Muitos analistas e observadores de relações internacionais são bastante otimistas no que diz respeito a chamada Revolução Árabe ou Revolução de Jasmim que rapidamente se espalhou pelo Oriente Médio do Golfo Pérsico a Tunísia, por sinal nesse último é que teve inicio a série de protestos.
Para esse analistas são revoluções democráticas instigadas pelas redes sociais. Eu como alguns outros permaneço cético quanto ao caminho que as revoltas tomarão, claro que gostaria que esses países se tornassem democracias funcionais e que a Teoria da Paz Democrática se mostrasse verdadeira frente ao teste da experiência do mundo real, contudo as coisas ainda me parecem muito incertas pra afirmar que esse é o caminho que será seguido. E creio que tudo dependerá de que grupo assumirá o controle do processo político nos países e se haverá episódios que conduzam para uma agenda mais voltada para segurança e ordem do que para construção de uma democracia. Nesse sentido, por exemplo, é perigoso que se tenham episódios de violência sectária e de atos contra minorias religiosas no Egito. Isso pode reforçar o argumento que um papel forte do Exército na vida política é necessário.
O momentum da onda de revoltas parece ter mudado dos manifestantes para os autocratas que empregando meios de repressão duros e brutais estão conseguindo manter o poder ainda que precariamente como no caso do coronel Kadahfi.
E nesse sentido é pouco auspicioso ver a intervenção das forças multinacionais (Peninsula Shield Force) do Conselho de Cooperação do Golfo no Bahrein, pois mostra que os países do Golfo estão prontos para usarem força pra deter qualquer demanda por mudança política. Essa postura radicaliza o processo e não permite que as demandas sejam tratadas politicamente sem grave perturbação da ordem e sem perdas de vidas. Esse gesto mostra, também, que a queda desses regimes não será relativamente (com ênfase no relativamente) fácil e rápida como foi a queda de Mubarak.
Não bastasse isso há o jogo geopolítico que coloco o Golfo nos planos de potências não-árabes como os EUA (que não custa lembrar possui a sede da sua IV Frota no Bahrein) e Irã. O Irã tem se movimento ambiguamente (como era de se esperar) durante as revoltas apoiando e saudando as revoltas afirmando que seriam desdobramentos de sua Revolução Islâmica de 1979 postura que mudou quando seu parceiro estratégico Síria foi atingido pela onda de revoltas.
O envolvimento do Irã no Golfo tem ligações sectárias com a maioria Xiita em alguns estados, como o Bahrein o que explica movimentos como o envio de navios que visariam prestar solidariedade aos xiitas e retornaram ao Irã depois que foram dissuadidos por navios de guerra do Conselho de Cooperação do Golfo.
Outro movimento interessante é a noticia que um dos fundadores da conhecida firma de segurança (mercenários) Blakwater, agora chamada de Xe Services foi contratado pelos Emirados Árabes Unidos para supostamente treinar forças compostas por estrangeiros não-muçulmanos (para que não se solidarizem como as tropas egípcias, por exemplo) para atuar não só no controle da revolta árabe, mas também para lidar com o Irã, segundo as reportagens os mercenários seriam oriundos da Colômbia e da África do Sul majoritariamente.
A Primavera Árabe está longe de ser algo simples de ser analisado, não só por que ainda está se desenvolvendo, mas por que cada país possui um cenário diferente, talvez a igualdade seja a complexidade de cada um desses cenários. Mas, devo admitir (torcendo para estar errado) que está cada vez mais difícil de sentir o cheiro de Jasmim e que seria muito trágico assistir a esses povos retornarem a regimes ditatoriais e repressivos. Espero que o estigma das outras “primaveras” não recaia sobre o levante árabe.
Ainda que criar cenários futuros esteja nas descrições da profissão de analista de Relações Internacionais essa não é uma tarefa fácil. Como diria o mestre Yoda: “Difficult to see. Always in motion is the future.”
Comentários
Belo post e blog!
;D
Creio que qualquer princípio de revolução traz alguma mudança,por menor que seja...mas tudo é tão complicado,é tão difícil mudar aquilo que vem ocorrendo por tanto tempo...
Não será de uma hora para outra,mas...é um princípio...quem sabe,né?