Ontem o presidente dos EUA Barack H. Obama proferiu o famoso discurso do “Estado da União”, esse discurso anual é feito pelo presidente americano em sessão conjunta do congresso desse país (aliás, estranhamente toda a cadeia de comando dos EUA se reúne em só lugar, imagino que isso gere alguma tensão nos responsáveis pela segurança). Esse discurso normalmente marca o que a administração planeja executar durante o ano e faz um leve balanço do ano que passou.
O contexto em que o discurso se deu foi totalmente diferente do que Obama havia enfrentado até agora, isto é, foi o primeiro desde o fim da super- maioria no senado e da maioria de seu partido na câmara. Desenhava-se um cenário difícil para Obama, isso, contudo não se confirmou por que os lamentáveis e tresloucados atos de Jared Loughne em Tucson, Arizona mudaram tudo. A tentativa de assassinato da deputada Gabrielle Giffords (que a título de curiosidade é uma democrata “conservadora”, isto é, mais ao centro que o resto do partido e é casada com um astronauta) suscitou solidariedade entre os membros do congresso daquele país e uma baixa na escala retórica dos políticos (de ambos partidos é preciso deixar claro).
O discurso começou com as devidas reverências aos mortos no atentado de Tucson e com votos do mandatário de pronto restabelecimento da deputada, num gesto bonito do cerimonial do evento a cadeira da deputada permaneceu vazia.
Goste-se ou não de suas políticas não se pode negar os dotes de orador de Obama, que fala com desenvoltura, fluência e transmite confiança (ainda que muitos mesmo do seu lado o achem vacilante).
O tom geral do discurso foi de exaltação das capacidades e do suposto excepcionalismo americano. Obama e seus colaboradores sabem bem que são os problemas econômicos o tema número da agenda dos cidadãos americanos e nesse sentido Obama apresentou uma visão de futuro chamando o atual momento de um momento Sputnik em referência ao desafio feito a capacidade de inovação americana quando os soviéticos chegaram primeiro ao espaço, mas ressaltando que foram eles que chegaram primeiro a lua.
E claro para isso é preciso investir em inovação o que só é possível por meio da educação e listou os enormes desafios que a superpotência restante tem a frente, mas reconfortou quem o assistia a dizer “somos o país do Google e do Facebook”. Ou seja, ligou a grandeza da economia daquele país à capacidade de seus empreendedores.
Para alegria dos ecologistas Obama apresentou a meta de que se tenha nos EUA um milhão de carros elétricos em circulação até 2015 e afirmou que vai incentivar as pesquisas em energias alternativas (sem excluir nenhuma inclusive nuclear), prometeu cortar subsídios ao petróleo. E estabeleceu a ousada meta de ter 80% de energia renovável na matriz energética daquele país.
Ele procurou deliberadamente agradar aos republicanos, agora maioria na câmara e ao movimento “tea party”, que tem como mote principal a defesa de um estado menor.
No front externo Obama expressou mais uma vez seu apoio ao aliado Coréia do Sul, celebrou a aprovação no CSNU das sanções ao Irã, expressou sua simpatia pelo povo tunisiano e todos os que buscaram a liberdade (em estilo retórico bem próprio da linguagem política dos EUA). Anunciou que iniciará esse ano a retirada de tropas do Afeganistão e comemorou o apesar de tudo o estado atual de coisas no Iraque, em que segundo ele se caminha para que o governo daquele país tenha autonomia.
Na esfera comercial ele ressaltou que é hora de aumentar as exportações americanas e para isso buscará construir tratados bilaterais de livre-comércio e citou o acordo recém-construído com a Coréia do Sul, foi interessante notar que ele se mostrou atento aos mercados emergentes ao citar seus acordos com China e Índia, melhoria de relações com a Rússia e anunciou a visita que fará ao Brasil, em março.
Como sempre o silêncio diz muito e Obama não mencionou o esforço moribundo de negociação da rodada Doha, além disse ficou claro que os EUA não parecem abertos a compromissos adicionais na esfera multilateral, preferido arranjos bilateriais que possam gerar empregos nos EUA.
A meu ver, o discursou mostrou que os EUA planejam atuar contra a sua decadência relativa no sistema internacional e que buscará aumentar a participação de mercado das empresas americanas nos principais mercados do mundo.
O discurso é uma carta de intenções feito de maneira aberta, isto é, não é apresentado planos concretos, portanto será interessante como serão construídas as ações dos Estados Unidos, quer queiram, quer não esse é ainda o principal ator do sistema internacional e convém manter a atenção a suas movimentações.
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