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Venezuela: Aplacando um incêndio com gasolina

“Feel my blood enraged
It's just the fear of losing you
Don't you know my name
Well, you been so long

And I've been putting out fire
With gasoline”

David Bowie

shoshanna O governo venezuelano conseguiu algo bem difícil que é isolar internacionalmente sua oposição, o que é demonstrável pelas notas oficiais da UNASUR e do MERCOSUR que já comentamos aqui nesse blog.  Essa manobra de isolamento dos manifestantes e para angariar apoio internacional, contudo, tem feito pouco para acalmar a situação no solo, claro que dão para o governo Venezuelano maior liberdade na repressão, mas nem os 31 mortos arrefecem os ânimos dos opositores, talvez até sirva de combustível.

Os atos de força do regime e as prisões – inclusive de prefeitos da oposição – até agora não esvaziaram as ruas, por que há muita insatisfação provocada pela administração errática da economia e níveis de violência e criminalidade absurdamente altos que encontram combustível para a revolta na profunda polarização da sociedade venezuelana.

Esse cenário reforça que uma mediação externa, Bons Ofícios poderiam construir uma solução para esse impasse cada vez mais amargo que vemos na nação bolivariana, mas o isolamento a oposição feito pelos líderes regionais inviabiliza uma mediação isenta, ou mesmo uma missão de ‘fact finding’ de uma organização multilateral.

O pior cenário possível para a Venezuela é a insistência na repressão violenta, por que as forças de segurança começam a dar sinais de hesitação em reprimir o que pode levar as milícias a recrudescer e aí como eu escrevi aqui bastaria um gesto impensado para jogar a Venezuela numa guerra fratricida que obviamente seria trágica e traria problemas para estabilidade de toda a região, já abalada pelos problemas cambiais.

Não tenham dúvidas de que versões mais elaboradas desses cenários correm os corredores do poder em nosso continente e por isso o diplomatiquês das notas é tão imaginativo e aberto, assim se o pior cenário acontecer os líderes podem dizer que trabalharam para evitá-lo.

Contudo, como bem coloca Paulo Roberto de Almeida:

Não há nada, ou quase nada (talvez se imolando pelo fogo, como os monges budistas tibetanos) que a oposição venezuelana possa fazer para convencer os companheiros dos companheiros venezuelanos que seu país vive sob uma ditadura assassina, e que os países deveriam exigir o cumprimento da Carta Democrática da OEA, dos compromissos democráticos da Unasul e do Mercosul, enfim, de simples regras de civilidade, de humanidade, de respeito elementar pelos direitos humanos. Nada. Os países, ou a maioria deles, continuarão indiferentes ao que se passa no país. Vergonha é a palavra, mas haveria muitas outras também, para qualificar o que acontece com países e instituições próximas. Talvez inqualificável seja a palavra...

A fogueira da insatisfação continua acessa na Venezuela e com o beneplácito dos líderes vizinhos vai sendo despejada gasolina na esperança vã de vá apagar a fogueira.

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