revolucionários comunistas, seja a de caráter religioso dos grupos mulçumanos, dos cristãos, em geral milenaristas, que assassinam médicos abortistas. Em resumo, todos esses que odeiam a liberdade individual e a democracia. Todos esses radicais extremistas tem algo em comum. Todos eles estão absolutamente convencidos que suas culturas, sociedades estão sob cerco do outro, um cerco insidioso e conspiratório e que a única maneira de se resgatarem dessa conspiração contra eles é buscar a pureza (racial, religiosa, ideológica e por ai vai) e agir com firmeza contra o inimigo. Ness