Há anos que todos os analistas internacionais sabem que situação de fungibilidade excessiva de poder naquele país, a falta de unidade e identidade nacional, culminariam em uma situação descrita na literatura das relações internacionais como “Estado Falido”, em grosso modo, um Estado sem condições de exercer poder, autoridade e promover a ordem em território que seria sua jurisdição.
Um daqueles meus insuportáveis e arrogantes conselhos. Quando analisarem a África, cuidado com generalizações e com clichês, por que é um continente verdadeiramente vasto tanto no panorama humano, quanto político e econômico. É verdade, que há locais e acontecimentos que cabem certinhos no clichê
A situação de fratura social e de divisão quase feudal de poder dentro da Somália é flagrante no mundo, tanto é que desde a década de 1990 há forças de manutenção e de imposição da paz, nesse território, todos conhecem a muito propalada história do “falcão negro em perigo”, que virou filme de relativo sucesso, creio que ganhou um Oscar© de melhor engenharia de som, ou algo desse tipo.
A questão pode ser dissecada e suas raízes encontradas na expansão neo-imperialista européia do período do concerto europeu no século XIX, que criou fronteiras artificiais, sem a natural correlação entre povo, território e cultura que formam os Estados Nacionais como conhecemos. A tragédia da situação não é exclusividade da Somália, de certo modo todos os estados africanos, passaram por processos ditatoriais ou confrontos étnicos e guerras civis, ainda mais dentro do marco da Proxy wars típicas da Guerra – Fria (período histórico que sobrepõe ao processo de indenpendização da África).
Seria até uma afronta aos africanos atribuir todas as suas mazelas a fatores externos, afronta, por que os colocaria como vítimas passivas da história que navegam sem vontade própria, seriam oprimidos por definição e natureza (e pensar assim é ver o mundo por lentes ideológicas das grossas). O que quero dizer com isso? Que há na situação da África uma óbvia e inegável responsabilidade dos próprios africanos, em que grau não sei precisar.
A situação é complicada por que mistura herança colonial, ranços étnicos racistas, diferenças de concepção de Estado e país, fatores religiosos, falta de oportunidades econômicas, e apego ao poder por parte dos War Lords da região e seus seguidores. Tudo isso nutrido com ajuda internacional, vista grossa a ditaduras sangrentas, diamantes ilegais, concessões de petróleo. Ou seja, para qualquer analista nunca existe e nesse caso mais ainda, mocinhos ou bandidos, como categorias estanques há interesses contraditórios nutridos por desejos humanos mesquinhos ou não.
A luta é por poder, não importa qual seja a causa que as partes dizem defender. A luta é por tomar, permanecer ou ampliar o poder. A prolongação do conflito degradou a formação ética dos indivíduos, seja pela pobreza extrema, seja por sentimento de ordem interna de se sentir poderoso com uma AK na mão. O fato é que a inexistência de Estado e de instituições empurra a população a depender de war lords (ai inclusos milicianos ligados a AL Qaeda ou não, piratas, criminosos, ou seja, todo tipo de líder de força não convencional), como provedores de ordem, justiça e assistência social. Criando massas “legitimadoras”. Seja usando a religião a etnia ou a ideologia política (que pode ou não está ligada as duas primeiras).
Os conflitos vêm se intensificando, talvez, por que os milhões obtidos com o seqüestro de navios tenham sido convertidos em meios bélicos e logísticos, as forças de paz da ONU e da União Africana, não estão capacitadas para interferir, pelas próprias regras de engajamento que estão sujeitas e nos últimos dias um dos últimos bastiões do que se pode chamar de governo somali que é a capital Mogadíscio, de onde chegam relatos de pesados enfrentamentos.
O caos somali é meio de cultura para todo tipo de atrocidade, como também, campo fértil de recrutamento para extremistas e insurgentes de todo tipo de causa, o que agrava ainda mais o trágico panorama humano da região, deteriorado pela guerra, deturpado pelo caos, assolada pela fome e pervertido por interesses escusos de todos os tipos, tanto internos e externos.
A tragédia está desenhada, não há na região forças em condição de rapidamente intervir na situação, a OTAN, está atolada no Afeganistão. Pergunto-me será a emergente e cada vez mais influente na região China, o ator que vai debelar essa crise? Não consigo ver isso acontecer, creio ser mais provável que os países vizinhos, com alguma ajuda européia e norte-americana, possam estabilizar a região, mas estabilidade nem sempre significa vida melhor para as pessoas e superação das causas da fratura da sociedade somaliana. Uma tragédia, não há definição melhor que essa. Uma tragédia.
