Sob forte protesto das forças policiais e parte dos militares, que impedem o funcionamento do aeroporto internacional de Quito. Presidente Correa cogita usar dispositivo constitucional que prevê dissolução do Congresso e eleições gerais. Mais uma grave crise política na América do Sul.
Numa dessas coincidências típicas de se analisar as coisas internacionais discutia semana passada numa excelente postagem de Luís Felipe Kitamura no laureado blog Página Internacional a situação equatoriana. A postagem tinha como título Equador: a instabilidade política e suas lições. Na qual o colega discorria sobre o péssimo histórico de conturbação política do país andino e sobre como o governo Correa parecia romper com isso usando a receita da esquerda latina de certo pragmatismo econômico e políticas distributivas.
Mas, justamente a instabilidade política que parecia a caminho da extinção volta com toda força em um episódio potencialmente perigoso, que contundo ainda é cedo para tecer uma análise mais profunda.
O episódio em questão é a greve da polícia e das forças militares contra uma polêmica lei que modifica o método de cálculo dos soldos dessas instituições. Não vou discorrer sobre o mérito da questão, sobre a justiça ou não das reformas que se querem implementar. É grave que forças militares rompam a cadeia de comando e se rebelem. É muito grave, como nos ensina o histórico da região. Os golpes militares surgem do continuo enfraquecimento da hierarquia e da desmedida politização das forças de segurança. Não estou afirmando que o caso no Equador seja dessa natureza como afirmam membros do gabinete de Correa.
A invasão do aeroporto e o bloqueio de estradas segundo relatos já provoca reações perigosas que podem colocar apoiadores de Correa e militares em rota de colisão e nesse caso fatalmente teríamos a receita para uma tragédia. E nesse sentido nada ajuda a atitude de enfrentamento aberto do Presidente (ver vídeo abaixo) que resultou em ânimos acirrados e violência verbal e principalmente física. A OEA já declarou que monitora a situação e tratará disso numa reunião emergencial.
Uma prova do tamanho da crise é que segundo a Andes – Agência Pública de Notícias do Equador – o governo tenciona usar o dispositivo constitucional que permite a dissolução do congresso e convocação de novas eleições por conta da crise provocada pela “Ley de Servicio Civil y Carrera Administrativa”.
O assunto é quente e muitas declarações fortes pululam nos meios de comunicação como o jornal “La Hora” que estampa em sua página inicial a frase do presidente: “¡Si quieren matar al presidente, aquí está, mátenlo!”. Por sinal o presidente como informa a ANDES já declara se tratar de um intento de golpe. [Há muitos anos junto com alguns colegas dei entrevistas para sucursal da cidade de Loja desse jornal, quem achar essa reportagem nos arquivos do jornal ganha um doce de leite mineiro]
Contudo, como já disse inúmeras vezes o calor das informações é a hora que brilham os jornalistas e que se recolhem os analistas, afinal precisamos de elementos para tecer uma análise serena e informada da situação. Apesar disso há certos indícios de que há sim um movimento perigoso (como disse acima) a quebra da hierarquia e a tensão social podem gerar um quadro perigoso de degradação institucional que pode servir de desculpa para elementos radicais de ambos os lados para atentarem contra a democracia e em casos extremos pode ensejar a intervenção externa. Seja por conta da ALBA, seja a fantasmagoricamente temida invasão americana. (Por sinal surpreende que até agora não culpem o país do norte pela bagunça). Caso meus leitores aceitem uma sugestão: analisem com discernimento e cuidado, por que mesmo diante de uma grave crise como essa, grupos políticos se posicionam para tornarem seus pontos de vista hegemônicos.
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