As agências de noticias e canais internacionais confirmam que Zine El Abidine Ben Ali não é mais o presidente (eufemismo para um ditador) da Tunísia, país do norte da África. O governo enfrenta fortes protestos de rua e violenta repressão não foi capaz de manter a estabilidade do regime. Relatos dão conta que o ex-presidente que tentou salvar seu regime dissolvendo o governo e anunciando eleições para 2014 fugiu encerrando assim uma ditadura de 23 anos.
Ben Ali como é mais conhecido o agora ex-ditador ascendeu ao poder por meio de um golpe de estado em novembro de 1987. As ondas de protesto tiveram inicio em novembro guando Mohamed Bouazizi se incendiou em protesto ao tratamento que lhe foi dado pelas forças de segurança de seu país.
Bouazizi era graduado universitário atuando fora de sua área de formação, algo que não é incomum na Tunísia que sofre com altas taxas de desemprego, talvez isso tenha gerado identificação, a comoção e a adesão crescente aos protestos, que parecem ter a raiva com relação à falta de empregos o que criou o clima que Foreign Policy resumiu como “clima geral de desespero”.
A esse clima de desconforto econômico se soma a revolta com a corrupção que atinge níveis altos e fazem com que a família do ditador seja constantemente comparada com uma família de criminosos mafiosos, nesse particular revelações recentes feitas pelo site WikiLeaks acerca da Carthage International School, uma escola internacional que foi construída com subsídios públicos e doação de terreno e dinheiro e era uma propriedade de Leila Ben Ali (primeira dama tunisiana) e Suha Arafat (viúva de Yasser Arafat). A escola logo se tornou graças ao fechamento de uma escola rival pelo governo.
Segundo os telegramas vazados enquanto Suha Arafat estava em Malta o governo tunisiano revogou seu visto e a retiraram do quadro de sócios da escola que pouco depois foi vendida por uma grande quantia de dinheiro não divulgada. (Para saber mais ver o telegrama vazado aqui). Interessante notar que Suha recorreu a embaixada americana para que eles tentassem reverter a situação.
Esta história é apenas uma de muitas de flagrante corrupção que tiveram lugar em acirrar os ânimos da população. Para se ter uma idéia da percepção da corrupção por lá (e por aqui por que não) recomendo visitar o mapa interativo da Transparência Internacional.
Outro aspecto do regime que definitivamente contribuiu para a atual crise política e manifestações é o caráter autoritário do regime que proibiu o acesso aos documentos vazados pelo WikiLeaks o que acabou exacerbando a manifestações de rua iniciadas com o dramático protesto de Mohamed Bouazizi. A repressão a essas manifestações deixou um saldo estimado de 35 mortos. Contudo, as manifestações alcançaram níveis inéditos na capital Tunis.
Nesse contexto o ditador tentou restabelecer a ordem dissolvendo o governo e anunciando convocação de eleições, contudo isso não diminui o ímpeto dos manifestantes. Alguns chegaram a dizer a CNN que lutavam por sua liberdade.
A situação ainda não está clara e no calor dos acontecimentos e difícil antever resultados possíveis. Sabe-se que o atual primeiro-ministro Mohamed Ghannouchi, que fora demitido pelo ditador em fuga assumiu.
A ditadura tunisiana era tolerada pelo ocidente por ser um regime islâmico moderado e até certa medida ocidentalizado, um aliado potencial em uma região hostil. Os protestos de agora não parecem ser o prelúdio de uma guinada mais fundamentalista no país. Mesmo por que a Tunísia possui uma classe média que parece estar desejosa de um regime mais livre e democrático.
Há muita especulação sobre como será feita a transição e a administração do país que terá que lidar com expectativas altas da população e pouca paciência tem-se falado em um governo de unidade nacional.
Como sempre, prefiro aguardar para ter elementos mais profundos para permitir a construção de um cenário mais real para a situação no país. Uma única coisa me parece clara a tensão perdurará pelos próximos dias e o resultado dessa movimentação é incerto.
UPDATE 15/01 03h34: Segundo o jornal Washigton Post o ditador Ben Ali está refugiado na Arábia Saudita. (aqui)
UPDATE 15/01 03h34: Segundo o jornal Washigton Post o ditador Ben Ali está refugiado na Arábia Saudita. (aqui)
Comentários
TENSO
AEHHAEAE
Parabéns pelo texto.
Ainda tentando resolver os problemas no Caos...
Abraços!