A essa altura todos já estão sabendo que a Organização Wikileaks está a dar publicidade a documentos reservados da diplomacia dos EUA. Até o momento que escrevo nada de devastador foi revelado, embora ter suas comunicações privadas desnudadas possa ser bastante vexatório.
Os telegramas trocados entre as embaixadas americanas e sua sede são documentos que servem de embasamento para os que tomam decisões e dão mostras do que os analistas (nesse caso diplomatas) a serviço desse governo percebem e investigam sobre os diversos países e líderes mundiais. Eles dão conta dos bastidores do processo de condução da política externa de diversos países.
Essas comunicações que por se destinarem a olhos seletos (pelo visto não tão bem selecionados) não são feitas com os pudores e meias-palavras que comumente são usadas na diplomacia, na imprensa e mesmo na academia. E reforçam a advertência que eu e tantos outros fazemos sempre: Cuidado com notas oficiais!
Raramente uma nota oficial ou nota a imprensa de uma chancelaria corresponde à verdade, como bem colocou o diplomata Paulo Roberto de Almeida em seu blog – diplomatizzando –:
O interessante, e até irônico, dos Wikileaks, é que eles revelam a verdade das coisas, não as hipocrisias que os governos alimentam através de suas declarações oficiais e notas de imprensa.
Geralmente, esses documentos oficiais são o que de mais mentiroso e cínico existe: o Wikileaks expõe a falsidade das posturas diplomáticas dos Estados, com suas notas que contém puro bullshit.
O leitor se quiser pode percorrer os arquivos desse blog e verá que sempre reitero a advertência acima. Essa postura crítica as versões oficiais causa até algum mal-estar com colegas de profissão e de empreendimentos na internet que muito tempo investem construindo teses calcadas em comunicações e falas oficiais e por isso mesmo acabam se tornando apologéticos do governo.
Quer dizer que concordar com o governo é ser servil e apologista? Ora bolas, claro que não. É tudo uma questão de se concordar com motivos plausíveis. Há quem concorde por pura lealdade partidária ou ideológica. O que é um direito de qualquer um, contudo que não se empreste a essa adesão contornos científicos.
Não é preciso dizer que nem tudo que está nos telegramas é política oficial, ou se deu exatamente como perceberam os diplomatas americanos. Mais interessantes que as ‘fofocas’ sobre Batman e Robin e coisas assim são os relatos das negociações multilaterais que, por exemplo, enterram a ufanista tese de que as sanções ao Irã foram motivadas pela inveja (sic) dos Estados Unidos dos “olhos nos olhos” que Lula teria com Ahmandinejad.
O tema dos wikileaks ainda alimentará outras postagens, afinal foram interessantes as revelações, ainda que não tenhamos até agora nada que justifique o clima de ansiedade que havia entorno dos vazamentos que na maioria do que se tem até agora retratam reuniões, impressões e elucubrações dos diplomatas no exercício de sua função, que é gerar informação.
Comentários
O trabalho do wikileak é interessante. Nao sei quanto te verdade existe nessa perseguiçao do Julian Assange sobre estupro, mas os governos tem utilizado disso pra tirar o foco do trabalho da organizaçao (preciso nem comentar sobre o interesse da Interpol no caso, que isso é lógico).
No mais, sendo ou nao 100% verdadeiros os documentos lançados pelo site, e como voce mesmo disse, como tb nem tudo que é política oficial, a gente tem se divertido bastante com com opinioes como a de Sarah Palin que pede que Assange seja caçado como terrorista da Al-quaeda. LOL
Abraços, Mário! Breve e interessante análise!
Quanto tempo?!
Pois bem eu tenho algumas (muitas na verdade) suspeitas quanto a agenda do wikileaks.
Quanto a Sarah devo admitir que eu na posição dela - fosse político profissional do país cujos segredos estão a ser vazados - falaria a mesma coisa. (mas, que é divertido é)
Abs,