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Mostrando postagens com o rótulo União Européia

A Europa e os seus tempos, por Francisco Seixas da Costa

O texto a seguir é quase uma profissão de fé para os que olham com curiosidade acadêmica ou profissional para o Sistema Internacional, digo quase por que o autor, o embaixador português Francisco Seixas da Costa não tencionava fazer uma ‘jura de amor’ ao estudo e trabalho com as relações internacionais e diretamente não o fez. Mas, a paixão com que fala mostra que os tempos continuam interessantes é a chama que nos faz olhar as coisas internacionais e tentar buscar sistematiza-las e decifra-las. Alguns dizem, mais amor, por favor, eu digo mais amor e mais coisas interessantes, por favor. A Europa e os seus tempos Por Francisco Seixas da Costa Ao final da tarde de ontem, dei-me conta de que haviam passado precisamente 18 anos desde que estivera a falar naquele mesmo auditório da faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa. À época, a conversa foi com o Francisco Sarsfield Cabral (que é feito de si, Francisco?). Agora, fui palestrante único, tendo o professor João Salg

Gdansk por Francisco Seixas da Costa

Um interessante relato de impressões pessoais e fatos históricos e sobre como fatos históricos são vistos externa e internamente, com o habitual talento literário e concisão do experimentado embaixador português Francisco Seixas da Costa. Gdansk Por Francisco Seixas da Costa Olhando para a coleção de selos que, durante anos, me ajudou a desenhar a geografia política do mundo em que ia viver, o meu pai falava-me de Dantzig, a cidade mártir, do seu "corredor", cuja ocupação pelos alemães lançou a 2ª Guerra mundial. Dantzig tinha selos próprios, como "cidade livre" que chegou a ser. Ainda possuo alguns. Decorreram uns anos. Dantzig já era designada pelo nome polaco de Gdansk. Vivia eu na Noruega e, em 1980, a cidade passou a ser o lugar onde nasceu o Solidarnosć, onde surgiu Lech Walesa à frente de uma revolta que iria abalar, ainda mais, os alicerces do muro que estava prestes a cair em Berlim. Quase duas décadas depois, acompanhei Jorge Sampaio numa viagem

Rússia, Ucrânia, UE e EUA: Uma questão de profundidade, near abroad e algumas lições históricas

Putin não é um homem simpático aos olhos do ocidente, suas manobras para se manter no poder indeterminadamente frustraram a esperança global de ver o ‘fim da história’, ou posto de outra maneira frustraram as esperanças de um aprofundamento da Terceira Onda de Democratização propagada pela ruína do império soviético. A Rússia não é exatamente uma ditadura escancarada como a China, nem é uma democracia em pleno funcionamento, como o poder da presidência de nomear governadores nos mostra. Mas, simpático ou não Putin é um político habilidoso e um líder capaz de galvanizar apoio em seu país. Como político habilidoso que é o ex-oficial da KGB e FSB sempre soube cuidar da sua imagem e seu branding é o do homem forte, sério e capaz de manter a ordem, a lei e de restaurar a dignidade e grandeza russa. Em 1999, quando substitui um enfraquecido Boris Ieltsin sua relativa juventude (possuía apenas 47 anos) e seu vigor físico chamavam a atenção do povo russo habituado com líderes soviéticos ido

Crimeia: alguns pensamentos

We get so close, near enough to fight When a Russian gets me in his sights He pulls the trigger, and I feel the blow A burst of rounds take my horse below And as I lay there gazing at the sky My body's numb and my throat is dry And as I lay forgotten and alone Without a tear I draw my parting groan The trooper, Iron Maiden* A Guerra da Crimeia, entre 1853 e 1856, sepultou o sistema do Concerto Europeu de governança que consistia num sistema projetado para manter uma hegemonia coletiva no continente europeu e que se estendia as suas colônias. A confrontação na Crimeia trouxe conseqüências dramáticas em todos os participantes e serviu para exarcerbar os nacionalismos que provocaram uma corrida armamentista e culminaram na Primeira Grande Guerra. Entre outras conseqüências da Guerra da Crimeia está o fim da servidão na Rússia e a percepção de que o exército russo estava desatualizado em táticas e equipamentos, uma constatação aterradora. A Guer

