Enquanto escrevo este texto assisto na televisão uma desconcertante imagem filmada nas ruas da bela cidade do Cairo. Não sou um cronista dotado de talento, mas se me permitem tentarei descrever o que vejo.
Um veículo de transporte militar blindado fecha uma rua vazia marginal ao rio Nilo, com sua metralhadora (parece ser uma metralhadora calibre ponto 50) apontada para a multidão que caminha em protesto em direção ao Ministério da Informação.
Ao lado do veículo sua guarnição aguarda tensa a chegada da multidão. Os soldados egípcios nesse momento estão diante de uma escolha de profunda repercussão ética. O que fazer diante da multidão?
Não tenho informação de quais foram às ordens dadas a esses homens, mas disparar com munição real contra seus compatriotas desarmados em um protesto deve provocar repercussões no moral da tropa e psicológicas nos soldados.
Por um breve instante me coloquei no lugar daqueles homens e pensei o que fazer? Meu Deus o que fazer? Contudo, logo lembrei que não tenho elementos para me colocar no lugar daqueles homens não tenho o treinamento que eles têm, não conheço as ordens e as doutrinas nas quais operam. Nesse momento temi pela multidão. Afinal, não faltam exemplos de forças armadas abrindo fogo contra seu próprio povo.
Mas, a guarnição não reagiu violentamente e tampouco foram hostilizados (e, portanto obrigados a usarem a força) pelo povo. A multidão cercou o veículo militar com cantos eufóricos, quase celebrando os homens do Exército. Os soldados pareciam querer acalmar a multidão, mas por final decidiram se retirar de lá.
Mas, por um breve segundo do conforto da minha cadeira eu me vi atormentado pela pergunta. O que fazer?
O que fazer?
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O blindado da foto é o mesmo referido no texto. Foto, até onde eu sei, foi postada por Hasan Almustafa em sua conta no Twiitpic.
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