Pular para o conteúdo principal

Diários de Política: A vitória (incompleta?) de Merkel

Diários da Política é coluna* de Márcio Coimbra**

Merkelvitória

Foi uma vitória maiúscula para Merkel. A CDU/CSU avançou e massacrou o SPD. O democratas-critãos beiraram os 42%. Os social-democratas chegaram em 25%. A diferença foi grande. Chegou a ser cogitada uma histórica maioria absoluta (mais de 50% do Parlamento), o que seria até possível dentro do intricado sistema político alemão. A CDU/CSU poderia chegar quase lá, com cerca de 301 dos 606 parlamentares do Budestag. Se não for este número, será perto.

Mas é uma vitória amarga para a Mutti. Ela perde o controle do Bundestag. Nas últimas eleições ela angariou 33,8% e os parceiros liberais do FDP 14,6%. Foi um número suficiente para que Merkel governasse em coalizão com seus parceiros preferidos, de ideologia política similar. O problema desta vez foi a falta de votos para o FDP que chegou apenas a 4,8% e sequer fará parte do Bundestag. A perda de força dos liberais nas urnas já era esperada, mas apesar de a CDU ter fortalecido sua musculatura, não foi o suficiente para compensar a perda de votos dos liberais.

No jogo político isto conta muito. Na verdade, apesar da vitória maiúscula de Merkel, com mais votos diretos do que na eleição anterior, ela perdeu o controle pleno do Parlamento. No Bundestag haverá mais oposição do que havia até ontem. Em número de deputados a coalizão governista sai enfraquecida.

Se sozinhos, o democrata-cristãos tivessem alcançado a maioria absoluta, seria um feito que não se repete desde a eleição de Konrad Adenauer em 1957. Faltou pouco. Mas um pouco que teria feito toda a diferença. De qualquer forma, ela entra para a história como sendo a terceira Chanceler no pós-guerra a vencer três eleições em sequência.

Voltando ao Busdestag, que elege a Chanceler. A CDU/CSU deve chegar a 41,5% dos votos. Dentro do sistema alemão, uma votação um pouco superior poderia fazer, mediante os cálculos eleitorais, a CDU chegar a ter maioria absoluta. Não aconteceu. O FDP, como não chegou aos 5%, ficará de fora do Parlamento. Merkel não pode contar com os 4,8% recebidos por eles. Do lado oposicionista, a soma dos três partidos que entram no Parlamento são: SPD (25,7%), Verdes (8,03%) e Esquerda (8,6%) somam 42,6%. Como disse, o consórcio governista, com 41,5%, perdeu a maioria no Parlamento.

A saída é formar uma coalizão com um dos partidos de oposição e formar maioria. Entretanto, neste caso, a agenda política de Merkel vai sofrer alterações. Ela precisará abrir espaço no governo para seus adversários, provavelmente do SPD. Da possibilidade de uma maioria absoluta, Merkel terá que na realidade governar em coalizão.

A vitória foi bonita, mas na prática uma vitória com resultados práticos muitos ruins. A maioria se foi, assim como uma agenda livre de imposições da oposição.

____________

*Márcio Coimbra é correspondente Coisas Internacionais, em Washington, D.C.

**A Coluna Diários de Política circula aos domingos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Colômbia – Venezuela: Uma crise previsível

A mais nova crise política da América do Sul está em curso Hugo Chávez o presidente da República Bolivariana da Venezuela determinou o rompimento das relações diplomáticas entre sua nação e a vizinha Colômbia. O fez em discurso transmitido ao vivo pela rede Tele Sur. Ao lado do treinador e ex-jogador argentino Diego Maradona, que ficou ali parado servindo de decoração enquanto Chávez dava a grave noticia uma cena com toques de realismo fantástico, sem dúvidas. Essa decisão estar a ser ensaiada há tempos, por sinal em maio de 2008 seguindo o ataque colombiano ao acampamento das FARC no Equador. Por sinal a atual crise está intimamente ligada aquela uma vez que é um desdobramento natural das acusações de ligação entre a Venezuela e os narco-gueriilheiros das FARC. Nessa quarta-feira o presidente da Colômbia (e de certa maneira o arquiinimigo do chavismo na América do Sul) Álvaro Uribe, por meio de seus representantes na reunião da OEA afirmou que as guerrilhas FARC e ELN estão ativas...

Sobre a política e suas narrativas por Creomar de Souza

A gravidade do momento político e econômico que o Brasil atravessa exige do cidadão contemplar alternativas e avaliar os argumentos das diversas correntes de opinião, nesse afã publico aqui com autorização expressa do autor um excelente texto sobre as narrativas em disputa mais acirrada pela condução coercitiva do ex-presidente Lula. Creomar de Souza (professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília) é uma das mais sensatas vozes desse país e um analista de uma serenidade ímpar. Leiam e reflitam. Ainda há intelectuais em Brasília. Sobre a política e suas narrativas Por Creomar de Souza Escrevo este texto sob o impacto imagético da entrada da Polícia Federal do Brasil na casa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O desdobramento da Operação Lava Jato em mais uma fase – relembrando um antigo sucesso dos videogames – e em mais um batismo – de fazer inveja a qualquer marqueteiro bem sucedido da Avenida Paulista – trazem à bai...

Ler, Refletir e Pensar: The Arab Risings, Israel and Hamas

Tenho nas últimas semanas reproduzido aqui artigos do STRATFOR (sempre com autorização), em sua versão original em inglês, ainda que isso possa excluir alguns leitores, infelizmente, também é fato mais que esperado que qualquer um que se dedique com mais afinco aos temas internacionais, ou coisas internacionais, seja capaz de mínimo ler em Inglês. Mais uma vez o texto é uma análise estratégica e mais uma vez o foco são as questões do Oriente Médio. Muito interessante a observação das atuações da Turquia, Arábia Saudita, Europa e EUA. Mas, mostra bem também o tanto que o interesse de quem está com as botas no chão é o que verdadeiramente motiva as ações seja de Israel, seja do Hamas. The Arab Risings, Israel and Hamas By George Friedman There was one striking thing missing from the events in the Middle East in past months : Israel. While certainly mentioned and condemned, none of the demonstrations centered on the issue of Israel. Israel was a side issue for the demonstrators, with ...