O primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu discursou hoje em sessão conjunta do Congresso dos Estados Unidos. O discurso ocorre após tensas conversas na Casa Branca nos últimos dias. É sabido que as relações entre a administração Obama e Israel são tensas, por sinal a própria escolha de John Biden como vice na chapa de Obama tinha essa questão em mente. Essa tensão é claro não significa um grande abalo nas relações bilaterais, como ficou claro no veto dos EUA a uma resolução que repreendia Israel.
Hesito muito em abordar a questão Oriente Médio nesse blog por conta da polarização e radicalidade que há em torno da questão, tocar no assunto é arriscar ver os comentários do blog dominando por radicais mais palestinos que os palestinos e mais israelenses que israelenses, contudo é impossível tratar de Relações Internacionais sem tratar num dos maiores hot topics que existem.
Certa vez aqui mesmo nessa página chamei o Oriente Médio de lar dos pacíficos, isso por que todos os líderes políticos da região falam que buscam e trabalham pela paz, as palavras deles são lindas e tudo é bastante verossímil. Mas, ai vem a impiedosa realidade é desmonta a bondade e a pureza de intenções desses líderes. E atenção aqui não falo só de líderes de Israel, mas também dos líderes palestinos e os mais cínicos de todos os outros líderes árabes e persas da região.
Falo dos líderes árabes por que eles usam a questão palestina, discursam e falam em nome da solidariedade com um povo sofrido e injustiçado ao mesmo tempo em que oprimem os refugiados palestinos, deliberadamente negam cidadania e oportunidades para esses refugiados. Existem em lugares como Jordânia (e outros) listas de profissões proibidas para os palestinos.
A situação nos territórios palestinos não é melhor. Todo mundo sabe que as condições de vida são duras há pouco emprego, pouca oportunidade, uma cultura de violência e vitimismo e a opressão de Israel e dos grupos palestinos. Não é a toa que há tanta revolta, tanto ódio nesses lugares canalizado contra Israel, mas como a “guerra civil” entre Hamas e Fatah nos ensina vez ou outra o inimigo é mais “íntimo”. Aliás, não são raros os assassinatos de palestinos por palestinos por diferenças políticas e às vezes por advogar a paz.
É claro que Israel vive sob pressão dos ataques terroristas e sob uma tensão inimaginável – que aumentou mais ainda com a perda de Mubarak no Egito – e tem que lidar com inimigos comprometidos em sua total extinção. E com toda essa pressão acaba sempre reagindo de maneira forte, firme e brutal. O que alimenta a máquina de recrutamento e financiamento dos grupos terroristas. Afinal, não existe extremismo sem militantes dispostos a executar as missões e sem dinheiro dos simpatizantes da causa.
Esse pequeno prelúdio situacional dá uma amostra das dificuldades inerentes a negociação entre Israel e Palestinos que podemos resumir como uma negociação que nenhuma das partes quer (nesse momento pelo menos) ceder em nada. E isso meus caros faz com que a negociação seja impossível.
O discurso foi muito bem lido por um carismático e habilidoso Netanyahu que falou em um inglês perfeito e com pouco sotaque e soube lidar bem com uma interrupção feita ao dizer que em Teerã ou Trípoli teria sido impossível interrompe-lo.
O conteúdo não apresentou grandes novidades ainda que tenha tido boas frases de efeito como quando fala sobre a ligação judaica com a terra de Israel “In Judea and Samaria, the Jewish people are not foreign occupiers. We are not the British in India” [Na Judeia e Samaria, os judeus não são forces de ocupação. Não somos os britânicos na Índia (tradução livre)] ou quando falou do estado de tensão que vive alguns de seus compatriotas “Imagine that right now we all had less than 60 seconds to find shelter from an incoming rocket. Would you live that way? Would anyone live that way? Well, we aren’t going to live that way either” [Imagine que agora você tem menos de 60 segundos para encontrar abrigo contra foguetes. Você consegue viver assim? Alguém quer viver assim? Bom, nós não iremos viver desse jeito também. (tradução liver)].
Netanyahu deixou claro que: 1) as fronteiras de Israel não serão as de 1967, 2) Jerusalém será a capital do Estado de Israel. 3) Os refugiados palestinos não voltarão para Israel e sim para um Estado Palestino. 4) Não negocia com o Hamas.
O prognóstico para os próximos meses é que o processo de paz – pelo menos o formal por que há a chamada ‘Back Channel Diplomacy’ pode continuar ocorrendo (para mais ler aqui) – continue travado ou “morto” nas palavras de Blake Hounshell (no blog Passaport da Foreing Policy).
Abaixo a íntegra do discurso em vídeo a transcrição pode ser lida aqui.
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