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EUA, Alemanha, revistando um texto sobre espionagem internacional

Spyxspy A Alemanha está em crise diplomática com o EUA, por conta da prisão de um agente dos serviços de inteligência alemães que vendia segredos para os EUA. É claro, que um caso de espionagem que chega a público é complicado para os governos em questão, ainda mais, depois de todo o escândalo desencadeado por Edward Snowden.

Escrevi ano passado um texto sobre a espionagem americana ao Brasil que julgo ser apropriado ao caso atual entre Alemanha e EUA, principalmente a linha final (mas, tem que ler tudo, rs).

Espionagem internacional

“É isso aí, Dilma: num dia você é Palocci, no outro Francenildo.”

Flávio Morgenstern

Em novos desdobramentos do escândalo de vigilância massiva por parte da National Security Agency (Agência de Segurança Nacional, do EUA) – NSA foi revelado que os presidentes de Brasil e México e suas equipes de governo foram alvos de espionagem e que os agentes de inteligência estrangeiros tiveram acesso aos meios eletrônicos de comunicação dos dois governos.

A espionagem é parte integrante da vida das nações, desde muito antes do advento do Estado-Nação nos moldes Vestfalianos que hoje conhecemos, de fato o grande estrategista chinês Sun Tzu em sua celebrada obra a “A arte da guerra” dedica um capitulo inteiro sobre o uso desse recurso que ele classifica como “um dos tesouros do soberano” e vai além em seu elogio a prática da espionagem: “É engenhoso! Verdadeiramente engenhoso! Não há lugar que a espionagem não tenha sido aplicada”.

Muito embora, a prática da espionagem seja realidade do sistema internacional ser pego no ato, ainda mais de uma nação aliada é extremamente embaraçoso, por que explicita ao público em geral a realidade de que Estados são desconfiados quanto aos planos e motivações dos aliados, outra consequência é minar as estratégias de soft power ou smart power ao alienar as correntes de opinião pública favoráveis ao estado que espiona.

Ao se tornar público e notório que o Brasil foi espionado, retira-se do governo muito de sua margem de manobra, posto que uma política simpática aos EUA (mesmo que pautada em Interesse Nacional), ou de cooperação passará a ser vista como submissão, ou ainda como resultado de algum tipo de segredo escuso obtido pela vigilância. E no caso do partido que atualmente ocupa o Planalto, qualquer reação que não seja pública e percebida como dura corre o risco de alienar o apoio da base do partido, o que a pouco mais de um ano das eleições seria péssima notícia para presidente Dilma.

Nenhum país vai a guerra com a maior máquina militar jamais vista pela humanidade (não é invencível, mas é formidável) por que foi espionado. A resposta brasileira deve vir em forma de protecionismo (como fizeram os franceses, por exemplo) e com uma aura de superioridade moral. No campo público o governo brasileiro exigiu explicações oficiais por parte da Casa Branca e se aventa a suspensão de viagem que a presidente faria aos EUA.

Sun Tzu assevera na obra citada acima: “É fundamental desmascarar os agentes inimigos que te espiam”, recomendação que se torna cada vez mais difícil a medida que evoluem as técnicas de vigilância remota e de invasão de sistemas de computador.

Esse episódio pode ser uma oportunidade para reformar as práticas de segurança da informação do governo federal, por que restou provado que as medidas em uso são inócuas e a própria mandatária foi espionada, o que é inaceitável. E suscita a pergunta onde está a contra-inteligência brasileira?

Parafraseando Alexis de Tocqueville, os problemas da tecnologia se resolvem com mais tecnologia, isto é, se o governo pretende evitar que novas violações de suas comunicações ocorram será preciso além de instaurar uma verdadeira cultura de proteção de dados, também capacidade técnica para tentar coibir a ação de governos estrangeiros e outros grupos.

Nesse escândalo de espionagem fomos pegos de calças curtas, juntamente com os americanos.

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