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Maristela Basso e Bolívia

A participação da professora de Direito Internacional da USP, Maristela Basso, no (obscuro, sejamos honestos) Jornal da Cultura do dia 29 de agosto de 2013, tem sido objeto de extenso debate nas redes sociais, bem nos recantos dessas redes que concentram estudantes e interessados em Relações Internacionais, a polêmica se deve a contundência da análise da professora sobre o local ocupado pela Bolívia no esquema estratégico do Brasil.

Vejam o vídeo volto logo depois.

 

A fala da professora motivou uma grandiloquente nota de repúdio do Centro Acadêmico Guimarães Rosa, que está disponível aqui. E, também, uma reportagem em que líderes da comunidade boliviana no Brasil pedem retratação e direito de resposta.

Vou dividir a fala em duas partes para fins de análise. A primeira parte que é a que toca na dimensão estratégica da Bolívia para o Brasil. Nesse caso a Bolívia não é um parceiro de peso, é certo que as compras de gás boliviano são importantes para setores da indústria brasileira, mas nesse caso pelo vulto das transações, essas compras são muito importantes para a Bolívia que não possui clientes suficientes para travar um jogo estratégico a partir desse gás, como faz com alguma maestria a Rússia. Nesse contexto o comércio com a Bolívia não é significativo ou mesmo diversificado.

A Bolívia é desses países que apesar da pobreza (familiar para nós brasileiros, ainda assim mais ostensiva) nos cativa, não só pelo clichê de falar do povo simpático e atencioso, mas por causa da geografia do lugar, sua história, suas dores e seus prazeres, contudo, não é importante ó suficiente para o Brasil para que tenhamos que exonerar um ministro de Estado para apaziguar o relacionamento, aliás, tolerância e até condescendência têm sido a tônica das relações do Brasil com a Bolívia.

A parte mais grave da fala da professora, ou pelo menos a que mais ira (politicamente correta) despertou é a que ela trata da imigração boliviana. Para usar a linguagem mais coloquial é nessa parte que ela viaja, isto é, apressadamente analisa os efeitos da imigração boliviana para o Brasil. A atual onda migratória é muito recente para que se tenha uma ideia se ela irá ou não impactar culturalmente o Brasil. Afinal, não é muito devaneio imaginar que entre os meninos e meninas filhos de bolivianos – aqui nascidos ou não – que por construírem um caráter resoluto devido as dificuldades da migração possam futuramente mostrar dedicação extraordinária aos estudos ou visão empreendedora. Basta ver os efeitos de ondas anteriores de migração de várias origens.

A fala toda da professora é o que os falantes do inglês chamam de “cautionary tale” para todos nós que pretendemos ofertar opiniões em meios públicos. É preciso escolher muito bem as palavras que serão utilizadas e embasar sempre os argumentos, por que a reação nem sempre será proporcional ao que foi dito, ou justa.

Não foi a mais informativa das participações de professores em programas de televisão, por sinal, foi recheada de senso comum e pouca pesquisa, entretanto, tentar transformar a professora na personificação da xenofobia e racismo é estúpido e cheira a caça a bruxas.

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