Mexicano, com formação sólida e muita credibilidade, o Jornalista Jorge Ramos mesmo sem ser candidato (e talvez, por isso) pode ser o fiel da balança nas eleições presidenciais americanas por causa de seu ativismo em torno da migração.
Nosso correspondente em Washington, Márcio Coimbra, (que agora colabora no Portal Diário de Notícias e tem um blog no prestigioso BrasilPost, versão nacional do Huffington Post) tem nos enviado matérias sobre as primárias republicanas, já que pelo lado democrata, uma cada vez mais poderosa Hilary Clinton se consolida como candidata – tirando um pouco da emoção da cobertura.
E algo tem surgido consistentemente como tema nas eleições a Reforma do sistema de imigração dos EUA e a razão disso é que é um tema muito sensível para os latinos, que são o segmento do eleitorado americano que mais cresce e por isso será o mais cortejado.
É claro, que reduzir seres humanos a uma categoria analítica e atribuir a essa categoria características generalizantes é sempre arriscado e um paraíso para que preconceitos deturpem a análise, mas nesse caso a questão da imigração consegue galvanizar suficiente coesão de opinião para que se pense nos latinos como grupo, claro nunca como totalidade.
Escreveu nosso correspondente:
“Se de um lado da moeda os imigrantes qualificados não tem incentivo para ficar, do outro os imigrantes ilegais não possuem um caminho claro para se legalizar. O projeto que surgiu em discussão no Senado trata dos qualificados, com um acesso especial para residência daqueles que estudam nos Estados Unidos disciplinas ligadas a engenharia, matemática e tecnologia da informação. Ou seja, aqueles que estudam a área de humanas não serão bem vindos para ficar, pois geram benefícios no médio e longo prazo, enquanto profissões com resultados e demanda mais imediata tem prioridade.
A questão dos imigrantes ilegais é um ponto de divergência hoje na agenda. A maioria dos democratas deseja que exista um caminho para a cidadania dos cerca de 12 milhões de imigrantes ilegais hoje nos Estados Unidos. Já os republicanos falam em legalização deste contingente, mas sem acesso, pelo menos neste primeiro momento, a cidadania. A motivação é clara, uma vez que cidadãos votam. Depois de tomar seguidas surras eleitorais nos territórios com maior percentual de imigrantes, os republicanos não querem correr o risco de mudar o mapa eleitoral dos Estados Unidos e perder o controle de um número ainda maior de estados. Colorado e Novo México, que já votaram com Bush na última década, em 2012 foram para a esfera de Obama.
Na verdade não existe uma vontade política de legalizar os imigrantes ilegais se não for uma motivação eleitoral. Os ilegais recolhem impostos na fonte (geralmente são contratados com número de social security em duplicidade), gastam dinheiro nos Estados Unidos - o que faz com que o paguem impostos sobre consumo, não recebem benefícios sociais, tampouco restituição de impostos e ainda podem ser deportados se violarem a lei. É uma mão-de-obra que somente gera benefícios. Muitos políticos, se não forem recolher seus votos, se perguntam qual o benefício de legalizá-los.
Na esfera política, a conta é feita desta maneira. A América, que já foi um país de imigrantes, tem um desafio pela frente. Uma pequena reforma imigratória está sendo gestada, mas a discordância sobre o caminho a seguir com os ilegais pode jogar fora o esforço feito até agora. Ontem ouvi de pessoas no Congresso que qualquer mudança neste sentido tem apenas 40% de chance de ocorrer. Pessoalmente acredito que as chances são muito menores.”
Uma reportagem na versão on line da revista Politico nos apresenta um perfil interessantíssimo de uma figura que eu não conhecia (mea culpa, mea máxima culpa), o ancôra da Univision (principal rede de TV, em espanhol, dos EUA) e da rede Fusion (uma joint venture a Univion e a ABC), Jorge Ramos.
Ramos construiu uma sólida carreira como jornalista, mas estava circunscrito a língua espanhola e por isso seu estilo de entrevistador difícil e seu ativismo jornalístico não eram percebidos em círculos mais amplos, quando passou a capitanear um programa em Inglês na rede Fusion (que visa atrair os jovens latinos que se comunicam com maior fluência e destreza em inglês) se tornou ainda mais influente.
Seu estilo é controverso, e como não poderia ser, quando um jornalista se torna a notícia, ou seja, quando é ativista, mas não é único na verdade esse estilo está em linha com o que se pratica em outras redes americanas como MSNBC, Fox News e CNN.
Ramos está numa campanha ferrenha para que o projeto de reforma de imigração – já aprovado no Senado seja votado na câmara – e escolheu o caminho da pressão sobre o alaranjado Bohener (republicano, Speaker of the House, equivalente a presidente da Câmara). E mais uma vez mostra que as contradições internas no GOP podem custar o voto latino, por décadas. Mesmo a parcela desse voto que é inclinada aos valores conservadores.
Ramos não ignora as deportações, em níveis recordes, de Obama, e nem sua quebra de promessas de campanha sobre esse tema tão sensível:
“You promised that, and a promise is a promise,” Ramos told the president. “And with all due respect, you didn’t keep that promise.” Obama initially shifted blame onto Republicans, but later in the interview conceded, “As you remind me, my biggest failure is that we haven’t gotten comprehensive immigration reform done.”
Pode ser que ainda seja a economia, estúpido! Mas, a crescente influência de homens como Jorge Ramos e dos meios de comunicação latinos, podem acabar por gerar uma pressão que mude a situação descrita com propriedade por nosso correspondente. O voto latino e a luta por ele serão um dos aspectos mais fascinantes para observar durante as eleições americanas e, muito embora, a imigração não seja o único tema que movimenta esse segmento do eleitorado é um item polarizador e por isso mesmo um grande teste para quem quer ser líder.
Estarão os republicanos a altura do desafio de convencer a própria base, ou a desconfiança que criou a força do Tea Party vai continuar a afastar o partido do centro? Qual o grau de influência nas campanhas dos meios latinos, em especial dos meios em língua inglesa? Saberão os candidatos lidarem com essa mídia latina, incisiva?
Jorge Ramos é uma dessas figuras que temos que acompanhar, concordando ou não com suas opiniões, sua influência é grande.
Reitero, serão eleições divertidas de acompanhar.
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