Faleceu nessa quarta-feira 19 de janeiro de 2011, aos 92 anos de idade o embaixador e ex-chanceler Ramiro Guerreiro que comandou a diplomacia brasileira durante os anos do governo do general-presidente João Batista Figueiredo (1979-1985). Ramiro guerreiro foi responsável pelo difícil acordo de que permitiu a construção de Itaipu. Também foi durante os anos do governo Sarney negociador da dívida externa. Nesses tempos em que se exaltam chanceleres que poucos resultados reais apresentaram é bom lembrar-nos daqueles que ajudaram a construir a tradição de excelência do serviço exterior brasileiro.
Ainda quando eu estava na graduação estudei o processo de negociação de Itaipu e durante esse período notei como foi importante a ação do chanceler Ramiro Guerreiro ao saber preservar o essencial do interesse brasileiro na região e ceder aos interesses argentinos conseguindo assim uma aproximação que culminou na criação do MERCOSUL.
A admiração veio por que era um período particularmente difícil de ação internacional os três atores envolvidos no processo eram ditaduras militares de forte viés nacionalista que enfrentavam as agruras da falência do modelo cepalino de desenvolvimentista de substituição de importações. E ainda nesse contexto o trabalho de aproximação foi feito de tal maneira que por muitos anos da década de 1980 o Itamaraty cuidou dos interesses argentinos junto ao Reino Unido, obviamente nos anos pós-guerra das Falklands/Malvinas. Esse período também merece menção, pois necessitou talento e desenvoltura diplomática para manter a neutralidade brasileira ante o conflito e apoio brasileiro a causa argentina e para isso foi importante a posição brasileira de pregar e insistir na solução pacifica e judicial da disputa entre os dois países.
Essa admiração aumentou mais ainda ao ler em 2008 um interessante perfil desse diplomata intitulado (com muita propriedade) “Ramiro, empregado do Brasil” que foi publicado na revista dos alunos do Instituto Rio Branco (escola que forma os diplomatas brasileiros). Juca: Diplomacia e humanidades. Vol.2. 2008. Disponível para download gratuito aqui. Os parágrafos abaixo foram escritos com base nas informações desse perfil.
O embaixador Ramiro Guerreiro ingressou no serviço exterior brasileiro em 1945 aos 25 anos depois de trabalhar por breve período como comissário de polícia profissão que permitiu que ele pagasse seus estudos em línguas estrangeiras fundamentais para realizar sua ambição profissional de se tornar diplomata.
Ramiro Guerreiro foi aprovado em primeiro lugar no mesmo concurso em que entraram no Itamaraty Antônio Houaiss e João Cabral de Mello Neto. O apelido “empregado do Itamaraty” lhe foi dado por um de seus primeiros chefes na carreira diplomática e ele carregou com orgulho esse apelido por toda sua carreira. Em suas palavras:
“Achei que a expressão era enaltecedora: em primeiro lugar porque nosso emprego era de dedicação exclusiva e não podíamos mesmo servir a outro patrão; em segundo lugar porque a palavra ‘empregado’, geralmente usada para denominar domésticos, em minha opinião, mesmo nesse caso é honrosa para esses trabalhadores de que tanto dependemos; em terceiro lugar, porque sublinha o aspecto de disciplina que é essencial à nossa carreira, embora ela seja civil. Não há capacidade de mando se antes não se obedeceu”.
O embaixador deixou esposa, filhos, netos e bisnetos. E para eles vão meus pensamentos e desejo que possam encontrar conforto no fato de que seu ente querido teve uma vida bem vivida e contribuiu um tanto para a paz e harmonia no cone sul da América. Foi um homem que alcançou resultados significantes e que a meu ver não foi honrado a altura, nem na imprensa, nem nas notas oficiais do Itamaraty e do Palácio do Planalto.
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Nota oficial do Palácio do Planalto, aqui.
Nota oficial do Ministério das Relações Exteriores, aqui.
Comentários
clikei no anuncio espero que retibua
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A nata da nossa literatura passou por lá.
E dentre nomes tão nobres eu sinceramente não conhecia o de Ramiro Saraiva.
Belo texto.
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