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11 de setembro: Algumas questões pessoais

Será inevitável todo mundo envolvido ou não com as relações internacionais fará algum tipo de reflexão sobre os 10 anos dos ataques de 11 de setembro de 2001. Eu havia planejado uma série de artigos, mas francamente a saturação na mídia do tema impedirá que eu faça qualquer coisa que acrescente algo novo, assim tratarei do tema em primeira pessoa nesse texto, isto é, tentarei elaborar algumas questões que me assombram sobre o tema. E os estimulo a fazer o mesmo.

Em setembro de 2001, eu tinha 20 anos era graduando em relações internacionais na Universidade Católica de Brasília e ao contrário da maioria dos brasileiros eu já havia ouvido falar de Osama Bin Laden e da Al Qaeda e já sabia que os conflitos chamados de baixa intensidade era o que o horizonte guardava, estava claro já naqueles dias pré-guerra ao terror que a grande ameaça a segurança dos Estados eram esses grupos não-estatais já estava desenhada a guerra de IV Geração. É claro que o maior perigo que minha pouca acuidade analítica da época me permitia ver era o perigo do crime transnacional, em especial, das facções pesadamente armadas do tráfico de drogas, na época eu ainda não percebia como as “maras” (gangs típicas dos EUA e América Central) e pensava apenas nas FARC.

Aquela manhã mudou tudo, aquela manhã mostrou que era um erro não pensar no terrorismo como uma ameaça a segurança nacional, até então muitos pensava em terrorismo apenas como uma questão de segurança pública, claro, não falo dos especialistas em segurança, nem de militares, mas falo do publico em geral e de muitos políticos.

Quem assistiu aquelas imagens não vai esquecer jamais, é até lugar comum dizer isso, mas é verdadeiro. Já vivíamos a era da internet e me lembro de correr para os sites de noticias enquanto assistia a sôfrega – e com motivos – cobertura da CNN, alternando com a Globo News.

Mais que reflexões (quase wishful thinking, em alguns casos) sobre o declínio do poderio dos EUA eu me pergunto até hoje: “O que eu faria?”.

O que eu faria se aqueles ataques tivessem sido em meu país? Em minha cidade? O que eu faria se entre os mortos estivessem meus pais, meus amigos, minha esposa?

Teria eu tido a coragem de me alistar? Eu gosto de pensar que sim, mas teria tido mesmo?

Ficaria eu cheio de pesar pelos mortos? Ou de ódio pelos responsáveis?

Perderia minha fé em Deus diante da brutalidade do ataque? Ou ela se reforçaria diante dos pequenos milagres e da solidariedade?

E querem saber a que mais me assombra e a que mais tenho medo da resposta: Ficaria ou não com preconceito contra muçulmanos?

Há questões maiores sobre ordem internacional e sobre o próprio conceito de guerra ao terror. Há questões sobre liberdade civil e vigilância. Há questões pra todo gosto dentro do universo das relações internacionais, mas as que eu fiz acima que mais tiram meu sono e ao mesmo tempo as menos importantes por se construírem sobre cenários hipotéticos que não se realizarão. Ainda assim.

Comentários

Interessante como as visões variam sobre o mesmo tema. Vc viu a situação toda se desenrolar quando já estava na graduação, tinha um "background" de conhecimento específico sobre o mundo, que foi bastante "sacodido" por esse evento; os mais novos (como eu) cresceram vendo o mundo da maneira como está agora, após o 11/09, e não deixo de pensar como esse tipo de variação enriquece as análises com as diferentes perspectivas que essas formações podem gerar.
Mário Machado disse…
Obrigado pelas palavras Álvaro. Creio que as múltiplas vozes são essências na análise.

PS: Revisarei esse texto em breve a insônia me impede de ver como há pequenos e irritantes erros.

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