Diplomacia não é uma atividade simples e isso explica o rigor das avaliações para ascender ao serviço exterior brasileiro. Os estudantes que se preparam para o temido e sonhado CACD sabem do que falo. E o caso Venezuelano demonstra bem as dificuldades de uma política externa.
A Venezuela é uma nação vizinha e uma parte do território brasileiro em sua região norte é bem ligada a esse país e como é o caso de quem divide fronteiras é preciso cooperação. Além disso, a Venezuela é um aliado formal e parceiro em vários arranjos regionais, notadamente Mercosul e Unasul. A proximidade ideológica entre os governos brasileiros e venezuelanos resultou numa parceria ainda mais profunda com investimentos mútuos e muitos atos de voluntarismo de parte a parte.
Isso coloca a diplomacia brasileira numa “sinuca de bico” por que os diplomatas sabem, embora a maioria não vocalize isso, que a situação na Venezuela está bem deteriorada e que a saída menos custosa para a região e para os venezuelanos seria uma solução negociada que minimize os atos de violência dos protestos. E que garantam a manutenção de normalidade institucional. E, para poder ajudar nisso o governo brasileiro deveria ser visto como amigo do povo venezuelano e um ente capaz de prestar Bons Ofícios. Para que isso aconteça seria preciso esfriar a relação com o regime de Maduro e deixar de vocalizar apoio irrestrito.
O problema que com essa atitude é que ela seria muito difícil de explicar a militância mais aguerrida, ideológica e propensa a acreditar nas teses ventiladas pelo bolivarianismo esse distanciamento e também seria um gesto com repercussões políticas internacionais entre os autocratas que compões boa parte dos países da vertente sul-sul adotada pelo Brasil, afinal, eles veriam o Brasil como um ente que os abandonaria e não um “amigo fiel”.
No caso específico da América do Sul essa aliança ideológica pode trabalhar para minar qualquer aspiração a uma liderança verdadeira, isto é, que não seja mero reflexo do tamanho do país. E sim uma construção política de sedução das populações da América do Sul.
A aliança ideológica atualmente praticada cria resistências que são alimentadas por matérias jornalísticas como a que eu retiro o trecho que segue abaixo que dá conta do fato da empresa brasileira Condor Tecnologias Não-Letais ser uma das principais fornecedoras do gás lacrimogêneo usado pelas forças de segurança da Venezuela, na atual onda de protestos.
El cilindro de aluminio vacío lleva el nombre “Condor Tecnologías no letales”. Tiene rotulado en azul que es modelo GL-203/L con carga múltiple lacrimógena. Indica también que fue “hecho en Brasil” en febrero de 2008 y claramente su fecha de vencimiento: febrero de 2013.
Cartuchos de Condor como el descrito se encontraron en ciudades de Brasil, Chile, Turquía y Bahréin, donde estallaron grandes manifestaciones públicas en los últimos tres años, reportan activistas de esos países y la prensa internacional. Y
en las calles de Venezuela, quedaron como evidencia de la actuación de los cuerpos de seguridad durante las protestas de las últimas seis semanas.
Luego de la marcha estudiantil del 12 de marzo, que terminó en disturbios reprimidos durante unas tres horas por la Policía Nacional Bolivariana (PNB) y la Guardia Nacional Bolivariana (GNB), estudiantes, empleados, obreros y profesores de la Universidad Central de Venezuela (UCV) recolectaron 2.310 restos de bombas lacrimógenas, según un informe técnico de la UCV. De esa cantidad, 60% (1.386) corresponden a cápsulas fabricadas por la empresa brasileña Condor. El otro 40% es de bombas armadas por la Compañía Venezolana de Industrias Militares (Cavim) en asociación con la española Falken y por firmas de EEUU.
A ênfase na nacionalidade dos produtores do gás usado é jornalisticamente relevante por causa da referida aliança ideológica e serve de alimento para teorias de que a aliança seria cínica e pragmática baseada num desejo brasileiro de vender armas. O argumento soa familiar, não? Sem contar que o apoio efetivo dado ao regime nos torna em algum grau cúmplices das violações desse regime que protegemos de “show midiático” na OEA. Com uma atitude como essa é difícil esperar que a Comissão de Ministros das Relações Exteriores da Unasul que está na Venezuela seja capaz de aliviar a situação nas ruas venezuelanas.
O universalismo que orientou a PEB em vários momentos tem o mérito de ser uma postura calcada em pragmatismo que visava corrigir os vícios do alinhamento automático e talvez seja um caminho mais proveitoso que uma política Sul-Sul que subjuga o interesse nacional às simpatias e antipatias do partido do poder.
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*A imagem é ilustrativa apenas, já que a foto foi feita no Bahrein.
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