Pular para o conteúdo principal

Diplomacia do Basquetebol? Ou sobre o jogo da discórdia

rodman-kim O sempre polêmico e um tanto tresloucado ex-jogador de basquetebol (e um dos meus ídolos pessoais nesse esporte que tanto amo) Dennis Rodman está na maior prisão a céu aberto do mundo, na República Popular da Coréia, para realizar um amistoso entre ex-atletas americanos e jogadores norte-coreanos em honra do aniversário do líder daquele país Kim Jong-Un.

A liga profissional de basquetebol dos EUA, a famosa NBA, para essa temporada 2013-2014 estreou uma nova campanha publicitária focada na internacionalização de sua liga, com a assinatura “One game, one love” a campanha exorta a capacidade universal que o esporte tem para emocionar e criar momentos inesquecíveis. Dennis Rodman e sua ida a Coréia do Norte desafia os limites dessa campanha e muito mais acaba por expor a verdade incômoda de que o esporte é altamente politizado.

O exemplo mais dramático dessa politização do esporte foram os boicotes aos jogos olímpicos de 1980 e 1984, que arruinaram os sonhos e os esforços de muitos atletas.

Não creio ser preciso elaborar muito sobre o impacto que o esporte tem como política de soft power, as imagens e emoções do esporte criam ícones de carisma incontestável e que podem ser bem aproveitados pelos grupos de opinião para atrair pessoas a suas causas, como nos mostra o envolvimento celebrado de jogadores de futebol com campanhas como a Diretas Já.

rodman-divingE é justamente nessa esfera do poder que o esporte ocupa no imaginário que frutifica a polêmica sobre a aproximação entre o Dennis Rodman e o estimado líder, a quem o ex-jogador chama de amigo. Rodman, talvez, não seja tão habilidoso politicamente como foi na arte de conquistar um rebote e acabou por sugerir em entrevista a rede CNN (disponível ao fim do texto) que o prisioneiro americano na Coréia do Norte, Keneth Bae, cuja família faz campanha por sua libertação, estaria preso, por motivos justos. Não é preciso dizer que isso enfureceu a família do prisioneiro. Por sinal, ninguém sabe quais são as causas de sua prisão. 

Rodman afirma que esse jogo foi a “Diplomacia do Basquetebol” e que lá estava em nome do esporte e para criar e aprofundar laços entre os povos. É um belo jeito de descrever as coisas, mas sobrevive a uma análise séria?

A Associação dos Ex-jogadores da NBA emitiu nota em que afirma: “Under the right circumstances basketball can serve as a bridge to bring communities together, but these are not those circumstances. Standing alongside our partners at the NBA, we do not condone the basketball activities to be conducted in North Korea this week.” Ou numa tradução livre: “Sob circunstâncias apropriadas o basquetebol pode servir como ponte para unir comunidades, mas essas não são as circunstâncias adequadas. Em conjunto com nossos parceiros da NBA, nós não somos lenientes com as atividades que serão levadas a cabo na Coréia do Norte, esta semana”.

A viagem e o amistoso se tornaram campo de batalha política e pouco importa o fato das estrelas aposentadas terem perdido para o selecionado norte-coreano e isso, meus caros, é a prova maior que em toda essa polêmica, o esporte foi o grande perdedor. E o que restou foi o entusiasmo de um homem que já foi meu ídolo (ironicamente, por seu amor a liberdade) e um grande atleta por um autocrata que vitíma seu próprio povo.

Diga-me com quem andas...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Colômbia – Venezuela: Uma crise previsível

A mais nova crise política da América do Sul está em curso Hugo Chávez o presidente da República Bolivariana da Venezuela determinou o rompimento das relações diplomáticas entre sua nação e a vizinha Colômbia. O fez em discurso transmitido ao vivo pela rede Tele Sur. Ao lado do treinador e ex-jogador argentino Diego Maradona, que ficou ali parado servindo de decoração enquanto Chávez dava a grave noticia uma cena com toques de realismo fantástico, sem dúvidas. Essa decisão estar a ser ensaiada há tempos, por sinal em maio de 2008 seguindo o ataque colombiano ao acampamento das FARC no Equador. Por sinal a atual crise está intimamente ligada aquela uma vez que é um desdobramento natural das acusações de ligação entre a Venezuela e os narco-gueriilheiros das FARC. Nessa quarta-feira o presidente da Colômbia (e de certa maneira o arquiinimigo do chavismo na América do Sul) Álvaro Uribe, por meio de seus representantes na reunião da OEA afirmou que as guerrilhas FARC e ELN estão ativas...

Sobre a política e suas narrativas por Creomar de Souza

A gravidade do momento político e econômico que o Brasil atravessa exige do cidadão contemplar alternativas e avaliar os argumentos das diversas correntes de opinião, nesse afã publico aqui com autorização expressa do autor um excelente texto sobre as narrativas em disputa mais acirrada pela condução coercitiva do ex-presidente Lula. Creomar de Souza (professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília) é uma das mais sensatas vozes desse país e um analista de uma serenidade ímpar. Leiam e reflitam. Ainda há intelectuais em Brasília. Sobre a política e suas narrativas Por Creomar de Souza Escrevo este texto sob o impacto imagético da entrada da Polícia Federal do Brasil na casa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O desdobramento da Operação Lava Jato em mais uma fase – relembrando um antigo sucesso dos videogames – e em mais um batismo – de fazer inveja a qualquer marqueteiro bem sucedido da Avenida Paulista – trazem à bai...

Ler, Refletir e Pensar: The Arab Risings, Israel and Hamas

Tenho nas últimas semanas reproduzido aqui artigos do STRATFOR (sempre com autorização), em sua versão original em inglês, ainda que isso possa excluir alguns leitores, infelizmente, também é fato mais que esperado que qualquer um que se dedique com mais afinco aos temas internacionais, ou coisas internacionais, seja capaz de mínimo ler em Inglês. Mais uma vez o texto é uma análise estratégica e mais uma vez o foco são as questões do Oriente Médio. Muito interessante a observação das atuações da Turquia, Arábia Saudita, Europa e EUA. Mas, mostra bem também o tanto que o interesse de quem está com as botas no chão é o que verdadeiramente motiva as ações seja de Israel, seja do Hamas. The Arab Risings, Israel and Hamas By George Friedman There was one striking thing missing from the events in the Middle East in past months : Israel. While certainly mentioned and condemned, none of the demonstrations centered on the issue of Israel. Israel was a side issue for the demonstrators, with ...