A Internet é mais que apenas uma mídia, um meio de comunicação, por sua interatividade instantânea (ou quase me lembrariam os físicos) é um eco-sistema das idéias que aceita todo tipo de pensamento do mais delirante teórico da conspiração ao mais embasado dos textos científicos, está tudo a um clique de distância, com ocasionais ‘pay-walls’ que a própria internet ensina como contornar, se o individuo assim desejar.
Os grupos das redes sociais aglutinados por interesses comuns são locais interessantes para descobrir novas visões ou caminhos, para divulgar seus projetos e/ou sanar dúvidas, mas também são locais em que pela natureza livre da rede você encontra todo tipo de raciocínio.
Estão particularmente serelepes na rede os saudosistas do poder soviético, não é pra menos, Putin tem falado todas as palavras de ordem que esses grupos gostam e tem feito os gestos de força que eles admiram e muitos desses saudosistas até abandonam agendas de Direitos Humanos que defendem com tanto afinco: Liberdade de expressão, direitos de minorias, notadamente homossexuais. Tudo em nome de confrontar o império.
Até escrevi sobre isso, com alguma ironia, quarta-feira passada:
Curioso é como os militantes na internet entendem a questão. Os defensores do ‘outro mundo possível’ são declaradamente anti-imperialistas e anti-americanos e curiosamente são grandes entusiastas da intervenção estrangeira desde que não seja do chamado bloco ocidental.
Não é difícil imaginar porcos afixando nas portas dos celeiros por toda a Internet teses em que se lê: “Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros” e as ovelhas virtuais bradando: “Imperialismo bom, imperialism bad”.
A assertividade russa calcada em visões neo-eurasianas sobre as necessidades de segurança e com demonstrações de força para uso eleitoral interno causam reações nas cercanias russas, as populações da Polônia, das Repúblicas Bálticas têm deixado claro a seus políticos suas apreensões com o avanço do urso. Esses governos pressionam por demonstrações de força da OTAN, que por outro lado reforçam os pressupostos teóricos que delineiam a política russa.
Nenhum analista seria ingênuo o suficiente para ignorar que serviços de inteligência russos e americanos estão atuando na Ucrânia, contando apoiadores de suas causas, sondando políticos, aferindo a temperatura política nas ruas, entre os formadores de opinião, entre os líderes de grupos mais radicais que estão na linha-de-frente e entre militares. Cada lado tentando moldar os acontecimentos de acordo com seus interesses e cedendo um pouco para acomodar os interesses locais no solo.
Publicamente trocam acusações de interferência e fazem discursos duros, todo mundo quer sair por cima politicamente. Obama é cada vez mais desafiado em seu ‘record’ de política externa, massacrado pelos republicanos como fraco e ingênuo. Putin graças aos saudosos que descrevi acima tem a chance de ser visto como vítima das maquinações do império, transformando seus opositores em inimigos da pátria, facilitando a consolidação de sua hegemonia.
Enquanto os grandes brincam de tabuleiro geopolítico, os admiradores aplaudem e escrevem justificações na academia e na mídia, a Ucrânia corre o risco de desaparecer, mas esse desaparecimento não será quieto como a anexação da Crimeia e muita tragédia humana estará na ordem do dia.
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