Pular para o conteúdo principal

Uma banana pros racistas #somostodosmacacos

dani alves Essa semana foi recheada de atos racistas vindos do mundo do esporte, todos a essa altura já viram a inusitada reação do lateral do Barcelona, Daniel Alves, que descascou e comeu a banana atirada por um torcedor da equipe adversária. Atos racistas persistentes já geraram punições a clubes de futebol e campanhas de conscientização da UEFA e da FIFA, mas persistem.

As Torcidas Organizadas são fenômeno que acompanham o futebol ao redor do mundo e que podem ser organismos de congregação de torcedores para elaborar mosaicos, cantos e outras formas de demonstração de carinho ao clube, como podem ser usadas como face pública de grupos radicais, criminosos e toda sorte de mistura entre eles, é particularmente conhecida a existência de torcidas ultra-nacionalistas e claramente racistas tão desavergonhadamente racistas que são capazes de fazer a saudação nazista coletivamente e se sentirem muito bem e realizados com isso. (Sobre como esse fenômeno das Torcidas Organizadas, escrevi um texto que vale a pena ser lido, aqui)

É natural que as torcidas adversárias ofendam e pressionem adversários, não é bonito, mas é natural, que busquem desconcentrar os adversários e induzirem ao erro, mas o racismo persistente, por causa da natureza nefastas dos grupos organizados não obedece a essa lógica do xingar por xingar.

A atual campanha e revolta não resolverão o problema, não consigo imaginar um racista deixando de ser racista por causa de uma hashtag, mas a resposta altiva é uma importante demonstração de que a auto-estima em bons patamares não se rende as ofensas, o que tira o poder simbólico dos racistas e a relevância e prestigio (na mentalidade deles) que esses atos conferiam a eles. Ou como bem colocou o próprio Daniel Alves: “Há 11 anos convivo com a mesma coisa na Espanha. Temos que rir desses retardados”.

A natureza do racismo, que é ideologia acima de tudo, foi bem sintetizada pela filosofa e escritora Ayn Rand:

Racism is the lowest, most crudely primitive form of collectivism.  It is the notion of ascribing moral, social or political significance to a man’s genetic lineage—the notion that a man’s intellectual and characterological traits are produced and transmitted by his internal body chemistry.  Which means, in practice, that a man is to be judged, not by his own character and actions, but by the characters and actions of a collective of ancestors.

Racism claims that the content of a man’s mind (not his cognitive apparatus, but its content) is inherited; that a man’s convictions, values and character are determined before he is born, by physical forces beyond his control.  This is the caveman’s version of the doctrine of innate ideas—or of inherited knowledge—which has been thoroughly refuted by philosophy and science.  Racism is a doctrine of, by and for brutes.  It is a barnyard or stock-farm version of collectivism, appropriate to a mentality that differentiates between various breeds of animals, but not between animals and men.

Like every form of determinism, racism invalidates the specific attribute which distinguishes man from all other living species: his rational faculty.  Racism negates two aspects of man’s life: reason and choice, or mind and morality, replacing them with chemical predestination.

Ayn Rand in The Objectivist Newsletter 2, no. 9 (New York, NY: Ayn Rand and Nathaniel Branden, September 1963), 33–36

Numa tradução livre:

Racismo é a mais baixa e crua forma de coletivismo. É a noção de atribuir significado moral, social ou político a herança genética de um homem – é a noção de que as qualidades intelectuais ou de caráter de um homem são definidas e transmitidas pela química interna de seu corpo. O que significa, na prática, que um homem não deve ser julgado pelo seu próprio caráter e ações, mas pelo caráter e ações de seus ancestrais.

Racismo afirma que o conteúdo da mente humana (não o seu aparato cognitivo, mas seu conteúdo) é hereditário; que as convicções de um homem seus valores e caráter são determinados antes de seu nascimento, por forças físicas além de seu controle. Esta é a versão homem das cavernas da doutrina das idéias inatas – ou do conhecimento hereditário – que foram extensivamente refutadas pela ciência e filosofia. Racismo é a doutrina dos, para e pelos brutos. É a versão animalesca do coletivismo apropriada para os que vêem apenas as diferenças entre os vários tipos de animais e não as entre homens e animais.

Como toda forma de determinismo, o racismo invalida os atributos específicos que distinguem os homens de todas as outras espécies: sua racionalidade. O racismo nega dois importantes aspectos da vida de um homem: Razão e escolha ou mente e moralidade, substituindo-os por predestinação química.

