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Uma profecia fácil

cubanarefugiada Hoje a grande imprensa reverbera a primeira deserção do programa Mais Médicos, a Dra. Ramona Rodriguez. Era questão de tempo que houvesse uma deserção e um pedido de asilo, quase uma profecia auto-realizável, tanto é assim que os contratos dos médicos cubanos contêm clausulas que não permitem o pedido de asilo e nesses casos a deportação seria automática para a ilha prisão caribenha.

Esse contrato empurrou Ramona a tomar a única atitude racional que ela poderia ter que é buscar apoio político – e, também segurança na repercussão midiática – na oposição ao governo petista. E nesse particular o DEM agiu como se espera de um opositor quando tem a chance de ter a superioridade moral.

A médica cubana está asilada na sala da liderança do DEM, portanto, protegida da Polícia Federal que segundo consta quer apreendê-la o mais rápido possível, como no caso dos boxeadores durante os Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro.

Os motivos para o pedido de asilo são explicitados nessa reportagem da Folha de São Paulo:

Clínica-geral, ela chegou ao país em outubro e atuava em Pacajá, no Pará. Ela diz que deixou a cidade no sábado e seguiu para Brasília após descobrir que o valor de R$ 10 mil pago pelo governo brasileiro a outros médicos estrangeiros era muito superior ao que ela recebia pelos serviços prestados.

A cubana alega ainda ter sido enganada sobre a possibilidade de trazer seus familiares ao país.

Ramona foi apresentada nesta terça no plenário da Câmara por líderes do DEM. Em entrevista, ela contou que recebia por mês US$ 400 para viver no Brasil e outros US$ 600 seriam depositados em uma conta em Cuba, que só poderiam ser movimentados no retorno para a ilha.

Esse brutal desconto que o governo de cuba faz sobre os salários dos médicos aqui enviados motivou as comparações com o trabalho análogo à escravidão, e de algum modo os militantes do partido do governo conseguiram transformar a oposição a condição de escravidão dos médicos cubanos em racismo, olhando só o discurso, foi até genial conseguir fazer “colar” essa contradição.

Essa primeira deserção confirma o que já havia escrito sobre o Mais Médicos: “Tenho muita simpatia pelos médicos cubanos que aqui chegam, não por causa do discurso que vêm pra nos salvar, mas sim pelo fato de estarem dispostos a sacrificar tanto para dar uma vida melhor a seus familiares, uma prova cabal que o paraíso socialista não é tão paradisíaco”.

E a tal “Sociedade Mercantil Cubana Comercializadora de Serviços Cubanos” merece uma análise mais de perto, talvez de alguém que conheça os meandros da máquina da OPAS. E não estou otimista, acho que cedo o tarde o pedido de asilo será negado, não se estenderá a ela a mesma simpatia que coube ao Cesare Battisti.

Essa senhora não sabe o que lhe aguarda no Brasil, em breve, a máquina petista e a esquerdista em geral começará o festival de ofensas, calúnias e todo tipo de expediente que negue a realidade da condição aviltante que ela se encontra no Brasil e fato que o Mais Médicos se configura como um instrumento de financiamento brasileiro a ditadura homicida de Cuba. As flores da chegada, tenho a impressão, serão uma memória confusa e até certo ponto irônica.

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