Duas notas sobre Crimeia, dois embaixadores separados pelo Atlântico

Tenho conduzido uma reflexão pública nas páginas desse blog acerca da crise ucraniana e a provável incorporação da Crimeia a Mãe Rússia, ainda estou elucubrando minha visão sobre o tema e como a boa metodologia sugere tenho buscado saber o que pensam outros colegas de profissão sobre o assunto, não para aderir a alguma visão, mas na busca de elementos para a construção da minha visão sobre o tema. Nutro a esperança que você distinto leitor venha até esse Coisas Internacionais no mesmo intuito. Nesse sentido transcrevo dois textos de dois embaixadores, o primeiro é uma curta nota de Renato Marques, ex-embaixador brasileiro na Ucrânia, o segundo texto é de Francisco Seixas da Costa, ex-embaixador de Portugal no Brasil, França e alhures que ao longo de sua carreira trabalhou na construção da Europa unificada que vemos hoje. A primeira nota não se pretende analítica, mas projeta cenários, o que é um passatempo muito apreciado por esses seres de diversões excêntricas que somos nós intern

As novas fronteiras da Rússia, por Francisco Seixas da Costa

O grande tema do momento é a crise ucraniana e o novo fôlego que o velho urso russo parece demonstrar, é claro, que esse renascer russo já vinha sendo ensaiado há um bom tempo, mas agora é uma realidade que precisa ser compreendida e levada em conta por qualquer analista de Relações Internacionais. Hoje, trago mais um elemento de reflexão acerca da ação russa é um texto que tem uma década de idade , mas que é não só atual, como traça cenários de maneira serena, o que é muito bem vindo nesse momento em que verdadeiros delírios conspiratórios são aceitos como análises sérias. O autor é o diplomata português e habitué desse blog, Francisco Seixas da Costa, transcrevo no português lusitano tal qual o original que se pode ler aqui . As novas fronteiras da Rússia por Francisco Seixas da Costa As mudanças políticas que ocorreram na Geórgia no final de 2003 vieram chamar, uma vez mais, a atenção para um mundo muito vasto, constituído pelos Estados que resultaram do desmantelamento da

Stratfor: Protesters in Lviv Raise the Stakes in Ukraine's Crisis

" Protesters in Lviv Raise the Stakes in Ukraine's Crisis is republished with permission of Stratfor."   As the standoff in Independence Square continues in Kiev, the western part of Ukraine has added a more serious element to the country's internal struggle. On Wednesday, several administration buildings were taken over by protesters in the west, including in Khmelnytskyi, Ivano-Frankivsk, Uzhhorod and Ternopil. Meanwhile, demonstrators from an opposition group called People's Rada in Lviv, the largest and most important city in the west, said on Wednesday that they want to declare independence from Ukraine.  Though the declaration may be little more than symbolic, it presents an important new dynamic to the political evolution in Ukraine and also underscores Lviv's traditional significance to the country. Indeed, Lviv's history -- both as a hub for national movements and for its distinction from the eastern part of the country as a truly European c

Que se lixe a União Européia por Francisco Seixas da Costa

O diplomata português Francisco Seixas da Costa, grandemente apreciado pelo autor desse blog como bem sabem os leitores habituais, trata nesse breve texto sobre o escândalo envolvendo a diplomata Victoria Nuland, que tratei aqui . "Que se lixe a União Europeia!" A frase em título, embora num registo estilístico um pouco menos suave, foi pronunciada por uma alta responsável diplomática americana, ao telefone com o embaixador de Washington em Kiev, numa alusão crítica (espero que os leitores apreciem este "understatement", tributário da fina cultura diplomática lusa) à posição de Bruxelas na crise ucraniana. A senhora em causa é casada com Robert Kagan, de quem já li coisas "lindas" a propósito da Europa, pelo que daqui se pode inferir o nível de "carinho" com que o Velho Continente deve ser mimoseado na intimidade do casal. O que a mim me surpreende é o "escândalo" que estas coisas ainda parece provocarem. A senhora Merkel

