Pular para o conteúdo principal

Pense no Haiti, reze pelo Haiti

Abri o editor de textos no intento de continuar a escrever uma série de texto que preparo para os próximos dias acerca de facetas teóricas das relações internacionais, mas me vi clicando no ícone novo documento em branco não há como deixar de pensar no Haiti, ainda mais por que em todos os canais noticiosos seja na internet, seja na televisão, nacionais ou internacionais o tema é tratado com destaque.

Ainda pensei em escrever uma análise sobre o desconcerto da concertación com a eleição de Sebastián Piñera que rompeu os 20 anos de preponderância da referida coalizão. Contudo, ao pesquisar esse assunto fui bombardeado como já citei por todo tipo de análise de todos os matizes ideológicos e teóricos sobre as repercussões políticas dessa ajuda (eu mesmo escrevi nessa segunda um texto nesses moldes).

A extensão do drama humano no Haiti é espantoso e ainda assim esse povo tenaz (uma característica humana em momentos de crise e de desespero) luta para restaurar algum ponto de normalidade e como vários relatos dão conta se organizam, se ajudam uns aos outros, são muitos os exemplos de doação de água de atendimento médico, de distribuição de alimentos feito por haitianos para haitianos.

Um povo brioso sem dúvidas enfraquecido por sucessivas rupturas políticas e institucionais e por uma cultura de violência política que viceja nesse ambiente de pouca presença de autoridades constituídas. Ainda assim vemos exemplos de solidariedade reconfortantes em meio a tamanha tragédia.

Embora seja verdade que conforto desses bravos exemplos se esvai quando se tem conta das dificuldades que esperam essa nação nas próximas décadas. Um esforço enorme aguarda aos haitianos. Esse povo nos próximos meses em especial se verá muito dependente da organização dos burocratas das O.I’s e da cooperação entre várias nações e infelizmente o prognóstico não é bom quanto a eficiência desses dois fatores individualmente ou em conjunção.

Mesmo as noticias de tiroteios, saques e um pequeno caos que se nutre da sensação de abandono e de esquecimento que grande parte daqueles que estão em áreas sem a presença de ajuda sentem não diminuem ou depõem contra o povo do Haiti. E é sobre esses ombros cansados e fustigados que recairá a construção de seu país, com altivez e coragem dos homens livres. Com a fé e esperança daqueles que sonham com um futuro melhor para seus filhos. Mas, como sabemos não será fácil e nem será um progresso continuo.

Não, não sou cínico ao suficiente para em algum nível crer que algo de bom pode ser extraído desse evento. Ainda que o povo do Haiti em 20, 30, 40 ou 50 anos consiga atingir grande desenvolvimento humano todas as vidas ceifadas e todas as possibilidades que eram nelas contidas terá sido perdido. Impossível não se encher de tristeza, impossível não se enojar um pouco por que a vida continua e no campo da política internacional tudo continua seguindo sua lógica de sempre. Sim isso é esperado, como escrevi ontem, mas que deixa um gosto azedo deixa.  

Aceito esse texto ficou um pouco piegas e um tanto sem objetivo, mas me pareceu ser o texto correto para publicar, creio que um blog, mesmo um como esse que se pretende analítico do fenômeno internacional com algum grau de rigor cientifico, deve conter algo de pessoal, algo opinativo, algo que tribute as origem desse espaço como um ‘diário em rede’ ou web log.

Minhas orações estão com o povo do Haiti, como diz Caetano (nunca me vi o citando): “O Haiti é aqui. O Haiti não é aqui”, uma verdade nesses dias em que desastres naturais tanto aqui (em menor escala) e lá, nos unem em sofrimento muito mais que qualquer arranjo político feito entre políticos.

Comentários

Anônimo disse…
Mário, primeiramente parabéns pelo novo visual do blog. Ficou excelente!
Desculpe a falta de viita, mas o Caos está passando por algumas dificuldades.
Quanto a seu texto, parabéns pela coragem de publicar algo mais pessoal empalavras tão bem escolhidas e utilizadas, mostrando seu sentimento em uma área ondesomos treinados a simplesmente não lembrar que os temos.
Minhas orações se juntam às suas em respeito esolidariedade a um povo já tão castigado.
Mário Machado disse…
Mantenham o caos, afinal dificuldades devem ser superadas.

Obrigado pelos elogios.

Postagens mais visitadas deste blog

Colômbia – Venezuela: Uma crise previsível

A mais nova crise política da América do Sul está em curso Hugo Chávez o presidente da República Bolivariana da Venezuela determinou o rompimento das relações diplomáticas entre sua nação e a vizinha Colômbia. O fez em discurso transmitido ao vivo pela rede Tele Sur. Ao lado do treinador e ex-jogador argentino Diego Maradona, que ficou ali parado servindo de decoração enquanto Chávez dava a grave noticia uma cena com toques de realismo fantástico, sem dúvidas. Essa decisão estar a ser ensaiada há tempos, por sinal em maio de 2008 seguindo o ataque colombiano ao acampamento das FARC no Equador. Por sinal a atual crise está intimamente ligada aquela uma vez que é um desdobramento natural das acusações de ligação entre a Venezuela e os narco-gueriilheiros das FARC. Nessa quarta-feira o presidente da Colômbia (e de certa maneira o arquiinimigo do chavismo na América do Sul) Álvaro Uribe, por meio de seus representantes na reunião da OEA afirmou que as guerrilhas FARC e ELN estão ativas...

Empregos em RI: Esperança renovada

“A esperança não é nem realidade nem quimera. É como os caminhos da terra: na terra não havia caminhos; foram feitos pelo grande número de passantes.” Lu Hsun. In “O país natal”. O tema empregabilidade domina os e-mails que recebo de leitores e os fóruns dedicados a relações internacionais. Não por acaso deve haver pelo menos 30 textos dedicados ao tema nesse site. E sempre tento passar minha experiência e as dos meus amigos que acompanho de perto. O tema sempre volta, por que sejamos francos nos sustentar é algo importante e vital se me permitirem essa tautologia. Pois bem, no próximo dia 19 de novembro ocorrerá uma grande festa que encerrará os festejos de 15 anos de existência do Curso de graduação em Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília. E como parte dos preparativos para essa data temos empreendido um esforço para “rastrear” todos os egressos de nosso curso. Nesse esforço temos criado uma rede de contatos e o que os dados empíricos me mostram é um tes...

O complicado caminho até a Casa Branca

O processo eleitoral americano é longo e complexo, sua principal característica é a existência do Colégio Eleitoral, que atribui aos candidatos uma quantidade de votos, que equivale ao número de senadores ou deputados (lá chamados de representantes) que cada estado tem direito no Congresso dos EUA. Esse sistema indireto de votação é uma fórmula constitucional enraizada no processo histórico da formação dos Estados Unidos, que buscava em um forte federalismo, criar mecanismos que pudessem minorar ou eliminar a possiblidade de um governo tirânico. Esse arranjo federalista se manifesta fortemente, também, na forma como a Constituição Americana é emendada, sendo necessário a ratificação de uma emenda aprovada no congresso pelos legislativos estaduais. São 538 votos totais no Colégio Eleitoral, a Califórnia tem o maior número de votos, com 55 e o Distrito de Columbia (equivalente ao nosso Distrito Federal) e outros 7 estados com 3 votos têm a menor quantidade, o censo populacional é usa...