Pular para o conteúdo principal

Colômbia – Venezuela: O timing de Uribe

Dando prosseguimento a série de postagens (que têm o prefixo “Colômbia – Venezuela) sobre a atual escaramuça diplomática entre Colômbia e Venezuela. É óbvio que para construir uma análise completa e complexa do atual estado de coisas seria preciso antes de tudo revisar o histórico de relações entre os dois países e caberia também revisar o padrão de relacionamento externo de cada um e assim levantar as tendências perenes e as variações impostas pelos regimes que estão no poder nos dois países. Feito isso seria preciso levantar o mapa dos grupos de opinião pública mais ativos e influentes, identificar se formam correntes transnacionais a partir daí construir um retrato dos interesses outros que influem, como o posicionamento de Organizações Internacionais e demais países da região.

Fica claro que tecer uma análise com esse grau de detalhamento necessitaria de um trabalho de pesquisa intenso que envolveria levantar e revisar a bibliografia, checar fontes documentais, garimpar entrevistas. E tudo isso consumiria tempo e recursos financeiros, afinal fazer ciência não sai barato (mesmo ciência social). Com isso em mente fica claro que qualquer peça opinativa não poderá exaurir o tema e nem pode ter a pretensão de tentar ser definitiva. Qualquer avaliação feita em texto opinativo e curto sempre deixará alguma ponta solta ou necessitando de maior aprofundamento.

E nesse sentido há algo que tem permanecido em minha cabeça é a questão do porquê de Uribe ter escolhido o ocaso de seu mandato (dia 7 do próximo mês seu sucessor e criatura eleitoral assume a presidência). E aqui faço um “mea culpa” por que ignorei e ignoro o perfil psicológico de Uribe que poderia conter importantes pistas sobre comportamento. Afinal toda análise é feita em vários estratos e as idiossincrasias dos tomadores de decisão é um desses estratos.

Os cientistas sociais, em geral, mesmo os das ciências sociais aplicadas tem uma predileção pela análise dialética. Contudo, eu prefiro usar o método hipotético-dedutivo (como bem sabem os leitores habituais desse blog), assim criarei aqui uma hipótese que terá que resistir a prova.

O problema então que desperta minha postagem é saber as possíveis razões políticas que poderiam ter levado a decisão da diplomacia colombiana de interpelar a Venezuela sob seu suposto (e muito verossímil) apoio e conivência aos grupos guerrilheiros colombianos que se escondem em território venezuelano.

A acusação é grave e mereceria um escrutínio severo da comunidade internacional, afinal é um ato que atento contra a legislação internacional e própria legislação interna da Venezuela. Portanto, é um processo que uma vez desencadeado não é facilmente revertido, isto é, não são apenas palavras vazias de um discurso de líderes políticos. É razoável crer que a decisão de levar a público essas acusações foi feita com o conhecimento, senão consentimento de Santos (presidente-eleito).

E parece ser provável que tenha sido assim já que o anúncio foi feito em um momento que Santos estava fora da Colômbia, em viagem de apresentação pela América Latina, estava ele no México quando Chávez rompeu reações com a Colômbia, essa decisão como escrevi anteriormente esta a ser ensaiada pelo líder bolivariano e assim é provável que os diplomatas e políticos colombianos tenham antecipado esse passo de Chávez.

E dado a gravidade da conseqüência tangível fica ainda mais complexa a decisão de fazer isso ao apagar das luzes de seu mandato. Por que afinal de contas estaria legando ao próximo governo uma grave crise com um vizinho, que é grande consumidor de suas exportações e com quem é vital ter laços de cooperação inclusive no combate às guerrilhas que precipitaram a atual crise.

Surge-me a hipótese de que esse movimento arriscado de política externa serviria para limitar as possibilidades retóricas e de ação do governo venezuelano que vem declarando que espera que Santos inaugure uma nova fase nas relações entre os dois países, já que Uribe é figura detestada visceralmente por Chávez.

Essa limitação se daria por que a Chávez não há como radicalizar mais sua oposição a Colômbia sem recorrer a uma agressão – o que sinceramente considero improvável –, além disso um efeito já pode ser visto no discurso chavista conclamando as FARC para que deixem a luta armada, isso simboliza que por ter o mundo olhando mais de perto Chávez terá que suspender seu apoio aos guerrilheiros (por que só assim ele poderá provar que nada tem a ver com eles). Além disso, a postura moderada de Santos o coloca como interlocutor, descaracterizando o discurso de que a Colômbia seria beligerante ante a Venezuela que sustenta as posições de Chávez.

Elementos que me fazem pensar assim são dadas pela postura de Santos que se mantém em silêncio, e escolheu uma chanceler que é vista como dissidente dentro do núcleo duro do Governo Uribe. A isso se soma o silêncio colombiano que tratou o assunto em fórum multilateral e não escalou a retórica, nem para rebater a retórica dura venezuelana (pelo menos até a hora que escrevi esse texto), importante para não aumentar a fervura da crise e mais ainda cria uma imagem transparente ao dar tratamento multilateral.

Ainda é uma hipótese em formação e careço de elementos para aprofundar essa linha de análise, contudo, me parece razoável defender que na postura atual de Uribe não há a componente vaidade, ou em outras palavras um movimento tão grande não parece ter sido construído para consumo interno.