Uma janela para os bastidores da diplomacia americana e F*ck the EU

Não é sempre que temos acesso a conversas sem cesuras entre diplomatas tentando costurar um acordo num momento de crise. E uma fita de um grampo telefônico divulgada pelo youtube nos dá essa oportunidade de ouvir como são feitas as coisas, no solo, na prática e com o uso de palavrões. Aliás, o próprio contexto do vazamento da gravação é bem interessante para quem analisa a questão ucraniana e visa claramente fazer com que a oposição ao governo local seja vista como traidores e manipulados pelo Ocidente, mas ao ouvir com atenção a fita revela que o jogo, ao melhor estilo Guerra Fria, também é disputado pelos Russos. O mais interessante é que o Ocidente, não é frente unida, como os teóricos da conspiração e os políticos querem fazer parecer e isso fica evidenciado que a manobra tentada não continha anuência da UE, que é parte interessada no conflito. E o que evidência isso? Bom, é belo “fuck the EU” dito pela diplomata Victoria Nuland em sua conversa com o embaixador americano na U

Diários de Política: A vitória (incompleta?) de Merkel

Diários da Política é coluna* de Márcio Coimbra** Foi uma vitória maiúscula para Merkel. A CDU/CSU avançou e massacrou o SPD. O democratas-critãos beiraram os 42%. Os social-democratas chegaram em 25%. A diferença foi grande. Chegou a ser cogitada uma histórica maioria absoluta (mais de 50% do Parlamento), o que seria até possível dentro do intricado sistema político alemão. A CDU/CSU poderia chegar quase lá, com cerca de 301 dos 606 parlamentares do Budestag. Se não for este número, será perto. Mas é uma vitória amarga para a Mutti. Ela perde o controle do Bundestag. Nas últimas eleições ela angariou 33,8% e os parceiros liberais do FDP 14,6%. Foi um número suficiente para que Merkel governasse em coalizão com seus parceiros preferidos, de ideologia política similar. O problema desta vez foi a falta de votos para o FDP que chegou apenas a 4,8% e sequer fará parte do Bundestag. A perda de força dos liberais nas urnas já era esperada, mas apesar de a CDU ter fortalecido sua musculat

As várias “europas” institucionais

Quem nunca se perdeu ao observar o complexo mapa institucional da Europa? O post abaixo de autoria do diplomata português Francisco Seixas da Costa. Pela enésima vez vou repetir que sou fã do estilo agradável de escrita do diplomata, como fica comprovado na anedota que tanto pode ser verdadeira, como uma ficção didática, que com bom humor versa sobre o labirinto europeu e a necessidade de clareza que isso exige dos meios de comunicação e dos que vivem de analisar as Relações Internacionais. O texto é transcrito integralmente e com autorização do autor e está disponível aqui . Europas Por Francisco Seixas da Costa Hoje, ao estacionar o meu carro na área da rua de S. Caetano reservada a algumas viaturas de quem trabalha no Centro-Norte Sul do Conselho da Europa, que atualmente dirijo, uma senhora parou em frente a mim e disse: "Eu conheço-o de qualquer sítio! É isso, vi-o na televisão! Trabalha 'na Europa', não é?". Desvanecido com o reconhecimento, porque o nosso e

Anarchy in the UK

“I'm antichrist, I'm anarchist, don't know what I want But I know how to get it I wanna destroy the passerby” Sex Pistols. Nesse aniversário de 6 meses da chamada “Primavera Árabe” outro grupo de jovens enfrenta a polícia nas ruas de uma cidade densamente povoada, mas dessa vez não foi numa milenar capital do Oriente Médio e sim na igualmente milenar cidade de Londres, que uma vez não há muito tempo foi a capital de um Império sobre o qual o sol nunca se punha. Essa revolta não possui o caráter libertário e esperançoso das revoltas árabes em que homens e mulheres, jovens e velhos se juntam para tomar em suas mãos a rédeas de sua sociedade e nesse contexto é natural que todo tipo de opinião lute pela supremacia até mesmo as estapafúrdias posições extremistas. Em Londres a revolta juvenil se alastra não pela luta pela liberdade, mas como a expressão de uma raiva, de um ressentimento. Não vou fazer sociologia barata e dizer que é a expressão do rancor dos que sofrem com ra