Fica a lição de Rand e sua advertência implícita não são os “europeus”, “espanhóis”, “brasileiros” que são coletivamente racistas. E sim indivíduos e ideologias seguidas por eles que são. Esse jogo de coletivizar culpas e características é justamente a mentalidade dos racistas. E como colocou com brilhantismo a equipe que gerencia a carreira do astro brasileiro Neymar: #somostodosmacacos, ou seja, somos todos indivíduos.

Comentários

Bárbara Duarte disse…
Achei interessante sua análise, principalmente quando você ressalta que existe uma diferensa entre ofensas que servem de válvula de escape e outras que mostram um problema mais profundo.
Só não concordo em usar uma citação da Ayn Rand fora de contexto. Quando ela se referia ao racismo nessa fala, seria realmente pensando no caso da relação problemática entre negros e brancos, fruto principalmente da colonização e da exproração do trabalho escravo por séculos? Acho que o que seria mais compatível com o ponto de vista dela seria uma preocupação em pessoas como ela própria, imigrantes do leste europeu que querem se tornar estadunidenses e esquecer seu passado.

Postagens mais visitadas deste blog

Colômbia – Venezuela: Uma crise previsível

A mais nova crise política da América do Sul está em curso Hugo Chávez o presidente da República Bolivariana da Venezuela determinou o rompimento das relações diplomáticas entre sua nação e a vizinha Colômbia. O fez em discurso transmitido ao vivo pela rede Tele Sur. Ao lado do treinador e ex-jogador argentino Diego Maradona, que ficou ali parado servindo de decoração enquanto Chávez dava a grave noticia uma cena com toques de realismo fantástico, sem dúvidas. Essa decisão estar a ser ensaiada há tempos, por sinal em maio de 2008 seguindo o ataque colombiano ao acampamento das FARC no Equador. Por sinal a atual crise está intimamente ligada aquela uma vez que é um desdobramento natural das acusações de ligação entre a Venezuela e os narco-gueriilheiros das FARC. Nessa quarta-feira o presidente da Colômbia (e de certa maneira o arquiinimigo do chavismo na América do Sul) Álvaro Uribe, por meio de seus representantes na reunião da OEA afirmou que as guerrilhas FARC e ELN estão ativas...

Bye, bye! O Brexit visto por Francisco Seixas da Costa

Francisco Seixas da Costa é diplomata português, de carreira, hoje aposentado ou reformado como dizem em Portugal, com grande experiência sobre os intricados meandros da diplomacia européia, seu estilo de escrita (e não me canso de escrever sobre isso aqui) torna suas análises ainda mais saborosas. Abaixo o autor tece algumas impressões sobre a saída do Reino Unido da União Européia. Concordo com as razões que o autor identifica como raiz da saída britânica longe de embarcar na leitura dominante sua serenidade é alentadora nesses dias de alarmismos e exagero. O original pode ser lido aqui , transcrito com autorização do autor tal qual o original. Bye, bye! Por Francisco Seixas da Costa O Brexit passou. Não vale a pena chorar sobre leite derramado, mas é importante perceber o que ocorreu, porque as razões que motivaram a escolha democrática britânica, sendo próprias e específicas, ligam-se a um "malaise" que se estende muito para além da ilha. E se esse mal-estar ...

Fim da História ou vinte anos de crise? Angústias analíticas em um mundo pandêmico

O exercício da pesquisa acadêmica me ensinou que fazer ciência é conversar com a literatura, e que dessa conversa pode resultar tanto o avanço incremental no entendimento de um aspecto negligenciado pela teoria quanto o abandono de uma trilha teórica quando a realidade não dá suporte empírico as conjecturas, ainda que tenham lógica interna consistente. Sobretudo, a pesquisa é ler, não há alternativas, seja para entender o conceito histórico, ou para determinar as variáveis do seu experimento, pesquisar é ler, é interagir com o que foi lido, é como eu já disse: conversar com a literatura. Hoje, proponho um diálogo, ou pelo menos um início de conversa, que para muitos pode ser inusitado. Edward Carr foi pesquisador e acadêmico no começo do século XX, seu livro Vinte Anos de Crise nos mostra uma leitura muito refinada da realidade internacional que culminou na Segunda Guerra Mundial, editado pela primeira vez, em 1939. É uma mostra que é possível sim fazer boas leituras da história e da...