As chuvas pesadas do verão austral sempre provocam danos graves no Brasil, perda massiva de vidas e patrimônio. Aliás, uma boa abordagem para os economistas e jornalistas econômicos seria calcular o impacto que as perdas com as chuvas geram no PIB. Mas, de longe o aspecto mais aterrador é a perda de vidas humanas.
Ano após ano as cidades brasileiras são pegas despreparadas para prevenir e reagir a tragédias contam quase que exclusivamente com a valentia dos bombeiros. E com o baixo uso de equipamentos tecnológicos, essa valentia é mesmo um grande recurso.
Não vou fingir que sou especialista em regaste urbano de emergência, ou que tenho qualificação para debater as falhas estruturais do sistema de prevenção a desastres e as falhas de infra-estrutura que são críticas. Mas, ainda assim, fica claro até para o olhar leigo que está tudo errado, que o sistema falha rotineiramente e que a desculpa padrão é sempre dizer que choveu mais que o esperado, mais concentrado que o esperado.
Nossos líderes falham conosco todo ano e nós falhamos conosco quando não pressionamos, quando premiamos com re-eleição os incapazes de liderar e/ou desenhar uma máquina pública capaz de responder adequadamente.
E falham, ainda, na função de inspirar o debate sobre a prevenção a desastres reforçando as condutas que cada um de nós tem que ter para mitigar os efeitos de eventos extremos, por exemplo, governos em cidades e países estrangeiros ofertam aos seus cidadãos informações a cerca de quanto de água estocar, que tipo de material para que possam resistir por conta própria.
O amadorismo e falta de liderança de nossos políticos fica escancarado quando percebemos que rotineiramente eles suspendem suas férias para liderar os esforços de busca e ajuda a áreas afetadas. Mas, ai você me pergunta, suspender as férias não é a ação certa a se fazer? E, eu respondo, não é dezembro e em janeiro que mais vemos essas imagens de cidades brasileiras cobertas por água? Então, pra que sair de férias nesse período? Isso, meus caros, é amadorismo político e me causa estranheza que os áulicos de plantão não alertem seus chefes (ou seriam senhores) desse fato e os mostrem que melhor que sobrevoar áreas de tragédias com coletes da defesa civil é oferecer ajuda com celeridade e com planos prévios bem elaborados, é investir em prevenção e treinamento, é informar o público da necessidade de criar planos familiares de fuga e resistência e não podemos esquecer é sempre melhor discursar do local com segurança e inspirar calma e mostrar alguma liderança.
O momento é de mobilização para ajudar aos desalojados e tentar confortar os enlutados, embora até nesse momento as falhas estruturais apareçam, como explicita a frase secretário de Estado da Assistência Social do Espírito Santo, Helder Salomão, em reportagem do portal IG:
“Nossa equipe auxiliou Santa Catarina e o Rio de Janeiro quando esses Estados enfrentaram situação semelhante. Lá, o estoque de material doado durou anos. Aqui, as próprias cidades atingidas estão conseguindo trocar doações. O que precisamos, no entanto, ainda é de barcos leves para auxiliar o resgate a quem ainda está nas casas alagadas”. [Grifo nosso]
Não nos falta solidariedade, mas como nos falta planejamento e capacidade. Infelizmente, continuará faltando pelo futuro próximo.
Comentários