No último dia 7 de agosto ocorreu o evento de MMA (Mixed Martial Arts, o bom velho Vale tudo) UFC 117, que teve como atração principal a luta entre Anderson Silva e Chael Sonnen. Anderson conhecido também como “Spider” defendia seu cinturão pela primeira vez depois de uma polêmica luta com Demiam Maia em que o campeão exibiu todos os sinais do maior defeito que afetava os mitológicos heróis gregos, a Húbris. Um excesso de confiança que fez Silva atuar sem respeito por seu adversário. Sua conduta zombeteira e arrogante foi completamente incompatível com os princípios da esportividade.
Anderson Silva se tornou um campeão impopular, alguém que é admirado por suas capacidades de luta, mas que ainda assim foi alvo de críticas veementes e contundentes do presidente do UFC, Dana White. Que chegou a declarar que pela primeira vez saiu de uma luta antes do final enojado pelo comportamento do campeão. Claro que além da indignação que os admiradores e praticantes do esporte sentem quando sua arte é aviltada, há a indignação de quem estar a perder dinheiro com um campeão impopular. Afinal para o esporte ser rentável é preciso que os fãs consumam esse esporte (o que inclui revistas especializadas, camisetas, etc.) Além disso, as empresas que patrocinam o evento e que anunciam nos intervalos comerciais das emissoras autorizadas querem associar suas marcas aos valores positivos do esporte.
Em esportes de luta uma característica acima de todas faz um campeão, o coração (pode ser chamado de garra, raça). Coração nesse caso é aquela capacidade de vencer apesar das adversidades, é o algo amais. Por que se pressupõe que todo atleta que prática seu esporte em alto rendimento seja dedicado aos treinamentos e talentoso. Portanto, se dedicar aos treinamentos não é virtude em si, uma vez que deveria ser condição básica.
Após o espetáculo de arrogância e menosprezo da luta contra Demiam, Anderson estava na alça de mira do público, principalmente nos EUA onde se deu o evento, por aqui Silva se manteve sempre popular, ainda que fosse ressaltado que seu comportamento fora excessivo.
Esse era o clima que cercava a contenda entre Anderson Silva e Sonnen. Sonnem parecia determinado a vencer, por sinal fez questão de elevar a temperatura da luta com declarações fortes que colocavam em cheque a habilidade de Anderson Silva e chegou até mesmo a menosprezar a faixa preta em Jiu-Jitsu Brasileiro do campeão. Ao começo da luta Anderson Silva se dirigiu dos vestiários ao octógono usando um jiu-jitsu Gi (a quem chame de kimono) que remeteu ao primeiro brasileiro praticante da arte-suave a lutar num UFC Roice Gracie no UFC 1. Não apenas isso usar o jiu-jitsu gi foi uma maneira simbólica de defender seu status como faixa preta.
Mas, nenhum simbolismo substitui a vitória. O resultado é algo importante não obstante as intenções são os resultados que ficam. Contudo como o próprio Anderson já havia aprendido o resultado não justifica os meios, ou seja, o resultado tem que ser alcançado dentro dos padrões éticos de comportamento e obrigações morais de respeito as regras pré-estabelecidas.
A expectativa era de ver Anderson Silva usando seus poderosos golpes de Muai Thay, principalmente suas joelhadas que sendo honestas doem até em que assiste as lutas quiçá em quem as recebe. Após as primeiras movimentações no octógono era visível que algo estava errado. O campeão parecia fraco, incapaz de sustentar a troca franca de golpes, desprovido de agilidade e respirava curto. E para piorar recebia golpes fortes, era dominado e parecia que sua derrota era questão de tempo.
Ao final do primeiro round de combate Anderson mostrou dificuldade de se sentar, ainda que disfarçadamente, como convém numa situação como essa. Sua estratégia a essa altura era de tentar resolver a questão na luta de solo. Afinal perdia na contagem e o prospecto realista era de Knockout de Sonnen. No quinto round Anderson mais uma vez levou a luta para o solo. Sonnen ansioso para vencer por knockout começou a esmurrar Anderson e acabou sendo imprudente. Anderson estava com as costas para o chão, mas estava com Sonnem dentro de sua guarda (técnica de defesa em luta de solo), quando Sonnem elevou o tronco para esmurrá-lo ficou exposto a um contragolpe que usa as pernas que fazem a guarda para estrangular o adversário o golpe é conhecido no Jiu-Jitsu como triângulo (por conta do triângulo que é formado pelas pernas do lutador), o movimento também é conhecido no Judô como Sankaku Jime. A chave foi aplicada com precisão o que mostrou a qualidade da técnica de jiu-jitsu do campeão. Desse modo usando um recurso técnico em um momento de extrema dificuldade depois de uma luta estafante. Na entrevista após a luta Anderson admitiu ter lutado com uma costela trincada o que explica seus movimentos limitados, agora o campeão emergiu valoroso, respeitoso e triunfante ante uma dificuldade extrema.
Essa luta apresentou elementos simbólicos que ensinam boas lições que podem ser transladados para a seara da política internacional. O Brasil tem sido inundado por um triunfalismo estimulado pela propaganda oficial que parece querer aumentar a auto-estima da população o que até seria inocente se não fosse calcado em uma percepção de melhoria de vida que não abarca indicadores vitais para a meta do desenvolvimento nacional para citar um: a qualidade da educação básica e universitária.
O analista ganha mais buscando o coração que se deixando levar pela intoxicação da húbris. Mas, nesse particular cada um segue sua consciência embora como dizem no Twitter. Fica a dica!
Comentários
Não sou muito fã deste mundo de MMA, mas a ligação entre os assuntos ficou excelente. Parabéns!