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Reflexão sobre comercio exterior brasileiro e políticas econômicas.

A sociedade brasileira encontra-se em um momento crítico para moldar o futuro da inserção nacional no mundo globalizado. Crítico, pois é chegada mais uma vez à hora de fazer uma opção para o futuro temos em aberto duas grandes passagens à perpetuação do perfil de inserção financeira e o perfil de inserção comercial exportadora. Alias momento que ganha contornos dramáticos frente à crise econômica e financeira e a perspectiva de uma recessão global.

Ambos os perfis partem da percepção de que o grande gargalo para o desenvolvimento brasileiro é ausência de investimentos. Como a identidade poupança igual a investimento é premissa básica da teoria econômica fica claro que a solução para isso é um aumento de poupança, entretanto um aumento de poupança para ser efetivo implica alterações profundas no modo de vida de um país tão profundas que são impossíveis no espaço de uma geração, a saída então é buscar poupança externa pra financiar os investimentos, tão necessários para o desenvolvimento.

O primeiro perfil corresponde aos diversos modelos que apregoam a captação de recursos financeiros por meio de vultosos empréstimos. No campo do comércio exterior esse modelo tende a ser altamente protecionista e marca-se pela alta participação de setores não dinamizados da economia.

Os investimentos em ensino tecnológico, pesquisa & desenvolvimento, são reduzidos e não há estímulos para que sejam feitos no âmbito dos negócios privados uma vez que a resguarda quanto à concorrência externa manteve os níveis tecnológicos baixos.

Esse modelo se caracteriza por depender excessivamente de liquidez externa deixando a economia em posição frágil em caso da diminuição de liquidez internacional ou mesmo aumentos na taxas de juros das economias mais desenvolvidas.

O perfil exportador possui uma abordagem que privilegia o esforço exportador e as receitas do comércio exterior como força motriz da captação de poupança externa, bem como de atração de investimentos externos diretos, o chamado “capital de risco” em detrimento dos investimentos de carteira mais voláteis, conhecidos como “Hot Money”.

Para ilustrar as diferenças práticas entre os dois modelos tomemos por base um exemplo apresentado por Marcos Troyjo. No ano de 1980, o Brasil exportou para os Estados Unidos da América – EUA, US$1 Bilhão já no ano de 1985, exportávamos US$ 7 Bi, no mesmo ano de 1980, a China exportava para os EUA “traço” como dizem os manuais estatísticos, pouco mais que zero e no ano de 1985 exportava os mesmo US$ 7 bi. A diferença fica ainda mais explícita se olharmos para os numero de 2004 onde o Brasil exportou US$17 Bi e a China US$ 210 Bi.

O que ocasionou essa brutal diferença? Muitos podem argumentar que os produtos brasileiros são alvos de restrições e barreiras comerciais. Bom e de fato sofrem essas barreiras. Dois fatores adicionais surgem para explicar por que o Brasil tem participação pífia nas exportações mundiais menos de 1%.

Um fator é de ordem cultural. Muitos empresários ainda acreditam que seja complicado demais e difícil demais competir no mercado internacional ou vêem o comércio exterior como solução para crises internas como um meio de “se livrar” de seus estoques, ou seja, falta a tão debatida cultura exportadora.

Outro fator é de ordem governamental o Brasil durante muitos anos viveu sob égide do endividamento externo como saída para armadilha da poupança e sofrendo com o aumento de seu passivo externo muitas vezes vertiginosamente devido a flutuações bruscas nas cotações internacionais de juros.

E sob essa orientação o deixou escapar a chance de se valer da poupança externa e dos investimentos diretos para tornar-se um exportador, um global trader.

Nos últimos anos um esforço exportador tem sido deflagrado no Brasil sob o lema cunhado no Governo Fernando Henrique Cardoso, de exportar ou morrer. Esse esforço culminou na quebra da barreira histórica dos US$ 100 Bilhões, resultado amplamente comemorado pelo setor exportador.

Esse resultado favorável, contudo, não resultou em um aumento especial da participação das pequenas e micro-empresas no bolo exportador, essas empresas são grandes empregadoras e sua inclusão pode permitir que os resultados econômicos obtidos com as exportações sejam sentidos por uma parcela maior da população brasileira.

Outra grande questão para o comércio internacional brasileiro é a questão de que grande parte desse comércio deriva de uma posição comprada, isto é não resultado da promoção e venda do exportador e sim da venda originada pelo interesse do comprador. Esse tipo de venda não desperta no exportador o interesse por renovar suas ferramentas gerenciais e mercadológicas para conquistar novos mercados e o deixa numa posição muito passiva quanto ao comércio exterior.

A sociedade brasileira agora deve encarar esse debate de frente, pois muitas alterações se fazem necessárias para que o Brasil seja uma plataforma exportadora, contudo a tomada consciência começou organizações de classe como a FIESP têm sido lócus de difusão da cultura exportadora.

Fica claro, entretanto, que a opção pelo perfil comercial exportador não configura um abandono da preocupação com fatores como o risco-país e fiel cumprimento dos acordos internacionais e do pagamento da dívida externa, na verdade esse modelo pressupõe um fluxo de poupança externa continuado que não exclui a captação de recursos de carteira, mas fica claro pelo números da economia mundial que depender desses recursos nos torna muito suscetíveis a crises de confiança e de humor dos grupos de investimento.

É importante agora que os empresários, as entidades de classe os governos em todos os níveis façam um esforço concentrado, aproveitando a crise como oportunidade pra demolir modelos ineficientes e buscar um aumento da pauta e dos parceiros comerciais.

Doha está e permanecerá travada, não obstante os esforços pessoais do Presidente Lula e do Chanceler Amorim, o caminho então está em driblar as barreiras protecionistas inovando para deprimir preços, pelo lado dos empresários, e diminuindo o nefasto “custo Brasil” pelo lado dos governos, é necessário que se torne mais barato o escoamento da produção principalmente do interior do país, assim permitindo que cidades pequenas e médias possam receber os benefícios do comércio exterior.

Nesse momento de crise em que o animo está em baixa e o crédito escasso vale à pena lembrar o que Schumpeter já nos ensinava, no século XIX, que para que haja crescimento econômico é necessário incrementos de produtividade, que indubitavelmente dependem de investimentos em educação, pesquisa e desenvolvimento, além como já dito da melhoria dos modais logísticos. E, claro é preciso que os empresários invistam em profissionais que sejam capazes de decodificar o cenário internacional, e assim reduzir riscos e embaraços.

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