Resta-nos agora, como sempre, avaliar os desdobramentos e ir ajustando as conclusões a medida que mais e melhores informações se tornam disponíveis. A fim de que nossas análises sejam fiéis a lógica. Contudo, admito que posso estar a me colocar sozinho nesse caminho analítico. Mas, toda hipótese existe para serem testadas e existe a possibilidade de que sua hipótese seja provada errônea e mesmo assim se aprende. O que não se pode fazer nunca é falsear a lógica e as provas para que sua hipótese seja verdadeira. 

Comentários

Unknown disse…
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Artur disse…
cara...você escreve bastanten hein =]
eu poderia escrever qualquer coisa aqui...mas a real é que eu não curto muito isso...
enfim..sucesso
Unknown disse…
gosto bastante da sua analise vc escreve muito bem
^^
Paulo Arthur disse…
Gosteii do blog . cara vc escreve muito mesmo queria ter a mesma força de vontade pra escrever isso tudo no meu blog:
www.blogpauloarthur.blogspot.com
KGeo disse…
o começo desse texto é confuso parece que vc vai falar uma coisa mas o assunto muda completamente de assunto
Mário Machado disse…
Aceito muito as críticas, mas nesse particular não vejo nenhuma mudança de assunto ao apresentar a metologia e depois fazer a análise.
Raah disse…
Muito bom seu blog. Bem crítico
Evelyn Carolina disse…
você escreve bem, mais acho o texto muuuuuuito grande sabe, eu sei que dá o maior trabalho e tals, sei tbm que não é fácil. mais fiica muuuuito chato de ler, e as pessoas acabam nem lendo inteiro.

parabéns pelo blog e sucesso!
/foi sincera a opinião desculpa por qlquer coisa.

beijos, das meninas TT
http://revistatudoteen.blogspot.com/
Anônimo disse…
Como disse Caetano, "política é o fim"... mas tudo é político... tudo é o fim... e o começo... vixi, filosofei!

Chega!

Valeu!

F.
Mário Machado disse…
Realmente meu textos são longos, como minha amiga, colega de turma e "chefe" Carol Valente, mas uma parte do meu público quando vem aqui espera por isso.

Postagens mais visitadas deste blog

Crise no Equador

Sob forte protesto das forças policiais e parte dos militares, que impedem o funcionamento do aeroporto internacional de Quito. Presidente Correa cogita usar dispositivo constitucional que prevê dissolução do Congresso e eleições gerais. Mais uma grave crise política na América do Sul. Numa dessas coincidências típicas de se analisar as coisas internacionais discutia semana passada numa excelente postagem de Luís Felipe Kitamura no laureado blog Página Internacional a situação equatoriana. A postagem tinha como título Equador: a instabilidade política e suas lições . Na qual o colega discorria sobre o péssimo histórico de conturbação política do país andino e sobre como o governo Correa parecia romper com isso usando a receita da esquerda latina de certo pragmatismo econômico e políticas distributivas. Mas, justamente a instabilidade política que parecia a caminho da extinção volta com toda força em um episódio potencialmente perigoso, que contundo ainda é cedo para tecer uma análise

Meus leitores fiéis, pacientes e por vezes benevolentes e caridosos

Detesto falar da minha vida pessoal, ainda mais na exposição quase obscena que é a internet, mas creio que vocês merecem uma explicação sobre a falta de manutenção e atualização desse site, morar no interior tem vantagens e desvantagens, e nesse período as desvantagens têm prevalecido, seja na dificuldade na prestação de serviços básicos para esse mundo atual que é uma boa infra-estrutura de internet (que por sinal é frágil em todo o país) e serviço de suporte ao cliente (que também é estupidamente oferecido pelas empresas brasileiras), dificuldades do sub-desenvolvimento diria o menos politicamente correto entre nós. São nessas horas que vemos, sentimos e vivenciamos toda a fragilidade de uma sociedade na qual a inovação e a educação não são valores difundidos. Já não bastasse dificuldades crônicas de acesso à internet, ainda fritei um ‘pen drive’ antes de poder fazer o back up e perdi muitos textos, que já havia preparado para esse blog, incluso os textos que enviaria para o portal M

Extremismo ou ainda sobre a Noruega. Uma reflexão exploratória

O lugar comum seria começar esse texto conceituando extremismo como doutrina política que preconiza ações radicais e revolucionárias como meio de mudança política, em especial com o uso da violência. Mas, a essa altura até o mais alheio leitor sabe bem o que é o extremismo em todas as suas encarnações seja na direita tresloucada e racista como os neonazistas, seja na esquerda radical dos guerrilheiros da FARC e revolucionários comunistas, seja a de caráter religioso dos grupos mulçumanos, dos cristãos, em geral milenaristas, que assassinam médicos abortistas. Em resumo, todos esses que odeiam a liberdade individual e a democracia. Todos esses radicais extremistas tem algo em comum. Todos eles estão absolutamente convencidos que suas culturas, sociedades estão sob cerco do outro, um cerco insidioso e conspiratório e que a única maneira de se resgatarem dessa conspiração contra eles é buscar a pureza (racial, religiosa, ideológica e por ai vai) e agir com firmeza contra o inimigo. Ness