Muitos são os teóricos das relações internacionais e da ciência política que asseveram a existência da divisão entre política interna e externa. Esse instrumento teórico visa entre outras coisas demarcar áreas de pesquisa acadêmica e dar um corte nos assuntos para que possam ser factíveis os estudos. Contudo, não se pode ter como absoluta essa divisão como mostra uma possível (verossímil e provável) intervenção das eleições na política externa.
Há entre os analistas de relações internacionais aqueles que chegam ao ponto de vibrar com qualquer ato do governo brasileiro que seja visto como desafiador ou contrário aos interesses de outras potências (principalmente as que chamam de norte). Classificam esses atos como “Política Externa Independente”, numa manobra para evocar a política de San Tiago Dantas e Afonso Arinos que recebe muitos elogios na academia. É claro que a maioria desses analistas o faz por que vêem nesses atos uma contestação a políticas imperiais e imposições externas.
Essa linguagem inflamada e por vezes vazia é proposital e desenhada para galvanizar apoio em diversas esferas ideologicamente alinhadas a eles e aos nacionalistas menos ponderados. Como bem sabe os meus leitores habituais vejo esses atos de “rebeldia” como uma política adolescente.
Uma política externa independente deve ter somente um norte em sua fomentação e implementação: o interesse nacional. Portanto, não se diverge ou se concorda com bases em ideologias e noções de “veias abertas”. E para que essa política seja bem elaborada é preciso não incorrer no erro cada vez mais comum que é o superdimensionamento do poder de um Estado (é óbvio que o contrário também é nocivo).
Esse pequeno circunlóquio inicial é uma síntese do pensamento que apresento nesse blog sobre análise de relações internacionais que tem um ar tautológico para o referido freqüente leitor. Mas, objetiva reiterar que não é a rebeldia que constrói a independência e sim ter o interesse nacional como norte e que fique claro dentro do interesse nacional estão os valores do Brasil – não só que são positivados na Constituição Federal. É claro que definir interesse nacional é tarefa complexa, por isso um ferrenho debate público se faz mister para que se chegue a definições que sejam as mais amplas e dessa maneira são o mínimo consenso possível. Isso é natural e faz parte de um sistema democrático.
O site de noticias católico ACI Prensa noticiou citando a agência de notícias ASNA o seguinte episódio:
Lula amenaza revisar acuerdo con el Vaticano por caso Rousseff
La agencia italiana ANSA informó que el secretario personal del Presidente Luiz Lula da Silva, Gilberto Carvalho, dijo a la cúpula de la Iglesia que si continúan loscuestionamientos contra la candidata Dilma Rousseff –debido a su posturafavorable al aborto– puede ser revisado el acuerdo firmado con el Vaticano.
ANSA, que recoge una noticia de Valor Económico, señaló que Carvalho se reunió con miembros dela Conferencia Nacional de Obispos de Brasil y les comunicó que el gobierno puede volver a discutir el acuerdo que contempla el apoyo a escuelas católicas y otros beneficios.
Lula revisaría el acuerdo firmado por él mismo y el Papa Benedicto XVI en 2007 en Brasil, y ratificado en 2009 en el Vaticano, tras lo cual fue aprobado por el Congreso, donde fue cuestionado por congresistas evangélicos.
Não há posicionamento público do Itamaraty sobre isso (ou não fui capaz de encontrar), mas dá uma mostra de como a política interna, em especial a eleitoral pode interferir nas relações exteriores. O referido acordo foi analisado aqui há um ano e 3 dias em um texto intitulado “Jogado a seus pés eu sou mesmo exagerado. Ou Acordo Brasil – Santa Sé”.
Pode se tratar de apenas um boato ou um mal entendido, contudo dado o histórico dos envolvidos e a virulência da campanha a noticia é no mínimo verossímil, senão verdadeira. E caso assim seja é mais um absurdo exemplo de personalismo, casuísmo e personalismo na política externa.
Comentários