Pular para o conteúdo principal

Nigéria: 200 meninas seqüestradas e a ostentação presidencial

 Bokoharam Acompanhar o noticiário internacional sobre um país em desenvolvimento implica em saber que nenhuma boa notícia fica impune, ou seja, sempre que esse país se destaca positivamente algo de seu lado mais atrasado acaba chamando atenção, também. Esse é o caso da agora 26ª economia do mundo e maior da África, a Nigéria.

Semana passada repercutiu amplamente nos meios de comunicação o novo patamar econômico da Nigéria, que já era uma realidade que não estava sendo captada nas estatísticas devido a desatualização metodológica que segundo reportam ignorava no calculo setores como telefonia móvel, e-commerce e a economia criativa.

Para quem não acompanha a África tão de perto, como eu, foi uma grata descoberta a participação expressiva da indústria do cinema no PIB Nigeriano, talvez seja a hora de um festival por aqui para que possamos ter acesso a esse cinema. As reportagens também faziam a inevitável comparação com a África do Sul, agora segunda economia e nossa parceira de IBAS E BRICS, que se sai melhor no quesito infra-estrutura e educação.

Infelizmente, esse momento de descobrir oportunidades e mais sobre o lado empreendedor e dinâmico da Nigéria foi interrompido por graves noticias com ares de dejá vu com mais um bárbaro ataque do Boko Haram.

O nome do grupo terrorista deixa claro seu alvo, já que Boko Haram é traduzido como “Educação ocidental é pecaminosa”. Não espanta que o ataque seja a um colégio interno para meninas.

A escola era guardada por tropas nigerianas que chegaram a trocar tiros com os terroristas antes de serem mortos no confronto, logo após 200 meninas foram retiradas de suas camas e colocadas em caminhões escoltados por motos e centenas de terroristas fortemente armados. Ainda não se sabe quais são os planos do grupo pra meninas seqüestradas. O ataque ocorreu no nordeste da Nigéria, região predominantemente muçulmana e uma das mais pobres do país.

Desde 2011, quando o Boko Haram atacou a representação da ONU, em Abuja, que o presidente nigeriano Godluck Jonathan tem pressionado seus militares para resolverem o problema da insurgência Boko Haram, sem muito sucesso, como visto pelo ousado ataque a escola.

Godluck Jonathan é o mesmo dos iPhones de ouro iphone de ourocomo lembrança do casamento de sua  filha, que gerou enorme controvérsia na Nigéria, por que pelo que tudo indica o mimo de alto luxo (e gosto duvidoso) foi pago pelo governo. E não é a primeira controvérsia causada por iPhones de ouro.

Esse tipo de atitude pode muito bem servir de combustível para a insurgência muçulmana em uma região empobrecida, onde os apologistas do terror fazem uso disso para incutir sua ideologia que no final acaba por seqüestrar e matar meninas por ousarem buscar uma educação, que não esteja circunscrita a particular interpretação da religião feita pelos extremistas. E, mesmo que os gastos tenham sido pagos pelo presidente e não pelo governo demonstra uma falta de sensibilidade política incompatível com a administração de um país complexo como a Nigéria, que enfrenta terrorismo e fome.

Até que ponto esse comportamento de ostentação do presidente e o clima de revolta que provoca não enfraquecem o moral das tropas que estão em combate? Enquanto isso é aterrador, desesperador mesmo, pensar o que pode está se passando com essas meninas.

UPDATE: O número de meninas sequestradas agora é estimado em 100, mas poderia ser uma só que não mudaria a natureza do atentado terrorista que são vítimas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Colômbia – Venezuela: Uma crise previsível

A mais nova crise política da América do Sul está em curso Hugo Chávez o presidente da República Bolivariana da Venezuela determinou o rompimento das relações diplomáticas entre sua nação e a vizinha Colômbia. O fez em discurso transmitido ao vivo pela rede Tele Sur. Ao lado do treinador e ex-jogador argentino Diego Maradona, que ficou ali parado servindo de decoração enquanto Chávez dava a grave noticia uma cena com toques de realismo fantástico, sem dúvidas. Essa decisão estar a ser ensaiada há tempos, por sinal em maio de 2008 seguindo o ataque colombiano ao acampamento das FARC no Equador. Por sinal a atual crise está intimamente ligada aquela uma vez que é um desdobramento natural das acusações de ligação entre a Venezuela e os narco-gueriilheiros das FARC. Nessa quarta-feira o presidente da Colômbia (e de certa maneira o arquiinimigo do chavismo na América do Sul) Álvaro Uribe, por meio de seus representantes na reunião da OEA afirmou que as guerrilhas FARC e ELN estão ativas...

O complicado caminho até a Casa Branca

O processo eleitoral americano é longo e complexo, sua principal característica é a existência do Colégio Eleitoral, que atribui aos candidatos uma quantidade de votos, que equivale ao número de senadores ou deputados (lá chamados de representantes) que cada estado tem direito no Congresso dos EUA. Esse sistema indireto de votação é uma fórmula constitucional enraizada no processo histórico da formação dos Estados Unidos, que buscava em um forte federalismo, criar mecanismos que pudessem minorar ou eliminar a possiblidade de um governo tirânico. Esse arranjo federalista se manifesta fortemente, também, na forma como a Constituição Americana é emendada, sendo necessário a ratificação de uma emenda aprovada no congresso pelos legislativos estaduais. São 538 votos totais no Colégio Eleitoral, a Califórnia tem o maior número de votos, com 55 e o Distrito de Columbia (equivalente ao nosso Distrito Federal) e outros 7 estados com 3 votos têm a menor quantidade, o censo populacional é usa...

Bye, bye! O Brexit visto por Francisco Seixas da Costa

Francisco Seixas da Costa é diplomata português, de carreira, hoje aposentado ou reformado como dizem em Portugal, com grande experiência sobre os intricados meandros da diplomacia européia, seu estilo de escrita (e não me canso de escrever sobre isso aqui) torna suas análises ainda mais saborosas. Abaixo o autor tece algumas impressões sobre a saída do Reino Unido da União Européia. Concordo com as razões que o autor identifica como raiz da saída britânica longe de embarcar na leitura dominante sua serenidade é alentadora nesses dias de alarmismos e exagero. O original pode ser lido aqui , transcrito com autorização do autor tal qual o original. Bye, bye! Por Francisco Seixas da Costa O Brexit passou. Não vale a pena chorar sobre leite derramado, mas é importante perceber o que ocorreu, porque as razões que motivaram a escolha democrática britânica, sendo próprias e específicas, ligam-se a um "malaise" que se estende muito para além da ilha. E se esse mal-estar ...