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Heal the world, human nature

Queria poder dizer a vocês que sou uma figura cerebral, acima de paixões e sentimentalismos, que tudo analisa com a frieza e o distanciamento de um cientista. Queria poder dizer que estou acima da cultura de massa, da cultura pop, que sou um fervoroso adepto da mais alta cultura, leitura de clássicos e ouvinte de operas, gostaria de poder dizer isso tudo. E vestir minha armadura de intelectual crítico e cínico a tudo que se faz no mundo. E a tudo que é divulgado pela televisão, tudo que é feito para as massas.

Não que eu tenha qualquer vergonha de ser o homem que sou, mas por que se fosse como descrevi acima não me comoveria tanto com o choro real e dolorido dos que sofrem, assim poderia pregar qualquer tipo de ideologia e utopias sem levar em conta o custo humano desse delírio. Poderia propor medidas sem me preocupar com empregos, poderia ver a guerra como a continuação da política por outros meios, e não como um exercício de morte.

Ah! Fosse eu assim, poderia julgar todos. Me sentido superior por não compartilhar das paixões tolas da massa ignóbil. E poderia ficar a repetir e lamentar a falta ação do estado, a necessidade de políticas públicas para isso e aquilo, praguejar contra musicas, estéticas e éticas que não fossem como as minhas preferências. Poderia dizer que pensa diferente de mim, é alienado, é manipulado, é inocente, que não tem consciência política e social.

Mas, sou um homem comum, que teve acesso, graças ao esforço de seus pais ao ensino, a cultura. Um homem que usa seu cérebro para tentar decifrar o quebra cabeças que é o mundo. Um homem que entende que não são palavras belas e “humanismos” que resolvem os problemas. O que resolve são as ações concretas. Sou desses tipos irremediáveis que crêem que é responsabilidade de cada um, cuidar de seu destino e dever de cada um de nós ajudar nossos semelhantes, na maneira que pudermos.

Sou daqueles tipinhos que crêem em ensinar a pescar, que crêem em liberdade individual, sobrepondo qualquer coletivismo. Também sou daqueles que não acreditam em blogs sobre vida pessoal, mas hoje to sentindo vontade de desabafar.

Não vou negar o choro copioso da jovem filha do Michael Jackson, mexeu com muita coisa guardada aqui no fundo do meu ser, que só aqui, no branco da tela no silencio do meu escritório vêem a tona. Todos nós, que já perdemos um pai, sabemos muito bem o que aquela menina estava sentindo e querendo dizer. Deus eu já tinha 24 anos quando perdi o meu e me senti desamparado, um homem feito, desamparado.

Nossa! De certa maneira ainda me sinto assim, até hoje. Pode ser piegas ler isso, mas pode ser esse desamparo que me faz sentir empatia pelos que sofrem, não dó, não pena, empatia. Não sou idealista, não sou dos que acham que outro mundo melhor é possível, sou daqueles que acham que outro mundo melhor, levará gerações e gerações, como levou para que chegássemos ao patamar atual.

E é essa empatia que faz com que tenha verdadeira ojeriza dos que usam do sofrimento alheio como meio para implementar agendas que podem até suavizar a vida dessas pessoas, mas não as libertam do ciclo, Não as libertam de depender dos sabores políticos.

Como disse o poeta: Chega de lirismo, que não seja libertação! Sou uma daquelas figuras humanas, que são cheias de contradições, sou humilde para saber disso, que não sou um daqueles que ficam chorando violações dos Direitos Humanos, sou um homem que vê o mundo com seus defeitos e aceito que ele é assim, e passo a querer melhorar o que há de bom. Sem engenharia social, sem salvador da pátria, sem silver bullet.

Estranho e meio sem propósito esse post. Admito é difícil concatenar um ponto, ser incisivo, quando na sua cabeça ecoa um doído choro de criança que sei bem como dói. Os mais cínicos dirão que só falo sobre isso por que vi na TV, por que a força do ídolo supera a racionalidade. Podem até ter razão, mas sinceramente eu não ligo. Por que o “Daddy [...] I Love you so much”, de Paris Jackson, foi igualzinho ao meu lamento mudo ao lado do Sepultura de meu Pai, amparado por amigos.

Estou em duvida se esse post será ou não publicado, por que ele quebra nosso pacto de que esse é um blog de relações internacionais. Outro dia, entretanto, li em um debate que quem se preocupa com negócios internacionais e traja seu terno e gravata, perde um pouco de sua alma e posso falar por mim, isso é um grandíssimo Bull Shit.

Em tudo que nós fazemos em que nos dedicamos, somos éticos, não é trabalhar ou não em busca de lucro que reside a virtude, a virtude existe em cada um de nós e em como nos portamos. Não são só os que vão a linha de frente e ajudar ao próximo os que têm o monopólio da virtude, como já disse quando por causa de meu trabalho, alguém lucra, e é capaz de prover sua família, prover oportunidades de emprego. Não é por que você entende que o mundo é como ele é, e que você acredita no lucro, e em ser remunerado por um trabalho que você perde sua alma. Todos nós somos indivíduos complexos, únicos e muito difíceis de compreender a fundo.

Rótulos são sempre tão inúteis. Suprimem a humanidade inerente em cada um de nós, aquela vontade de ser melhor, de encontrar a evolução, alguns o contato com o transcendente. Nossa humanidade pode não estar em evidência por usarmos de causas e ações para tornar público nosso “coração”, mas se revela quando criamos nossos filhos com amor, quando tratamos a todos com respeito, quando somos honestos em geral e intelectualmente.

E querem saber, nossas lágrimas derramadas ou não nos conectam ao resto da humanidade, também, por que se há algo que todos compartilhamos é que em algum momento de nossas vidas (em vários) todos nós sofremos, todos nós caímos, todos nós choramos. Pensando bem é até um ultraje alguém dizer que não se tem alma, por que se tem um trabalho no mundo dos negócios.

É misturei alhos com bugalhos nesse texto, e por isso peço desculpas aos fieis leitores desse blog por que este contraria todas as regras da escrita e da boa redação. Não é sucinto, não é claro, não aborda um assunto específico, não apresenta argumentos e contra argumentos, mas sim tem uma conclusão. Que por baixo do meu terno e gravata, tem um coração, e que nesse cérebro tão obcecado com as questões do mundo há espaço para empatia, que as lágrimas de quem perdeu um pai são as mesmas.

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