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A barriga da CNN: Um “cautionary tale”

Como quase todos que trabalham em “Home Office” tenho por hábito deixar a televisão ligada em algum canal de notícias e no meio da tarde de hoje uma notícia roubou completamente minha atenção, dizia a manchete em letras garrafais na tela da CNN, que o suspeito de ter colocado os dois dispositivos explosivos improvisados na chegada da Maratona de Boston havia sido detido.

O feito parecia de uma eficiência espantosa em menos de 72 horas as forças de segurança dos EUA teriam localizado e apreendido o suspeito. Contudo, logo ficou claro que não passou de uma confusão e a primeira rede internacional de notícias havia cometido uma ‘barriga’ das grandes.

Barriga no jargão dos jornalistas é dar notícia falsa ou errada como verdadeira e ainda o fazer com grande estardalhaço, ou seja, o oposto de um furo jornalístico.

Durante a transmissão que contava com grandes nomes da rede norte-americana como Wolf Blitzer (que pessoalmente acho insuportável) e o Anderson Cooper. Ficou claro que havia sido um erro e logo veio o desmentido de todos os departamentos de polícia envolvidos e até mesmo da Casa Branca, uma saia justa para os profissionais no ar.

Esse erro jornalístico nos mostra a importância do trabalho de verificação independente de uma notícia dada por uma fonte, ainda que a fonte seja confiável.

Nessa era em que a facilidade de auto-publicação faz proliferar os blogs, vlogs e toda forma de ‘mídia social’, os profissionais da CNN e seu erro crasso nos dão uma lição grátis de que responsabilidade e apuração não podem ser sacrificadas em nome da velocidade imposta por esse mundo de redes sociais.

Em tempo é preciso lembrar que nem todo blogger é jornalista, como, por exemplo, esse que vos escreve agora. Sou analista de Relações Internacionais e também comento notícias e acontecimentos, mas não me julgo jornalista e tenho a vantagem de poder escrever no meu tempo, a pauta que eu bem entender.

Bom, essa história de falha jornalística que tem seu lado cômico é um cautionary tale a todos nós. Se bem que nossas vós já nos alertavam: “A pressa é inimiga da perfeição”.

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