Explosão, tiros, sofrimento e incertezas em Oslo, Noruega

A cobertura dos ataques ocorridos hoje na bela capital norueguesa domina a imprensa internacional, em especial os canais de noticias por assinatura. As imagens dos resultados da explosão indicam que Dispositivos Explosivos Improvisados de alta potência foram usados nesse ataque, provavelmente usando um veiculo, um “carro-bomba”. Além disso, há relatos que um homem vestindo uniformes policiais abriu fogo em um encontro da juventude do partido trabalhista (que atualmente é o partido do governo). Que ocorria na ilha de Utoya que fica alguns quilômetros do centro de Oslo. Enquanto escrevo isso não a confirmação de que os dois atos façam parte de um único e coordenado ataque, embora o pouco espaço de tempo entre os ataques torne plausível a hipótese de que estejam relacionados. A essa altura nenhum grupo terrorista assumiu a responsabilidade e a especulação na imprensa e entre especialistas é que se trate de algum grupo extremista islâmico, embora todos salientem que não é possível no mo

Ler, Refletir e Pensar: Francisco Seixa da Costa: Schengen

Esse sábado trago um lúcido texto do embaixador de Portugal em França, Francisco Seixas da Costa que expõe de maneira breve, porém sem prejuízo para a profundidade, aspectos negociais do Tratado de Schengen e para isso faz uso de sua experiência pessoal como negociador desse arranjo. O texto é republicado com autorização expressa do autor e segue como no original. Os desafios da Primavera Árabe e da crise econômica começam a minar o sistema de livre circulação de pessoas no espaço comum europeu e isso colocou esse tratado como tema do dia. Por isso é interessante lembrar um pouco do espírito que animou a elaboração desse tratado. O texto além de informativo e de contar com um memorial das impressões pessoais do embaixador é uma leitura muito agradável por conta do invejável estilo do autor. Schengen E volto a lembrar o Luxemburgo, onde fica a pequena localidade de Schengen, que deu o nome ao acordo de que tanto se fala. O acordo de Schengen, que prevê a livre circulação de pessoa

Reunião esquecida – Reunião MERCOSUL – UE

Essa semana compreensivelmente foi dominada pela problemática iraniana (que ao que parece receberá sanções com um placar de 16 x 3 no CS, uma goleada, para ficar nas metáforas futebolísticas tão caras ao Presidente). Na próxima semana pretendo escrever mais sobre esse assunto, que tem nuances interessantes como a posição francesa, que segundo o governo federal é um parceiro estratégico, de tal maneira importante que goza de preferência na compra de caças o famoso processo F-X2. Sem contar à pressão que o Brasil exerceu para isolar Honduras em uma reunião Europa – América Latina. Posição bastante dispare da política Cubana do atual do governo, enquanto não tenho elementos, tempo e internet funcionando a contendo deixo esse vídeo do programa “espaço aberto”. Não gosto muito de colocar vários vídeos em um curto período, me sinto preguiçoso, mas nesse caso e no dos próximos dias o faço por crer que trazem elementos relevantes. [Leiam o texto abaixo que é autoral e assim me sinto menos pr

Acordo iraniano. Ou quem quer ser fiador?

O Brasil, ou melhor, o governo brasileiro (leia-se governo Lula) conseguiu o que julga ser uma grande vitória da diplomacia brasileira, sem dúvida será assim veiculado pelo governo e seus defensores. É natural que políticos celebrem o que consideram ser suas vitórias. Uma análise internacional, feita independentemente (como as feita na academia são ou deveriam ser) deve ser construída com lógica e dados. Nesse sentido ainda carecemos de dados, precisamos das “fine prints” do acordo, das letras miúdas do tratado. O ambiente nacional está cada vez mais “contaminado” pelo debate eleitoral e nesse sentido críticas a política externa são tidas como tendo fundo eleitoral, tanto que me sinto compelido a escrever essas letras explicativas das minhas intenções e o faço não para dar satisfações a uma suposta patrulha de conduta, mas sim para que eu possa ser entendido da melhor maneira possível. O acordo nuclear com Irã é a mais nova faceta da estratégia nacional de ser um global player , o q

Crise na Grécia um bom debate

Ainda opero no Plano B , situação que deve se resolver essa semana, espero, mas ainda assim separo agora um bom vídeo, que mostra um bom debate sobre a crise grega, levado a cabo no excelente Globo News Painel, que reiteradamente aqui disponibilizo os vídeos e sempre teço elogios ao programa, que realmente gosto.