São sempre deliciosas as histórias da memória diplomática do ex-embaixador de Portugal, no Brasil. Abaixo segue mais um desses retratos que dão toques humanos a política externa. O original pode ser lido aqui.
Notícias do caos
Por Francisco Seixas da Costa
Foi uma relação de simpatia pouco vulgar aquela que se estabeleceu entre aquele credenciado diplomata português e um seu homólogo soviético, em tempo de Guerra Fria, num contexto internacional particular. A história ficou nos anais diplomáticos portugueses.
O tema da conversa era a França, onde o diplomata português estava colocado.
- É mesmo verdade que, em França, é possível a um cidadão estabelecer-se em qualquer cidade que seja do seu agrado, sem necessitar de autorização oficial?
- Claro que sim! Desde que tenha meios para isso, não há qualquer limitação no que toca ao lugar onde pretende morar.
- E a compra de carro? Falaram-me que não é preciso inscrição para a sua aquisição...
- Quem pretender um carro e tiver dinheiro para o comprar dirige-se a um stand e adquire-o. Pode ficar com ele de imediato.
A conversa prosseguia nestes termos, com questões sobre a liberdade de escolha dos cursos ou outras que acabavam por espelhar o contraste entre o modelo soviético e o quadro de liberdade das sociedades de mercado. A certo passo, confirmadas que tinham sido pelo colega português a liberalidade de várias dessas práticas de vida no Ocidente, o interlocutor soviético exclamou:
- Então não é só propaganda?! É mesmo o caos...
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