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Elucubração econômica

alca al carajo Visitei o Equador no início dos anos 2000 e pelas ruas de Quito um grafite chamou a minha atenção ele dizia: “ALCA, Al carajo, Yanks go home”, a época o recém empossado governo Lula construía o que alardeavam como sua maior vitória política, o torpedeamento da Área de Livre Comércio das Américas, como se dizia a época o bloco que iria da Tierra del Fuego ao Alaska. Anos depois o falecido Chávez usaria a mesma expressão elegante, em Mar del Plata.

O argumento principal era o temor da economia brasileira e da região se tornariam satélites da economia americana, além é claro das dificuldades de sempre, ou seja, agricultura protegida pelo lado americano e serviços blindados pelo lado brasileiro.

Tudo que envolve parceria ou associações com os EUA, acaba sendo decidido com o fígado no Brasil, ou seja, preconceitos ideológicos (e concordâncias cegas, também) dominam o debate, o abstrato interesse nacional é torturado até confessar o que as correntes de opinião desejam.

A tese vencedora foi a do triunfo soberano da política Sul-sul e para isso BRICS seria o caminho, a crise de 2008 parecia ser a grande prova que essa fora a melhor aposta e pouco importava que a pauta comercial brasileira com os demais BRICS (no caso só China mesmo é relevante) fosse concentrada em commodities – o que até pouco tempo antes era sinal claro de atraso diriam os mesmos que agora eram entusiastas dos BRICS – mas, o boom das commodities dava (e ainda dá) muito dinheiro e criava portentosas reservas que nos tornavam credores líquidos do mundo.

Nesse período e com uma forcinha enorme da suspensão do Paraguai o MERCOSUL acrescentou a Venezuela em seu arranjo, pode-se até imaginar que o fácil acesso ao petróleo venezuelano seja algo importante para um bloco em busca de energia, mas politicamente isso mandou uma mensagem altermundista, o MERCOSUL agora seria o bloco em busca de outro mundo possível.

Enquanto isso avançou o movimento de assinatura de acordos de livre comércio entre EUA e vários países da América Central, Caribe e América do Sul, como os vizinhos Peru e Colômbia. E as tentativas de acordo MERCOSUL-UE não passam de declarações de intenções, elogios mútuos, belas notas oficiais e negociações empacadas.

Claro, que ter uma economia relativamente fechada como a brasileira cria distorções que elevam os preços dos produtos fabricados localmente, o que retro-alimenta o fechamento da economia ao justificar a proteção sob pena de perda empregos, automóveis são um caso clássico.

E assim, mais de uma década depois de ver aquele grafite, em Quito, chegamos ao que vemos hoje, a expansão maior dos países do pacífico e como no caso peruano com excelentes resultado na eliminação da pobreza e os países mais fechados patinando, enfrentando inflação.

No inicio desse nosso século fizemos uma opção e mandamos o livre-comércio ‘al carajo’ e o que ganhamos em troca?

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PS: Esse não foi o grafite que vi, mas não achei a foto para ilustrar essa postagem.

Comentários

Anônimo disse…
O que ganhamos em troca? Pleno emprego, desenvolvimento economico e social, economia sólida, estabilidade. Os projetos liberais podem ser muito lindos, mas jamais funcionam pro sul. Os textos desse blog ja foram bons, hoje nada mais são do que distribuição gratuita de bravatas pró-imperialismo. Uma pena, pois aqui eu lia as melhores analises. Comparar a situação de crescimento do Peru e dos paises do pacifico com a nossa chega a ser uma piada. O tempo vai mostrar qual modelo de desenvolvimento é insustentavel, e dizem que o nosso é insustentavel desde 2003.
Mário Machado disse…
Bom, tenho algumas considerações acerca desse comentário, que o farei em outra oportunidade. Por hora me atenho ao fato de "já ter sido bom", interessante é que meu jeito de ver as coisas não mudou fundamentalmente nesses anos, foi refinado em alguns pontos, mas permanece a orientação geral que tenho. Dai imagino que, talvez você não tenha me lido com a devida atenção, isso se tiver mesmo lido, né?

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