Abaixo o relato de uma competente internacionalista (e colega de geração na UCB) Sophia Mattos que opera no comércio exterior sobre o Encontro Empresarial dos BRICS. E dá a perspectiva de alijamento (e também o baixo engajamento) dos empreendedores e empresários do processo dos BRICS e em parte isso mostra o que costumo chamar em minhas palestras e textos de falta de “dentes” desse grupo, ou seja, falta de profundidade e integração das sociedades.
Muita conversa, pouca ação
por Sophia Mattos Mesquista*
Boa comida, muita conversa e pouca ação. Assim se resumiu o Encontro Empresarial dos BRICS, realizado ontem (14/07), em Fortaleza, por ocasião da VI Cúpula do grupo. Com um esquema de segurança impecável, um visual luxuoso e inúmeras presenças internacionais de peso, o encontro prometia.
A despeito da eloqüência dos expositores, as palestras do Fórum Empresarial mais pareciam uma tentativa de preencher agenda, do que discutir temas relevantes de interesse da classe empresária presente. Houve um atraso na programação, o que estendeu as palestras para além do intervalo do coffee-break. No entanto, isso não intimidou os participantes que, no momento em que foi servido o “lanche”, se retiraram da sala e não se preocuparam em deixar os próximos palestrantes falando para um salão quase vazio.
Findas as palestras, seguimos todos para o salão onde ocorreria o Business Networking, que seria o ponto alto do evento para aqueles que, como eu, esperavam sair dali com alguns negócios na manga. Há poucos meses a Federação das Indústrias do Estado de Ceará (FIEC) havia organizado um encontro de negócios com os países da União Européia que, apesar de discreto, proporcionou aos participantes boas parcerias. Portanto, apesar do marasmo das palestras, a expectativa de fazer negócios permanecia alta.
O Business Networking era composto por 10 ilhas setoriais, que eram os locais reservados para a realização de encontros de networking simultâneos entre empresários interessados em um mesmo setor. De acordo com as regras estabelecidas pela organização do evento, cada empresa poderia participar de, no máximo, 2 ilhas setoriais, nos horários indicados na agenda de encontros. Seriam realizados 3 ciclos de encontros com duração de 30 minutos cada.
No local, havia um salão maior, onde estava sendo servido um elegante coquetel, com comida e bebida da melhor qualidade. O clima de descontração se estendeu à sala do Business Networking. Havia pouquíssimos empresários nas ilhas e quase nenhuma discussão relevante. Parecia que a maioria estava ali reencontrando velhos conhecidos. Outras salas estavam reservadas para participantes de “crachá azul” e ali sim, parecia haver discussões de peso.
É inegável a força e a relevância dos BRICS no cenário internacional. Acredito que a classe empresária presente no evento de ontem, estava ali como mera expectadora, partícipe de uma fatia mínima do universo de grandes decisões que permeiam este grande encontro.
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* Graduada em Relações Internacionais pela Universidade Católica de Brasília (UCB), pós-graduada em Logística Empresarial na Fundação Getúlio Vargas e atualmente cursando MBA em Gestão de Negócios pelo Ibmec. Com experiência de mais de 10 anos na área, esteve presente em negociações internacionais na China e na Europa. Atua no setor privado, na área de importação para o mercado da construção civil.
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