Um daqueles meus insuportáveis e arrogantes conselhos. Quando analisarem a África, cuidado com generalizações e com clichês, por que é um continente verdadeiramente vasto tanto no panorama humano, quanto político e econômico. É verdade, que há locais e acontecimentos que cabem certinhos no clichê
A situação de fratura social e de divisão quase feudal de poder dentro da Somália é flagrante no mundo, tanto é que desde a década de 1990 há forças de manutenção e de imposição da paz, nesse território, todos conhecem a muito propalada história do “falcão negro em perigo”, que virou filme de relativo sucesso, creio que ganhou um Oscar© de melhor engenharia de som, ou algo desse tipo.
A questão pode ser dissecada e suas raízes encontradas na expansão neo-imperialista européia do período do concerto europeu no século XIX, que criou fronteiras artificiais, sem a natural correlação entre povo, território e cultura que formam os Estados Nacionais como conhecemos. A tragédia da situação não é exclusividade da Somália, de certo modo todos os estados africanos, passaram por processos ditatoriais ou confrontos étnicos e guerras civis, ainda mais dentro do marco da Proxy wars típicas da Guerra – Fria (período histórico que sobrepõe ao processo de indenpendização da África).
Seria até uma afronta aos africanos atribuir todas as suas mazelas a fatores externos, afronta, por que os colocaria como vítimas passivas da história que navegam sem vontade própria, seriam oprimidos por definição e natureza (e pensar assim é ver o mundo por lentes ideológicas das grossas). O que quero dizer com isso? Que há na situação da África uma óbvia e inegável responsabilidade dos próprios africanos, em que grau não sei precisar.
A situação é complicada por que mistura herança colonial, ranços étnicos racistas, diferenças de concepção de Estado e país, fatores religiosos, falta de oportunidades econômicas, e apego ao poder por parte dos War Lords da região e seus seguidores. Tudo isso nutrido com ajuda internacional, vista grossa a ditaduras sangrentas, diamantes ilegais, concessões de petróleo. Ou seja, para qualquer analista nunca existe e nesse caso mais ainda, mocinhos ou bandidos, como categorias estanques há interesses contraditórios nutridos por desejos humanos mesquinhos ou não.
A luta é por poder, não importa qual seja a causa que as partes dizem defender. A luta é por tomar, permanecer ou ampliar o poder. A prolongação do conflito degradou a formação ética dos indivíduos, seja pela pobreza extrema, seja por sentimento de ordem interna de se sentir poderoso com uma AK na mão. O fato é que a inexistência de Estado e de instituições empurra a população a depender de war lords (ai inclusos milicianos ligados a AL Qaeda ou não, piratas, criminosos, ou seja, todo tipo de líder de força não convencional), como provedores de ordem, justiça e assistência social. Criando massas “legitimadoras”. Seja usando a religião a etnia ou a ideologia política (que pode ou não está ligada as duas primeiras).
Os conflitos vêm se intensificando, talvez, por que os milhões obtidos com o seqüestro de navios tenham sido convertidos em meios bélicos e logísticos, as forças de paz da ONU e da União Africana, não estão capacitadas para interferir, pelas próprias regras de engajamento que estão sujeitas e nos últimos dias um dos últimos bastiões do que se pode chamar de governo somali que é a capital Mogadíscio, de onde chegam relatos de pesados enfrentamentos.
O caos somali é meio de cultura para todo tipo de atrocidade, como também, campo fértil de recrutamento para extremistas e insurgentes de todo tipo de causa, o que agrava ainda mais o trágico panorama humano da região, deteriorado pela guerra, deturpado pelo caos, assolada pela fome e pervertido por interesses escusos de todos os tipos, tanto internos e externos.
A tragédia está desenhada, não há na região forças em condição de rapidamente intervir na situação, a OTAN, está atolada no Afeganistão. Pergunto-me será a emergente e cada vez mais influente na região China, o ator que vai debelar essa crise? Não consigo ver isso acontecer, creio ser mais provável que os países vizinhos, com alguma ajuda européia e norte-americana, possam estabilizar a região, mas estabilidade nem sempre significa vida melhor para as pessoas e superação das causas da fratura da sociedade somaliana. Uma tragédia, não há definição melhor que essa. Uma tragédia.
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