Pular para o conteúdo principal

A tragédia em Realengo

A crueldade e a extensão do assassinato em massa ocorrido ontem no Rio de Janeiro continuam a nos chocar. E como sociedade estamos atônitos em busca de respostas. Julgávamos-nos acima disso, “é coisa de gringo”, “é coisa de americano”. Mas, mais uma vez a realidade nos mostrou que a crueldade não conhece fronteiras e em alguns indivíduos não conhece limites.

Nossa coletiva busca por um porquê provavelmente pode ser explicada pela psicologia ou psicologia social, mas a mim não interessa saber de onde surge essa necessidade, a mim interessa reconhecer que ela existe. E é essa busca que nos leva a opinar, a especular, a tentar entender. A resposta natural e primeira é pensar que não pode ser um individuo em pleno controle de suas funções mentais, ou seja, um louco, mas loucura é um termo amplo demais e tentamos também entender o que levou a essa ato horrendo e talvez de alguma forma poder criar sinais de alerta que em tese nos permitiriam intervir no nascedouro dessa loucura.

O suicídio do assassino (que não terá seu nome citado aqui não creio que devamos dar a esse sujeito nenhum tipo de notoriedade) nos tirou a chance de um catártico julgamento, pode-se até dizer que nos privou da vingança. Mas, uma afronta dessa não pode passar em branco e procuramos culpados seja em suas convicções religiosas, seja na Internet, nos vídeo games violentos, em algum suposto bullying, em algum suposto abuso. Contudo, começo a crer que em alguns casos é preciso aceitar a hipótese que certos indivíduos simplesmente nascem com algo muito errado e que muito pouco ou quase nada poderia ter sido feito para evitar a tragédia.

O calor do momento não é dos melhores conselheiros e a indignação nos obscurece o bom senso. Por isso considero negativo que se use essa tragédia para empurrar teses políticas seja a favor de maiores restrições a venda de armas de fogo e munição, seja a favor de menores exigências para adquirir armas e munições por parte de quem quer proteger sua casa e sua família. A meu ver nosso parlamento é profícuo em aprovar leis mal-ajambradas que contribuem para muitas das mazelas desse país, isso quando não age sob o calor do momento.

Se uma política pública tem emergir dessa tragédia que seja uma política de segurança pública que lide com a verdadeira mazela que é o contrabando de armas e o comércio ilegal de armas, por que convenhamos o comércio legal de armas possuí restrições suficientes que, por exemplo, impediriam o assassino de comprar armas legalmente por conta de sua idade inferior a 25 anos.

Sinto a necessidade de clarificar um ponto que fiz na minha postagem de ontem (aqui) quando escrevi que o Brasil seria vulnerável ao terrorismo, não quero dizer que o governo do Brasil é alvo de alguma organização terrorista, nem o povo brasileiro, mas a fragilidade de nossa segurança pública pode muito levar algum grupo extremista a atacar organizações judaicas no Brasil e mais não podemos minimizar que dentro da massa de jovens esquecidos, excluídos e com laços familiares débeis serem usados e manipulados por grupos extremistas. Para não falar de lavagem de dinheiro e outras atividades que os criminosos locais são tristemente experts.

Outra medida que se faz necessária não precisa de novas leis e regulamentos é a distribuição do efetivo policial de modo a proteger um pouco mais as escolas brasileiras. Em Brasília, onde cresci, havia (não sei se ainda existe) um batalhão da PM destinado a proteger as escolas, coibir as brigas entre alunos, ameaças a professores, tráfico de drogas e a “popular” desordem do trânsito nas portas das escolas. Esses policiais eram bem treinados e sua presença diária criava uma saudável relação com os alunos que evitou muita coisa ruim.

Claro que um policial na porta não evitaria a tragédia como essa que é ponto fora da curva, mas como essa tragédia nos mostrou a proximidade de um policial permitiu uma resposta mais rápida que salvou muitas vidas não restam dúvidas.

Mas, querem saber nada disso, nenhuma dessas linhas vai diminuir a dor das famílias afetadas, a dor absurda dos que enterraram seus filhos e nada vai conferir sentido a essa tragédia. Posso apenas reiterar meus votos sinceros de condolências e oferecer minhas orações.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Colômbia – Venezuela: Uma crise previsível

A mais nova crise política da América do Sul está em curso Hugo Chávez o presidente da República Bolivariana da Venezuela determinou o rompimento das relações diplomáticas entre sua nação e a vizinha Colômbia. O fez em discurso transmitido ao vivo pela rede Tele Sur. Ao lado do treinador e ex-jogador argentino Diego Maradona, que ficou ali parado servindo de decoração enquanto Chávez dava a grave noticia uma cena com toques de realismo fantástico, sem dúvidas. Essa decisão estar a ser ensaiada há tempos, por sinal em maio de 2008 seguindo o ataque colombiano ao acampamento das FARC no Equador. Por sinal a atual crise está intimamente ligada aquela uma vez que é um desdobramento natural das acusações de ligação entre a Venezuela e os narco-gueriilheiros das FARC. Nessa quarta-feira o presidente da Colômbia (e de certa maneira o arquiinimigo do chavismo na América do Sul) Álvaro Uribe, por meio de seus representantes na reunião da OEA afirmou que as guerrilhas FARC e ELN estão ativas...

Empregos em RI: Esperança renovada

“A esperança não é nem realidade nem quimera. É como os caminhos da terra: na terra não havia caminhos; foram feitos pelo grande número de passantes.” Lu Hsun. In “O país natal”. O tema empregabilidade domina os e-mails que recebo de leitores e os fóruns dedicados a relações internacionais. Não por acaso deve haver pelo menos 30 textos dedicados ao tema nesse site. E sempre tento passar minha experiência e as dos meus amigos que acompanho de perto. O tema sempre volta, por que sejamos francos nos sustentar é algo importante e vital se me permitirem essa tautologia. Pois bem, no próximo dia 19 de novembro ocorrerá uma grande festa que encerrará os festejos de 15 anos de existência do Curso de graduação em Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília. E como parte dos preparativos para essa data temos empreendido um esforço para “rastrear” todos os egressos de nosso curso. Nesse esforço temos criado uma rede de contatos e o que os dados empíricos me mostram é um tes...

O complicado caminho até a Casa Branca

O processo eleitoral americano é longo e complexo, sua principal característica é a existência do Colégio Eleitoral, que atribui aos candidatos uma quantidade de votos, que equivale ao número de senadores ou deputados (lá chamados de representantes) que cada estado tem direito no Congresso dos EUA. Esse sistema indireto de votação é uma fórmula constitucional enraizada no processo histórico da formação dos Estados Unidos, que buscava em um forte federalismo, criar mecanismos que pudessem minorar ou eliminar a possiblidade de um governo tirânico. Esse arranjo federalista se manifesta fortemente, também, na forma como a Constituição Americana é emendada, sendo necessário a ratificação de uma emenda aprovada no congresso pelos legislativos estaduais. São 538 votos totais no Colégio Eleitoral, a Califórnia tem o maior número de votos, com 55 e o Distrito de Columbia (equivalente ao nosso Distrito Federal) e outros 7 estados com 3 votos têm a menor quantidade, o censo populacional é usa...